Prestes a completar 60 anos, Brasília ainda tem vivos alguns dos pioneiros que ajudaram em sua construção. Um deles é o goiano Orédio Alves de Rezende, cuja história é tema central do documentário “O Legado de um Pioneiro”, que estreia neste sábado, dia 12, em sessão exclusiva para convidados, no Itaú Cinemas, do CasaPark. O filme, dirigido por Rafael Pires e concebido, roteirizado e produzido pelo filho do protagonista, o jornalista Flávio Resende, traz um apanhado dos principais acontecimentos da vida de Orédio, que trouxe a primeira rede de autopeças para a capital da República, em 1958, que se mantém aberta até hoje, na 514 Sul.
Na oportunidade, logo após a sessão, Orédio Alves de Rezende receberá o Título de Cidadão Honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF, proposto pelo deputado Daniel Donizet (PSDB-DF).
Com esta sessão única, o filme, com duração de uma hora, não entra em cartaz nos cinemas. Mas estará disponível no YouTube a partir do dia 1º de novembro.
Sobre a empresa
Pouca gente sabe, mas há empresas em atuação no Distrito Federal, nascidas aqui, mais antigas do que a própria capital. É o caso da Induspina Autopeças, que em junho completou 62 anos de mercado, tendo sido líder em seu segmento, com cinco lojas, por mais de duas décadas (1970 e 1980).
À frente da empresa está o pioneiro Orédio Alves de Rezende, goiano de Pires do Rio, que chegou em Brasília, vindo de Anápolis (GO), em 1957, com a missão de abrir na Cidade Livre o braço (no setor de autopeças) do Grupo Pina, organização goiana em que trabalhava desde os 17 anos, como faxineiro.
Com a posterior ajuda dos sócios Sebastião Feliciano, Antônio Delgado Torres (in memorian) e do irmão mais velho Omélio Alves de Rezende, o jovem Orédio, na época com 22 anos, deixou família e amigos, agarrando-se ao que viria a ser a maior oportunidade de sua vida, capaz de tirar a sua família do estado de privação econômica em que se encontrava à época.
Em 2001, o empresário foi reconhecido e agraciado na primeira edição do projeto Mercador Candango, realizado pela Fecomércio-DF.
O trabalho como alicerce
Filho e irmão de hansenianos, Orédio viu o pai e o irmão serem levados de casa para uma “Colônia de Leprosos”, em Goiânia, aos sete anos. A partir daí, passou a ser “o homem da casa”, ajudando a mãe, pobre e semianalfabeta, a sobreviver e a criar a irmã, cinco anos mais nova.
Hoje, aos 83 anos, em pleno tratamento de um Linfoma nos Gânglios, Orédio está afastado, há cerca de cinco anos, da gestão dos negócios. Dedica-se, atualmente, à sua grande paixão: a fazenda Santa Rosa, a 78km de Brasília, próxima a Alexânia. Sua esposa Ana Rosa, de 64, e o filho Bruno Resende, de 42 anos, tocam o negócio e administram os imóveis da família.
Pioneirismo
Ao falar no crescimento de Brasília ao longo de 59 anos de existência, é impossível não mencionar a importância de empresários que resolveram abrir seus negócios antes mesmo da nova capital estar pronta. Eles investiram e acreditaram na cidade, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento econômico e social da nova capital. Diversas empresas se instalaram, principalmente, na antiga Cidade Livre, que recebeu boa parte dos candangos que saíram de diversas localidades do Brasil para tentar uma vida melhor. A trajetória dessas empresas se confundem com a própria história de Brasília. Participaram efetivamente da construção da nova capital e ainda continuam contribuindo para o desenvolvimento da cidade.
A Induspina nasceu em 1948, em Anápolis. Três anos antes da inauguração da atual capital do país, abriu uma filial no DF. Criada pela tradicional família Pina, do Estado de Goiás, que possuía diversos negócios na região, a Induspina tinha matriz em Anápolis e unidades em Goiânia, Ceres, Goianésia e, por último, em Brasília.
As dificuldades foram muitas. O então vendedor (Orédio) deixou escola, amigos e familiares para assumir o cargo de gerente, em um lugar inóspito, onde tudo estava começando. Naquele tempo, apenas duas empresas atuavam no ramo de autopeças em Brasília: a Induspina e a Autopeças Moreira. Teve que enfrentar diversos obstáculos. O principal deles era a falta de uma comunicação mais ágil. “Várias peças vinham de São Paulo e, às vezes, demoravam quase um mês para chegar. Hoje temos Internet. Tudo é muito mais rápido e contamos com uma logística bem mais ágil e eficiente”, afirma.
Em 1964, finalmente, os sócios da empresa ofereceram a Orédio uma participação nos negócios, proposta que aceitou prontamente. No início, chegou a fornecer produtos para todas as construtoras e empresas que trabalharam na construção de Brasília.
De acordo com Orédio, um dos fatores que determinaram o sucesso e a longevidade de seu negócio foi a persistência, não apenas dele, mas de seus sócios (Sebastião, Antônio e Omélio). “Eu diria que nossa perseverança e coragem para o trabalho fizeram a diferença. Fico orgulhoso, após todo esse tempo e as dificuldades que enfrentamos, em saber que a minha empresa ainda tem credibilidade, que é reconhecida pela seriedade e bom atendimento. O respeito que temos de todos que trabalham conosco e do consumidor nos motiva a continuar”, diz.