Casa de Passagem reintegra famílias à sociedade

Instalada no conjunto Q da QE 15 desde abril deste ano, a Casa de Passagem do Guará tem capacidade de abrigar até 30 pessoas em situação de vulnerabilidade. A instituição na cidade tem o objetivo de abrigar famílias inteiras, e não indivíduos, para manter o núcleo familiar. Por isso, a maioria dos hóspedes são crianças e mulheres (os homens das famílias representam menos de 20% dos hóspedes). Na entrada da casa é possível ver um estacionamento de carrinho de bebês. Desde a sua inauguração, já passaram por lá 14 bebês e 18 crianças.
Parte dessas famílias já foi reintegradas à sociedade. Quatro delas conseguiram passagens, documentos e condições para voltar ao Estado de origem, próximos às suas famílias.

Uma casa completa

Na nova casa, além de não se separarem, estas famílias recebem alimentação saudável, uma cama quentinha, acesso a escolas, assessoria jurídica e apoio psicológico. As famílias podem ficar ali por até três meses. Essas famílias são selecionadas por uma rede composta de órgãos públicos de assistência social e organizações civis. Só estão aptas a hospedarem-se na casa as famílias que consigam manter a rotina e seguir as regras do local. As crianças devem voltar a frequentar a escola. Há uma sala de televisão e um terraço para momentos de lazer. No terraço também é onde os beneficiários podem lavar as roupas pessoais e roupas de cama e banho. Afinal, quem está na casa participa ativamente das tarefas domésticas, da lavagem da louça à faxina. No refeitório do térreo, as famílias recebem 5 refeições diárias, em escala montada para manter o afastamento recomendado durante a pandemia.
“A Casa de Passagem deve ser uma casa como as outras, mas com mais regras para que nada saia do programado. Não é um comércio, não recebemos pessoas individualmente. Acolhemos famílias e por isso, precisamos estar integrados à comunidade”, explica Regina Almeida, presidente do Instituto Tocar, responsável pelo serviço no Guará.

Instituto Tocar conta com uma rede de apoio na cidade. Na foto o gerente de Cultura da Administração do Guará, Julimar dos Santos, a psicóloga Annalya Garcia, a presidente do Tocar, Regina Almeida e o educador social Everardo de Aguiar
Polêmica

Regina se refere à necessidade de que a comunidade entenda o papel da Casa de Passagem e porque está em uma área residencial. “Aos poucos, os vizinhos vão entendendo, e até colaborando. Recebemos muito apoio de moradores próximos, que entendem o trabalho de reduzir a dor social dessas pessoas. Abrigamos grávidas e crianças, então é natural que precisemos acionar o Samu eventualmente, o mesmo acontece com a polícia, que tem nos ajudado sempre que precisamos”, completa a psicóloga.
O anúncio da abertura da Casa da Passagem na QE 15 gerou uma resistência dos moradores do conjunto. Um abaixo assinado foi protocolado na Administração Regional do Guará com assinaturas de moradores do conjunto. Os moradores afirmam que entendem a importância do trabalho do Instituto, mas o local onde está instalado contraria a legislação urbanística.
O Instituto Tocar argumenta é preciso estarem próximos à sua rede de apoio, que é o CREAS, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social, a Delegacia de Polícia, e ao Posto de Saúde, além de estarem inserido em uma comunidade, com seus vizinhos e comércios. “O mais importante é reintegrar essas famílias à sociedade. Para isso, oferecemos tratamento psicológico, encaminhamento aos serviços de saúde, vamos atrás dos documentos das pessoas para que essas pessoas possam retomar a sua autonomia”, explica a psicóloga Annalya Garcia, coordenadora regional do Instituto Tocar. Os adultos recebem capacitação em diversas áreas, e são encaminhados ao mercado de trabalho. Tudo para que possam estar reintegrados após os três meses de estadia. Aos casos de alcoolismo e outros vícios comuns em pessoas vulneráveis é dada atenção especial, com ajuda do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas do Guará (Caps).
Para a psicóloga e presidente do Instituto Tocar, Regina Almeida, a comunidade vai entender que o Instituto não vai interferir em suas rotinas e acabará por ajudar estas famílias acolhidas. “Entendo a preocupação das pessoas e tive a oportunidade de conversar com algumas delas. Acredito que são pessoas generosas que vão nos apoiar muito. Não recebemos qualquer um que aparece em nossa porta, e nem doamos alimentos ou dinheiro aqui. Recebemos famílias que passaram por triagem cuidadosa, que foram selecionadas e apenas querem uma nova vida. Integrá-las a uma comunidade é a melhor forma de fazer isso. Conto com a solidariedade de todas as famílias das proximidades para conseguirmos ajudar essas pessoas”.