Sai governo e entra outro e a principal reivindicação dos moradores do Guará continua não sendo atendida. Com uma população estimada em 145 mil habitantes, a cidade continua carecendo de um bom hospital, que serviria também para atender as comunidades vizinhas, como Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo, Estrutural e Candangolândia. O que é chamado de “hospital” oferece atendimento apenas de um posto avançado, sem, por exemplo, um serviço de emergência mais completo, além de outras especialidades.
Essa carência, entretanto, pode estar com os dias, ou meses, contados. Pelo menos foi dado o primeiro passo, com a destinação de recurso de R$ 2 milhões, através de emenda parlamentar do deputado distrital Rodrigo Delmasso à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019, para a elaboração do projeto do novo hospital da Região de Saúde Centro-Sul.
O hospital será construído na QE 23 do Guará II, no terreno do Posto de Saúde 2, ao lado de posto de combustíveis e em frente à QE 17. De acordo com o projeto elaborado pela Secretaria de Saúde, o hospital terá entre 390 a 420 leitos – o atual HRGu tem apenas 53 leitos.
Para a superintendente da Região de Saúde Centro-Sul da Secretaria de Saúde, Moema Liziane Campos, o novo hospital vai suprir o vazio assistencial da rede de urgência e emergência da população compreendida por Guará, Estrutural, Núcleo Bandeirante, Lago Sul, Candangolândia, Riacho Fundo I e II e Park Way, que tem uma população somada de mais de 300 mil habitentes. “A destinação de recursos para o projeto ainda não é a garantia do novo hospital, mas é um passo muito importante, porque sinaliza a intenção e inicia as primeiras providências”, afirma a superintendente.
Parceria com a iniciativa privada
A construção do novo hospital não teria recursos públicos, de acordo com a proposta apresentada pelo próprio deputado Rodrigo Delmasso no ano passado ao secretário de Saúde, Fábio Lucena. A obra seria custeada pela iniciativa privada, através de Parceria Pública Privada (PPP), ou de Concessão de Obra Pública, modelo que está usado pelo governo no Centro de Convenções e que deverá ser usado também para a revitalização do Complexo do Cave. Mesmo sendo construído e gerido pela iniciativa privada, o hospital será público, no mesmo modelo implantado no ano no Hospital de Base, ou do Hospital da Criança, em que uma empresa ou instituição se responsabiliza pelos custos e o funcionamento, e cobra do governo o repasse pela quantidade de atendimentos. Se dependesse de recursos públicos, a construção do hospital teria poucas chances de acontecer porque o caixa do governo mal dá para o custeio da sua máquina.
De acordo com a proposta, após a construção do novo hospital, o atual Hospital do Guará se transformará numa policlínica ou em uma unidade de tratamento de oncologia. O custo da obra está previsto entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões, comparados a custos de obras semelhantes no país. “A idéia surgiu da manifestação de interesse de uma grande rede de hospitais de São Paulo, que construiu e administra hospitais próprios e outro na cidade de Jaú, que tem atendimento público custeado pelo governo de São Paulo. E devem surgir outros interessados”, explica Delmasso.
Para o deputado, o governo, inclusive o federal, já não dispõe mais de recursos para conseguir atender as demandas da saúde, “por falta de orçamento ou por ineficiência de gestão. A solução é dividir com a iniciativa privada, que, além de tudo, é muito mais ágil nas providências”. O que pode facilitar o andamento do projeto é a disposição do governador eleito Ibaneis Rocha de buscar parcerias na iniciativa privada para construir e administrar espaços públicos que o estado não tenha mais condições de gerir.
As deficiências do Hospital do Guará
Mesmo localizada numa região central, com Vicente Pires, Estrutural e SIA de um lado, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Park Way do outro, e com uma população de quase 150 mil, a cidade do Guará não conseguiu ainda um hospital que pudesse atender pelo menos parte da demanda de toda essa população. O existente está longe disso e é o mesmo implantado há mais de 20 anos, sem qualquer ampliação no período. E de vez em quando ainda corre risco de ter sua atuação esvaziada, como ocorreu no início de 2017, com a notícia de que o Samu estava saindo do hospital e desativando a sala de emergência, o que acabou sendo desmentido, pelo menos em relação à desativação.
Na época, para evitar que a cidade perdesse a emergência, a comunidade se mobilizou, procurou a imprensa e promoveu uma “abraçasso” em torno da unidade, para chamar a atenção do governo e dos moradores para os prejuízos que a medida poderia acarretar. Mas, logo depois a diretora do HRGu, Adriana Benevides Guimarães, explicou que a saída do Samu não representava a desativação da Sala Vermelha, que continua funcionando com a estrutura do próprio hospital, após o remanejamento de profissionais e da agenda de atendimento de outras áreas.
“A saída do Samu não alterou muito o atendimento da emergência, porque a maior parte da estrutura era do próprio hospital. Os médicos plantonistas eram nossos. A diferença foi apenas nos enfermeiros e técnicos de enfermagem, que eram do Samu, o que nos obrigou a um remanejamento interno para repô-los na Sala Vermelha”, explicou a diretora.
A diretora garante que a capacidade de atendimento continuava a mesma da época do Samu, com dois leitos, um médico, dois enfermeiros e dois técnicos de enfermagem no plantão. “Dispomos de 47 profissionais para o atendimento de todo o hospital. Mesmo com um déficit de 15 técnicos e 9 enfermeiros, não deixamos reduzir o atendimento ao público”.
O que teria ajudado na manutenção dos serviços, segundo ela, foi a ampliação do programa Saúde da Família, que já teria alcançado cerca de 50% de cobertura das famílias assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), numa meta de 70% para o DF. “Até 2016, eram apenas 11%. Isso quer dizer que a maior parte desses pacientes não precisa ir mais ao hospital, basta procurar o posto de saúde mais próximo. Com isso, a demanda do hospital caiu consideravelmente, e passamos a atender somente os casos mais graves”, explicou.