Depois de ficar internada na UTI por quase dois meses e já há algum tempo vir lutando contra algumas complicações de saúde, morreu a ex-administradora regional do Guará e de outras duas cidades, ex-secretária de Administração no Governo Roriz, de quem era amiga pessoal, e ex-colunista política do Jornal do Guará, por onde ficou conhecida no meio político por suas posições e opiniões firmes, o que lhe abriu as portas para uma carreira no governo.
Márcia Fernandez começou a ficar conhecida do meio político em 1978, quando foi candidata a deputada federal para cumprir a cota de 20% de mulheres exigida pele Lei Eleitoral nas eleições. Mesmo sem qualquer pretensão de ser eleita, ela ficou marcada pela frase de campanha “Sou Márcia, sou você!”, até hoje lembrada por muita gente. Como uma das fundadoras do Movimento Democrático Brasieiro (MDB), que se transformou no PMDB (agora MDB), seu começo na política de forma mais contundente aconteceu durante a eleição constituinte de 1988, durante a campanha pelas Diretas Já! e pela introdução da representação política do Distrito Federal. “Em parceria com a Associação Comercial do Distrito Federal, presidida por Lindberg Aziz Cury, percorremos em todos os gabinetes do Congresso pedindo apoio pelas duas causas”, contou a aposentada, mas inquieta, Márcia Fernandez, em entrevista ao Jornal do Guará no ano passado.
Por sua amizade com o também ex-administrador regional do Guará, Divino Alves, Márcia teve muita influência no PMDB, onde passou a ser mais respeitada ao ser eleita presidente da Zonal do Guará, num embate histórico contra os interesses e o grupo do agora presidente regional do partido e ex-vice-governador Tadeu Filippelli. “Fui desafiada por Filippelli, Luiz Estevão e Fábio Simão, que controlavam o partido, mas consegui vencer”, afirmava.
Cargo no ministério
Antes, por sua militância atuante no partido, foi secretária adjunta da Secretaria de Planejamento do Ministério da Justiça, na gestão de Paulo Brossard como ministro, quando foi responsável pela entrega de centenas de viaturas policiais a prefeituras de todo o país, do programa “Mutirão contra a Violência”, de 1986 a 1988. Em 2002 foi convidada pelo governador Joaquim Roriz para assumir a Administração Regional do Guará, onde ficou dois anos, substituída por Heleno Carvalho. A experiência lhe valeu o convite para assumir como adjunta a Secretaria de Coordenação das Cidades (Sucar), onde logo depois foi efetivada como secretária, quando acumulou o cargo como administradora interina da recém-criada Administração Regional do Varjão, disputada por lideranças locais e grupos políticos. De lá, foi destacada pelo governador Joaquim Roriz para assumir a Administração Regional de Samambaia, que estava em pé de guerra entre as lideranças locais pelo espólio do cassado deputado distrital Carlos (Adão) Xavier, que controlava politicamente a cidade. “Foi minha melhor experiência administrativa, porque o desafio era apaziguar um monte de interesses, o que consegui”, garantiu ela à reportagem. Mas, após dois anos e meio como administradora de Samambaia, resolveu sair do governo para apoiar a candidatura José Roberto Arruda. Eleito, Arruda a convidou para assumir e estruturar a recém-criada Administração Regional do SIA, onde ficou oito meses, e foi coordenar a implantação das feiras, com a retirada dos ambulantes da Rodoviária e do Setor Comercial Sul.
Depois de sair do governo e ficar parada por um tempo, foi convidada pela então secretária Eliana Pedrosa para ser adjunta na Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedest) – depois assumiu como titular após a desincompatibilização de Eliana para ser candidata a deputada distrital. Ainda com a deputada, foi guindada a assessora parlamentar na Câmara Legislativa, até ser obrigada a deixar de trabalhar por causa de um sério problema de saúde que a levou até à UTI.
Quer voltar
Depois que melhorou um pouco da saúde, mas ainda com limitações na alimentação e nos afazeres – foi obrigada a deixar de fumar por recomendação médica -, Márcia se dedicava a cuidar da ampla casa num condomínio no Park Way, onde vivia com os filhos Harrison e Lennon, a nora Gabriela, a neta Beatriz (seu xodó) e quatro cães. Mesmo parcialmente confinada, ela não deixava de acompanhar o que acontecia no mundo político, para onde pretendia retornar a partir das próximas eleições.
Em seu perfil no Facebook ou através das redes sociais do WhatsApp, Márcia não escondia sua inquietação com a situação em que estava vivendo, a ponto de suplicar por uma oportunidade de voltar a trabalhar, ou no meio político ou como educadora, suas duas paixões profissionais. Lamentava também o abandono por boa parte de amigos, principalmente dos políticos com quem trabalhou.
Aposentada como professora da rede pública e como professora universitária da Católica e do Icesp, Márcia foi também consultora na implantação das faculdades de Petrópolis (RJ) e João Pinheiro (MG). Para o Guará, veio em 1968, onde o pai recebeu uma casa da SHIS na QI 2, depois de morar um ano em Taguatinga. Após o casamento com Primo Fernandez, foi morar na QI 4, e depois na QI 18 depois da separação. Com a gravidez da nora, teve que procurar uma casa maior e foi morar no Park Way. “Por mim, nunca teria saído do Guará, terra que amo de paixão, mas a casa lá não cabia todos nós”, lamentava.