O edital 7 de 2018 da Terracap trouxe uma oferta inesperada: a venda de uma grande área ao lado do ParkShopping, que há dois anos era parte do Parque do Guará. Além da venda inusitada a poucos dias das eleições, o preço também causou espanto. A Teracap pede mais de R$ 340 milhões pela área nobre, vizinha a uma das mais belas áreas de preservação ambiental de Brasília. Ainda que a cifra seja alta, é muito mais barato que outros lotes da Terracap em áreas nobres. Nas novas quadras do Guará, metro quadrado vendido pela empresa sai por cerca de R$ 2 mil o metro quadrado, no Noroeste, lotes de 3 mil metros quadrados são vendidos a R$ 18 milhões, ou R$ 6 mil o metro quadrado. A nova área, que será vendida como um único lote, custará pouco mais de R$ 1 mil o metro quadrado, metade do preço das novas quadras da cidade. A licitação estava programada para esta sexta-feira, 28 de setembro, porém um erro na publicação do edital obrigou a Terracap a retirar o item. A licença ambiental citada no edital não era a correspondente ao lote. A Terracap deverá publicar novamente edital num futuro próximo, já que por ser um lote de grandes dimensões e alto valor, as empresas ou consórcios interessados provocaram a empresa para licitar a área.
Localizada na margem da Estrada Parque Indústria e Abastecimento, a Área 28-A é uma das mais bem localizadas no DF, primeiro por estar no principal eixo rodoviário da capital – a Epia se une à BR-020, seguindo em direção ao Norte e Nordeste do Brasil, e à BR-040, em direção ao Sudeste. A Rodoviária Interestadual e a estação do Metrô ficam a menos de um quilômetro, e está a menos de dez quilômetros do Aeroporto de Brasília. Ao lado do futuro novo setor guaraense, está o maior shopping do DF e os principais supermercados e novos prédios residenciais no Park Sul.
A área poderá receber residências e comércios, em prédios de até 26 metros de altura (10 andares). Chamada de 28-A, a área tem quase o dobro do tamanho da Super Quadra Brasília (SQB), na EPTG, que conta com 15 prédios, área de lazer e esporte completo e um shopping.
Os interessados depositaram a caução de R$ 17,12 milhões (5% do total, o restante poderá ser pago em 15 anos) na quinta-feira.
A área
A Lei Complementar 916/2016, alterou a lei 1826/1998, que criou o parque. Mesmo perdendo a Área 28-A, o Parque do Guará cresceu de 304 para 346 hectares. A nova poligonal foi desenhada ainda no governo de Agnelo Queiroz, por uma comissão composta pelo então presidente do Instituto Brasília Ambiental, Nilton Reis, representantes da Administração do Guará e defensores do parque moradores da cidade, chamada de Comissão de Regularização Fundiária do Parque Ecológico Ezechias Heringer.
Além de estar fisicamente separada do Parque do Guará pela pista de acesso ao Parkshopping e pela Estrada Parque Guará, a Área 28-A é alvo de especuladores e do mercado imobiliário há anos. O próprio Governo do Distrito Federal, durante a gestão de Cristovam Buarque, autorizou a limpeza de toda a área, o que destruiu a vegetação nativa, para a instalação de um parque aquático, que seria construído e explorado por um empresário brasiliense da área de informática, amigo e financiador do ex-presidente Lula.
A iniciativa frustrada resultou em um grande lote terraplanado e transformado posteriormente em estacionamento e alvo de invasores, que brigaram na Justiça, e perderam, pelo direito a ocupá-lo. Este foi justamente o argumento do presidente da Terracap, Júlio Cézar Azevedo Reis, durante a audiência na Câmara Legislativa em junho de 2016 para justificar o interesse da companhia na área e propor a troca por outras de maior interesse ambiental e contíguas ao Parque do Guará. “A proposta retira do parque áreas antropizadas e sem vocação ambiental. Por outro lado, acrescenta áreas com vocação ambiental e que não estão protegidas, como campos de murundus, que são propícios à absorção da água e alimentam lençóis freáticos”, explicou Júlio César.
Impactos
Nesta década, toda a região da Estrada Parque Indústria e Abastecimento mudou muito, principalmente na região próxima ao ParkShopping. A Rodoviária Interestadual foi construída, trazendo milhares de pessoas diariamente, o Setor de Oficinas Sul aos poucos tem se transformado em um grande setor residencial e hoteleiro, na outra margem da rodovia, que pertence à Região Administrativa do Plano Piloto, próximo ao supermercado Extra, dezenas de lotes estão sendo ocupados aos poucos. O próprio GDF já negociou alguns deles. Portanto, a área já está em transformação. O aumento da população e do fluxo de pessoas é uma constante e a ocupação da área 28-A apenas vai intensificar uma tendência existente.
Destinação
O governo não cumpriu um dos acordos para facilitar a aprovação do projeto, que era aceitar a emenda parlamentar do deputado Rodrigo Delmasso que proibia a ocupação da área com residências. E roeu a corda após a aprovação. A lei sancionada pelo governador Rodrigo Rollemberg, publicada no Diário Oficial do DF no dia 19 de outubro de 2016, não inclui a emenda. Pior, não apresentou qualquer justifica do veto ao deputado, principal articular da aprovação do projeto na Câmara Legislativa, com a ressalva. Agora, o terreno será ocupado por residências que vão causar um impacto muito superior ao do comércio no trânsito, consumo de energia e águas e no saneamento.
A preocupação das lideranças comunitárias é com os impactos que mais um condomínio residencial tão próximo do Guará venha a provocar no trânsito, principalmente no acesso através da Epia e da Epgu (Guará-Zoológico), e com o adensamento populacional ao lado de uma reserva ecológica tão importante.