Hélio Gazu

O ativista à frente d’Os Cabeloduro e do espaço cultural Urbanos

No desenho animado Os Flintstones, Gazoo é um alienígena verde e inventou uma máquina com alto poder de destruição. Por isso, foi enviado de seu planeta para a Terra, com o fim ser castigado pela invenção. Na Terra, ele teria que fazer boas ações para se redimir da tenebrosa criação.
Já no Guará, outro Gazu assume a função de fazer boas obras, não por obrigação ou castigo, mas por amor à cultura, aos artistas, e à cidade. É Hélio Cavalcante Silva, mas responde pelo apelido de “Gazu” desde pequeno, quando começou a ser chamado assim por causa do desenho infantil, e incorporou o apelido ao nome.
Nascido em Brasília, Gazu veio para o Guará ainda bebê e vive na cidade a maior parte do seu quase, meio século de vida. Entre as várias atividades exercidas por ele, destaca-se a de ativista cultural, função que abre espaço social para os efetivos agentes culturais não só em nossa cidade, como em várias cidades do Distrito Federal. Além de cantar na banda de hardcore e punk rock Os Cabeloduro. O nome da banda foi escolhido a princípio para sair do trivial da época, onde as bandas usavam nomes mais pesados, eles procuravam algo mais engraçado e divertido, e também devido às raízes afrodescendentes dos integrantes. A falta de concordância verbal foi proposital para facilitar a sonoridade do nome.
Os CabeloDuro
A banda composta por Hélio Gazu – vocal; Daniel Quirino – bateria; Guilherme Fernandes – baixo e Ralph Sandela – guitarra; tem 4 álbuns autorais lançados nesses quase 30 anos de existência, e outros projetos como EP’s e coletâneas lançados internacionalmente. O estilo estrondoso de se apresentar expressa através de suas letras as ideologias dos membros da banda com relação as ideias políticas, problemas sociais e sexo; podendo, muitas vezes, chocar quem não conhece o estilo, mas os fãs são fiéis e mesmo os de fora do Brasil acompanham a banda, compram Cd’s e são participativos.
“Optamos por manter nossas origens, sempre falando sobre o que pensamos, mesmo que não agrade muita gente. Hoje o que faz pensar não vende, não está no mercado. O que tem aí é um rock que tem sua clientela, mas não te faz pensar sobre o que está acontecendo no mundo”, destaca o líder da banda Hélio Gazu. Para ele, a música tem um alto poder de influência e deveria ser usada para motivar os ouvintes a tal ponto de levá-los para a rua em uma manifestação, por exemplo, tirar o cidadão a apatia.
Na opinião do artista, o mercado musical está tão corrupto e medíocre que é praticamente impossível um músico se sustentar unicamente de seu trabalho – apenas uma minoria da classe consegue esse proeza. “Não tem nada a ver com talento, tem a ver com jabá (suborno), influências. Desde os anos 80 isso já acontecia, a gente tinha que pagar pra tocar nas rádios”, afirma. “Próximo dos anos 2000 com o advento da internet muita coisa mudou, o cenário democratizou porque os próprios artistas conseguem disseminar o seu trabalho sem precisar de grandes veículos de comunicação que às vezes não abrem espaço para os artistas pequenos.”
Urbanos
Fundamentado no conceito de valorizar os artistas de todas as classes – seja ele ator, pintor, dançarino, músico, fotógrafo, poeta, literário etc – Hélio Gazu e os amigos Expedito Veloso, Fernando Neto criaram no final de 2016, o Observatório Urbanos, um local destinado aos moradores do Guará, sejam eles artistas ou não. “É um lugar é um espaço cultural, de diversidades, um espaço de esquerda, progressista e um espaço de resistência”, esclarece.
Localizado na QE 13 conjunto J casa 13, o local serve de observação e assistência para a cena urbana e seus manifestantes, “observatório no sentido de notar a sociedade como um todo, observar os novos e antigos modelos sociais, e não só observar, como também utilizar o espaço para conversas, debates, roda literária, e demais manifestações culturais”, explica o artista.
A casa é a primeira do Guará voltada para este segmento, e está aberta de segunda a segunda para toda comunidade que quiser conhecer, conversar, ler e participar de alguma forma. Artistas de outras cidades também compõe o cenário e ajudam a enriquecer o Observatório. A casa está disponível tanto para pequenas manifestações como ponto de encontro entre amigos, aulas de yoga e capoeira, quanto para eventos de grande porte como sarau, exposição de arte e fotografia, palestra e apresentação de dança.
No dia 2 de setembro acontecerá no Observatório Urbanos a Virada do Cerrado, que antes acontecia na rua e por decisão do Comitê Criativo do Guará, esse ano o evento será realizado na casa. A temática desse ano é a Água, alunos da rede pública participarão e também artistas da cidade, debatendo e aprendendo formas de usar, economizar, reutilizar, e conservar esse bem precioso, através de contação de histórias, músicas, palestras, apresentação cultural e interação com o Palhaço Verde. A comunidade está convidada a participar e no dia 26 de agosto acontece um sarau anarcopoético às 19h.
“O Guará é um celeiro cultural, existe na cidade uma energia e uma sinergia muito grande, existiam bares nos anos 80 que tinham essa linguagem cultural, depois os espaços públicos recebiam muitos artistas nas praças, e agora está voltando com força total não só com o Observatório, mas com o Taberna, o Ciriguela, Zepellin, que são pontos de encontro entre a galera que ama cultura”, conclui o ativista cultural.