Família de videntes do Guará extorquia clientes

Mãe de santo, filha, filho e nora continuavam extorquindo vítimas mesmo depois dos serviços contratados, atendendo a ameaças de “entidades”. Quadrilha atendia na QE 13

Uma família de videntes que extorquia clientes com a promessa de falsos serviços espirituais foi presa nesta terça-feira, 26 de maio, por agentes da 4ª Delegacia de Polícia do Guará. Durante a operação Metis 2 (deusa da prudência da mitologia grega), foram presos em flagrante Vera Lúcia Nicolitch, 52 anos, seu filho Diogo Nicolitch Luiz, 31 anos, e a nora Luana Nocolete (mulher de Diogo), 32 anos, por crimes de organização criminosa, extorsão circunstancial e estelionato em continuidade delitiva. Os três estavam sendo investigados desde o início de maio, mas a polícia buscava mais provas para prendê-los.

Os crimes eram continuados, porque não se encerravam com o recebimento pelos falsos serviços espirituais prestados. A quadrilha convencia as vítimas de que era necessário continuar os serviços, que seriam recomendados pelos espíritos incorporados pela mãe de santo Vera Lúcia.

Viviane Nicolitch
Vera Nicolitch
Diogo Nicolitch
Luana Nicoleti

Extorsão

A investigação começou a partir da denúncia de uma moradora do Guará, de 47 anos, que procurou Vera em agosto de 2019 para a realização de um serviço do tipo “amarração para o amor” – ela havia se separado do marido e queria trazê-lo de volta -, por R$ 1,5 mil, pagos em espécie, com o início do serviço marcado para o dia seguinte.  Durante a primeira sessão, Vera teria simulado a incorporação de uma entidade espiritual denominada “Exu Tranca Rua”. Luana, que acompanhava a sessão e a simulação de Vera, aconselhou a vítima a não desafiar a entidade, porque outras dez entidades que trabalhariam para “Exu Tranca Rua” queriam levar a filha dela. Para evitar o sequestro da filha, a vítima teria que pagar R$ 11 mil para cada entidade sócia do exu.

Temendo pela vida da filha, a mulher entregou à quadrilha mais R$ 5 mil em espécie e outros R$ 6 mil através de uma máquina de cartão que foi apresentada por Diogo.

Mesmo após os pagamentos, a vítima, continuou sendo chantageada pela família até abril deste ano com ameaças que estariam sendo transmitidas pelas entidades. De acordo com a vítima, foram cerca de 15 encontros com Vera, ou com sua filha Viviane, que também se apresentava como mãe de santo, quando era convencida a entregar mais dinheiro e bens materiais para que o serviço contratado fosse concluído. Entre as oferendas pedidas pelas entidades, a vítima entregou à quadrilha 18 perfumes franceses de diferentes marcas, mais de 500 garrafas de cerveja Heineken, roupas masculinas da Via Veneto e TNG (ambos eram ternos da cor grafite completos, inclusive com colete), 8 garrafas de whisky Johnnie Walker e Double Black, 19 espumantes da marca Chandon, rosas diversas, cravos vermelhos. Entre produtos e dinheiro, a família teria recebido cerca de R$ 24 mil em oito meses de “serviços” da cliente.

Delegado João Ataliba

Mais vítimas

No cumprimento de mandado de busca realizado nesta manhã na QE 13 do Guará II, além do dinheiro e dos objetos, a polícia encontrou procurações de veículos e de imóveis passadas para a quadrilha, cheques no valor de R$ 46.700,00, diversos frascos de perfume, bolsas de grife, relógios e joias, supostamente de outras vítimas

. Também foram apreendidos cartazes e panfletos anunciando a realização de serviços espirituais.

Além dos presos, Viviane Nicolitch, 33 anos, filha de Vera e irmã de Diogo, também é investigada como integrante da organização criminosa e é acusada de realizar supostos atendimentos espirituais. As mães de santo se apresentavam como “Irmã Vera”, “Irmã Vivian” e “Dona Luana de Oxum” e atendiam na própria residência delas, na QE 13.

“Acreditamos que existem outras vítimas da quadrilha, mas elas precisam procurar a polícia para reconhecer os autores, para que possamos completar o processo”, pede o delegado João Ataliba.

Somente com as penas dos crimes apurados de lavagem de dinheiro, a família pode pegar até 33 anos de prisão.