Diane Galdino, uma missionária que nasceu para ser diferente

Por acreditar em um mundo justo e igual para todos, ela tem dedicado sua vida em favor dos necessitados

Outubro é muito especial para os religiosos, pois nele é celebrado o mês da missão – ou o mês do missionário. Uma representante que há muitos anos tem se destacado na comunidade guaraense, é a missionária rogacionista Diane Galdino, idealizadora do Centro Socioeducativo Santo Aníbal Maria, no Pólo de Modas do Guará 2. O Centro nasceu há cerca de oito anos, a partir de iniciativas de pessoas da comunidade sensíveis à realidade de exclusão social, que tinham como base o testemunho de Santo Aníbal Maria, pai dos pequenos e pobres.

A missionária rogacionista é uma pessoa consagrada secularmente, ou seja, o indivíduo é consagrado na pobreza, na castidade, na obediência e no carisma do Rogate. “Uma vida de plena doação”, simplifica a missionária Diane Galdino. “Nossa vida deve ser como uma vela, ela só tem sentido se estiver acesa, iluminando a escuridão e, consequentemente se gastando aos poucos. A vida de um missionário deve ser da mesma forma, se gastando pelo próximo e por uma sociedade fraterna, mais justa e sustentável”, completa.

Diane Galdino é brasiliense e vive no Guará desde os quatro anos de idade. De família simples, tradicionalmente católica e sobrinha de padre; desde a adolescência a compaixão pelos menos favorecidos tocava-lhe o coração, o que a impeliu a procurar meios para ajuda-los. Fazia parte de projetos na igreja e também da Pastoral da Criança onde obteve acesso direto às famílias mais carentes da cidade e pode exercitar seu dom de compaixão, o que mais tarde Diane descobriu ser sua missão.

Enquanto a maioria das garotas de sua idade estavam curtindo as bandas famosas do momento ou envolvidas com namoricos e moda, Diane sentia que era diferente. Procurava doações de legumes e verduras no comércio do Guará para junto com as famílias carentes fazerem refeições saudáveis para eles. Também ensinava pintura em tecido, bordado e crochê para as mulheres destas famílias, incentivando-as a produzirem panos de prato para serem vendidos, gerando renda para aquelas famílias.

Envolvida em diversas causas sociais onde quer que fosse, ainda na adolescência Diane foi muito influenciada por Dom Hélder Câmara e Dom Pedro Casaldáliga, líderes de destaque na igreja católica, que a motivaram através de suas mensagens a prosseguir em defesa de um mundo justo e de igualdade para todos. Quando a família e os amigos notaram que a garota não seguia o fluxo de uma vida comum (namorar, casar, ter filhos etc), estranharam, mas logo que entenderam a responsabilidade e a compaixão que ela trazia dentro de si, acolheram seus ideais e até hoje apoiam suas decisões, mesmo as mais radicais.

Na faculdade de Filosofia, a jovem visionária, se envolveu com programas sociais e com a alfabetização de jovens e adultos. Depois da faculdade, cursou pós-graduação em Política e Gestão no terceiro setor, Psicopedagogia e Administração Escolar, temas relevantes para a construção do conhecimento que ela almejava seguir na vida.

De repente Diane se viu totalmente envolvida com projetos que abrangiam crianças em situação de rua, e consequentemente suas famílias. Viajou por um período em uma missão para dar assistência às comunidades ribeirinhas no Amazonas, e também em áreas rurais no interior da Bahia e do Maranhão. Ensinando e orientando as comunidades mais distantes, e muitas vezes carentes, da importância do empoderamento – participação de cada indivíduo sobre os direitos sociais e civis – e também colaborando na formação de lideranças comunitárias. “É importante despertar nas pessoas a ideia da dignidade humana e a não dependerem do assistencialismo para sempre”, destaca a Diane, “essa dinâmica de pessoas dependentes não é saudável, as pessoas precisam ter conhecimento dos seus direitos. Saúde e educação é para todos, não é favor”, conclui.

Para ela, as classes menos favorecidas já estão acostumadas a serem tratadas com falta de dignidade e falta de “humanização”, como define, e essa prática deve ser abolida porque todos os seres humanos devem ser tratados com afeto e respeito. “As pessoas se acostumam a madrugar para tentar uma vaga no médico, acostumam a não serem ouvidas, acostumam com a situação precária, isso tem que mudar”, alerta Diane.

Atualmente a missionária segue em sua vida simples, em todos os sentidos, especialmente no quesito dinheiro e luxo. O pouco que tinha – um carro popular – ela doou para quitar despesas do Centro Socioeducativo no qual é a responsável legal. “Para mim basta estar vestida, com um calçado nos pés, ter um local para dormir, não me importo com quantidade de bens, me importo com o ser humano, com meu próximo. Do que adianta ter 40 pares de sapatos no meu armário se não consigo usá-los todos de uma vez!”, ressalta Diane. O lado ambicioso ela prefere focar em projetos sociais.

Quanto não está no Centro Socioeducativo, a missionária auxilia outros projetos fora do Distrito Federal, “minha casa é o mundo”, esclarece. Ela vai onde é chamada e acaba de retornar para o Guará após um período por Curitiba, Bauru e São Paulo.