Operação contra ambulantes

Fiscalização retira ambulantes, principalmente de hortigranjeiros, das praças e da via contorno do Guará II. Administração promete continuar a repressão para evitar que retornem

Se por um lado a crise econômica, que ceifou milhões deempregos, empurra um batalhão de desempregados para a informalidade, por outrolado é o comércio que sofre com a concorrência desleal de quem vai pra ruasobreviver mas sem pagar impostos, aluguel e as obrigações com o estado. E aseconomias baseadas nos pequenos negócios, como é o caso do Guará, são as quemais sofrem com essa concorrência. Em abril, o Jornal do Guarápublicouuma reportagem em que mostrava os danos do comércio ilegal às empresaslegalmente estabelecidas, principalmente nas praças e ao redor da FeiraPermanente. A reclamação dos comerciantes surtiu efeito nesta semana, quandofoi deflagrada uma operação para acabar com o comércio ilegal na cidade.

Provocada pela Administração Regional, com o apoio daSecretaria de Desenvolvimento Econômico e da Agência de Fiscalização (Agefis),da Vigilância Sanitária e da Polícia Militar, a operação recolheu bancas dehortigranjeiros nas praças e às margens da via contorno do Guará II, e retiroucerca de 80 ambulantes nas proximidades da Feira do Guará.

De acordo com o administrador regional André Brandão, após aretirada dos ambulantes das ruas será feito um monitoramento permanente paraevitar que esse comércio retorne. “Estava havendo um desequilíbrio no comércio,entre os tinham custos e os que não tinham. Se continuasse assim, seria melhoro empresário fechar o seu negócio e também ir pra rua”, diz ele. A operação éelogiada pelo presidente da Associação Comercial do Guará (Acig), DeversonLettieri, que vem reclamando dessa concorrência há vários anos. “Finalmenteencontramos um administrador regional que teve a coragem de enfrentar oproblema. Também foi importante o apoio do novo secretário de DesenvolvimentoEconômico, Vandir Oliveira, que na sua posse já havia prometido combater ocomércio informal”, conta.

Foram retirados cerca de 150 comerciantes informais nestaprimeira fase da operação, mas outros devem ser retirados durante o final desemana, quando outros ambulantes montam suas bancas nas proximidades desupermercados e da feira, ocupando vagas de estacionamento  e colocando a saúde da população em risco.

Concorrência aos
supermercados

Um dos ramos mais prejudicados era o de supermercados. Napraça da QE 15 uma grande feira de hortigranjeiros se formou para aproveitar afrequência do Supermaia, e outra na praça da QE 30 para concorrer com osupermercado Dona de Casa.

Na reportagem do Jornal do Guará de abril, o presidente daAssociação Comercial do Guará, Deverson Lettieri, reclamava  da atuação da fiscalização aos ilegais, paraele  muito diferente para o comerciantelegalmente estabelecido. “Quem está desenvolvendo sua atividade corretamente,tentando sobreviver à crise, gerando empregos e renda para a cidade, afiscalização é presente. E para este comércio inadequado, imoral e inapropriadoque se espalhou por toda a cidade? Quem toma providência? Não tenho vistonenhuma ação do governo neste sentido”.

Quem também reclamava erao presidente da Associação de Feirantes da Feira do Guará, Cristiano Jales, daquantidade de ambulantes nas proximidades. “Tem biscoito, queijo, eletrônicos, plantas, roupas, frutas,refrigerantes, refeições, brinquedos, tem de tudo. Tudo que o feirante oferecedentro da feira pode ser comprado no estacionamento, obviamente por um preçomenor, já que o custo é também bem menor”. Segundo ele, a fiscalização nãoaparecia na Feira há pelo menos um ano e os ambulantes se proliferaram semcontrole. Sem receita e sem fé na mudança, os próprios feirantes pararam depagar as taxas ao poder público, também sem punição. “Hoje,  mais de 80% das bancas devem a taxa deocupação de área pública, pelo menos 48% estão em débito com a associação degerencia a feira. Estamos sem condições de pagar as contas de água e energia,sem contar a folha salarial” desabafa Cristiano. Mesmo sem aumentar a taxa deR$240 mensais nos últimos cinco anos, a associação tem uma dívida, herdada degestões anteriores, de quase R$ 2 milhões e não consegue liquidez nem paramanter o funcionamento da feira. “O Governo nos abandonou, ninguém paga mais astaxas porque não há punição. A Administração até interditou quatro bancas noúltimo mês, mas as ações são pontuais e não contínuas. Logo depois o problemavolta”, reclamava.

Custos dos legais

Para abrir uma empresa,além de passar pela via crucis burocrática, é necessário desembolsar uma boaquantia em taxas e impostos. Além dacontratação de um escritório de contabilidade, o empresário ainda precisa pagarpelo local onde sua empresa está instalada. Contas como o Imposto TerritorialUrbano, o IPTU, contas de água, luz, telefonia, condomínio e o aluguel ou taxade ocupação se o imóvel não for seu. Além de tudo isso, arca com os tributostrabalhistas e os impostos sobre cada serviço ou produto vendido. Mas, e quemvende na rua?

Enquanto os bares erestaurantes da cidade pagam seus impostos e são constantemente cobrados paraestarem quites com a documentação, em qualquer praça do Guará podia se  encontrar pessoas vendendo churrasquinhos eoutros lanches livremente. Os seus clientes ainda insistem em utilizar obanheiro dos restaurantes instalados regularmente.

Além dos restaurantes,lojas de eletrônicos, principalmente componentes para carros também sofre. Emfrente às principais elétricas automotivas do Guará, no Setor de Oficinas, erapossível ver montadores instalando componentes na grama. Com cadeiras, tendas eaté mesmo piso cimentado, ocupavam o gramado em frente à Avenida Contorno semserem incomodados até então.