João Paixão de Lima foi um dos primeiros líderes comunitários do Guará – criou a primeira Prefeitura Comunitária da cidade, na QE 36 – numa época em que liderança comunitária não tinha interesse político e realmente representava os moradores. Hoje, aos 69 anos, Paixão, como é chamado, continua participando dos movimentos sociais e políticos da cidade e é o atual presidente do diretório local do PSDB.
Pernambucano de Serra Talhada, Paixão teve que deixar a terra natal quando tinha apenas dois anos de idade para acompanhar o pai e os 11 irmãos rumo à Itapetinga (Bahia) para fugir de uma seca que acometia a região do agreste havia três anos. No interior da Bahia, a família ficou por quatro anos, até o pai morrer, em 1959. Antes, dois dos irmãos mais velhos tinham voltado para o Pernambuco e depois vieram para Brasília em busca de emprego na construção civil. Um ano depois, já empregados e com a morte do pai, resolveram trazer toda a família para a nova capital do país que estava sendo construída.
Inicialmente, a mãe e os irmãos foram acomodados numa casa de madeira na 4ª Avenida da Cidade Livre (Núcleo Bandeirante) onde é hoje a Metropolitana. Lá, Paixão passou a frequentar a igreja católica Dom Bosco e foi o primeiro coroinha (ajudante do padre durante a missa) do padre Roque. A greja era de madeira, como também a Escola Dom Bosco, onde estudou. Para ajudar no sustento da família, ele vendia bolos feitos pela mãe nos canteiros de obras do Plano Piloto. Já maiorzinho, foi vender calçado numa banca do Mercadão do Núcleo Bandeirante.
Na 109 Sul e Taguatinga
Quando um dos irmãos foi promovido a mestre de obras de uma empreiteira que construía apartamentos funcionais, a família foi morar num acampamento de trabalhadores na 109 Sul. Era também um alojamento de madeira, onde somente moravam chefes e diretores de empreiteiras. Por lá, ficaram dois anos e a família foi morar em Taguatinga, onde Paixão passou toda a sua adolescência. “Foram bons tempos, dos bailes nos clubes Primavera, Clube dos 200 e CIT, e das peladas nos campos de terra batida”, conta Paixão, com visível saudade.
Depois de servir à Aeronáutica, ele trabalhou na Olivetti, Cruzeiro do Sul (companhia aérea que pertencia à Varig) e no Ministério da Educação. Em 1979, passou num teste para motorista do Senado, onde trabalhou com os senadores Luis Viana Filho, da Bahia, por 13 anos, e depois com Mauro Benevides. Ainda quando estava no Senado, montou um restaurante no Setor de Autarquia Sul, que era administrado pela mulher Iolanda, com quem teve três filhos, Luciano, Marco Aurélio e Carlos Henrique.
Como gostava de futebol, Paixão resolveu fazer um curso de árbitro e foi bandeirinha durante alguns anos do futebol profissional do DF e chegou a ser presidente do Sindicato dos Árbitros do DF em 2002, quando foi chamado para trabalhar na campanha política de José Roberto Arruda ao Senado – na época, um dos filhos, Luciano Lima, já trabalhava no Metrô, indicado por Arruda, que era o secretário de Obras do Governo Joaquim Roriz.
Morador do condomínio Bernardo Sayão, abaixo do Polo de Moda, aposentado do Senado desde 2002, Paixão dedica seu tempo aos quatro netos, à política – é um dos cabos eleitorais do pré- candidato a governador Izalci Lucas -, e ao futebol e sinuca no Clube dos Amigos às quartas e sábados.
Por um representante do Guará
Como um dos mais ativos e antigos líderes comunitários da cidade, Paixão nutre o sonho de ver a cidade novamente eleger um morador do Guará para o Legislativo – os últimos foram Alírio Neto em 1998 e Rodrigo Delmasso em 2014. “É inconcebível que uma cidade com mais de 120 mil eleitores não consiga se unir para eleger um deputado distrital (Delmasso foi eleito com os votos da igreja Sara Nossa Terra). Precisamos reunir as lideranças locais e pensarmos mais nos interesses da nossa cidade e fecharmos com um nome que represente o Guará”, afirma. Crítico do esvaziamento das administrações regionais, Paixão dispara contra o fisiologismo que loteia as regiões administrativas entre os deputados distritais, “O administrador hoje é apenas um capacho do seu padrinho político e até para o roçar o mato das áreas públicas precisa de pedir ajuda para recorrer à Novacap. E quando um deles se destaca, como aconteceu com André Brandão, é retirado por ciúmes de seu padrinho. Isso tem que acabar”, finaliza.