O físico é rigorosamente o mesmo de sempre – esguio, sembarriga, passos firmes… E sem rugas.Nem os cabelos totalmente brancos denunciam os 65 anos de José Neres Oliveira,um dos primeiros e principais líderes empresariais do Guará. Ex-presidente daAssociação Comercial e Industrial do Guará (Acig) e influente no meio políticonas décadas de 80 e 90, Neres, como é mais conhecido, há muitos anos deixou departicipar da efervescência política e social da cidade e hoje prefere sededicar aos negócios, à mulher e aos filhos e neta. E, claro, ao hobbypreferido, a pescaria.
A história de Neres com Brasília e o Guará começou em 1970,quando ele teve que deixar a sua Aragarças (divisa entre Goiás e Mato Grosso)para continuar os estudos. Filho mais velho dos 13 irmãos de seu José Cândido edona Eva, saiu de casa aos 17 anos e veio morar num pensionato na 409 Sul. Se aaventura desse certo, abriria caminho para a família – os pais e oito irmãosvieram depois, o que comprovou o acerto na decisão.
Dois anos depois de Asa Sul, Neres foi sondado por um amigoque sabia de um emprego que exigia um rapaz “jovem e honesto” para gerenciar oúnico posto de combustível que existia no Guará na época, na QI 20 do Guará I.Mesmo sem saber nada do ofício e pouco conhecedor da cidade, resolveu topar odesafio. Naquela época, o Guará parecia longe pra ele. “Imagine trocar aconsolidada Asa Sul pra trabalhar e morar numa cidade que estava em construção,sem quase nada para oferecer?”, perguntavam seus amigos.
O rapaz jovem ehonesto caiu nas graças do dono do posto, o empresário Laudemir (Ladim) Roriz,primo do ex-governador Joaquim Roriz. “A confiança era tanta, que ele passavamais de mês sem ir ao posto. Eu que ia a Luziânia prestar contas”, diz. ComLadim, foram quase sete anos, até que o posto foi adquirido por um dos diretores da Shell no DF, Manoel deSousa (falecido há dez anos), que viria a ser um dos presidentes da Acig e donodo edifício Guará Office, da QI 11.
Novo patrão
Como imaginou que seriademitido com a transferência do negócio, Neres tratou de garantir suasobrevivência: associou-se ao borracheiro do posto, seu Manoel “Didi” Borges eseu filho Carlos Girotto e criaram a Pneus Borges, na QE 24, que era na época aúnica revendedora de pneus e a única balanceadora e alinhadora da cidade. Mas,Manoel de Sousa não aceitou que ele saísse e ainda aumentou seu salário eofereceu um lugar para morar, numa casa na QI 3. “Eu até então achava que tinhaum bom patrão, mas encontrei outro melhor ainda”, conta.
Sousa tratava Neres quasecomo um filho. Foi seu padrinho de casamento, em 1979, e ainda deu ao casal umalua de mel de uma semana no Rio de Janeiro, com tudo pago. Mas, aresponsabilidade também aumentou: além do posto, Neres passou aadministrar três casas lotéricas – duas no Guará e uma na Asa Sul -, e outroposto em Valparaízo, também do empresário
Até que em 1985, Sousa resolveu investir numa revendedora decarros usados, no terreno adquirido em frente ao posto, onde está hoje oedifício Guará Office, e convidou Neres para administrar o novo negócio edeixasse os outros. “Aí achei que estava na hora de tocar meu próprio negócio,a loja de pneus na QE 24, que estava crescendo”. Como um dos diretores da Acigna época, foi um dos coordenadores da criação do Setor de Oficinas do Guará(Área Especial 2ª), onde adquiriu um lote da Terracap para pagar em 72 prestações. Dez anos depois, desfez a sociedade comCarlos Borges e criou a Neres Centro Automotivo, na metade do prédio. Mas, uma aposta numa filial na recém criadaÁrea de Desenvolvimento Econômico (ADE) de Águas Claras quase o levou àfalência, que o fez perder uma confortável casa no condomínio Ponte Alta,próximo ao Gama. Foi a senha para deixar a agitava vida social que levava paradedicar-se somente aos seus negócios e à família. Deixou também a Maçonaria e oRotary Clube do Guará, onde foi presidente em 1994, gestão que ficou marcada pela aquisição do terreno e início dasobras da sede do clube, na QE 38.
Pescaria, o hobby
que continua
Dos hábitos antigos –farra com os amigos, festas e movimentos sociais e políticos – ficou apenas apescaria. “Não abro mão de pelo menos uma por mês”, conta. Mas, diferente das farrascom grupos nos rios, Neres ficou apenas com a companhia do genro. Quando nãopodem sair de Brasília – já foram ao Xingu, Araguaia, Ilha do Bananal … -,eles vão mesmo para o Lago Paranoá, quando ficam um domingo inteiro, mesmo queseja para trazer apenas três peixes.
Além da pescaria, afamília costuma viajar junta entre duas a três vezes por ano, viagenspatrocinadas pelos filhos Bruno e Marcos. Neres resolveu desalecerar também suavida empresarial. Durante o dia, cuida da Neres Centro Automotivo, mas não temmais hora para chegar no trabalho. “Às vezes prefiro ficar na piscina do prédioaté um pouco mais tarde”. À noite, ajuda a esposa Daisy no restaurante Odara emÁguas Claras, próximo de sua casa. Às segundas, quando o restaurante fecha, vaiao cinema ou passear no shopping com a mulher e não deixa de ir pra academia.
“Já fiz o suficiente.Agora, quero curtir a vida, sem esquentar a cabeça”, ensina Neres, talvez osegredo da sua jovialidade aos 65 anos.