O senhor estreou na política já ocupando o maior cargo do Executivo. Em um ano como governador, o que encontrou de maior dificuldade que não imaginava existir?
Foi um ano muito feliz para mim. Eu sou nascido em Brasília e posso trabalhar pela cidade, pela população, para melhorar a vida das pessoas, principalmente dos mais pobres, que a gente precisa ajudar. É o que eu costumo dizer: para o rico, basta o governo não atrapalhar. E acho que foi um ano bom para a cidade também. Conseguimos muitos avanços, mesmo trabalhando com um orçamento deixado pelo governo passado e que não contemplou muitas áreas que queríamos ter tido mais atenção. Mas não foi fácil. Nos primeiros seis meses as dificuldades foram muito grandes, havia muitos entraves, não conseguimos avançar na velocidade que eu imaginava porque não encontrei nenhum projeto, havia muitas contas a pagar. Era uma situação de paralisia total do estado; mas, aos poucos, a gente foi avançando, imprimindo um novo ritmo e conseguimos chegar ao fim do ano com muitas realizações para mostrar, principalmente na recuperação física da cidade – que tinha até viaduto no chão, é bom lembrar – e na preparação para um 2020 de muitas realizações.
A economia do DF cresceu 1,8%, acima da média do país. Quais ações o senhor apontaria como as principais responsáveis por esse crescimento e o que a população pode esperar em 2020 na área econômica?
Desde a transição, todo nosso esforço foi para destravar a economia, oferecer segurança jurídica aos empresários e impulsionar ações do governo que pudessem gerar empregos e fazer o dinheiro girar. Reduzimos impostos, criamos oportunidades, fizemos parcerias e a resposta dos empresários foi imediata. Retomamos obras paradas, criamos novos postos de trabalho para recuperar a cidade que estava abandonada, movimentamos todas as áreas da economia e o resultado já pode ser sentido. Acredito que vem para valer em 2020, quando teremos um orçamento criado por nós mesmos, projetos para obras, ações para atrair empresas e muita movimentação. Será certamente um ano de grandes realizações.
Historicamente, a saúde é o grande gargalo do cidadão de Brasília. Onde o senhor identifica estar o entrave desse atendimento e o que fazer para quebrá-lo?
É preciso reconhecer que a saúde pública avançou bastante neste ano. Investimos muito, mudamos parâmetros, criamos novos procedimentos, fizemos obras de recuperação, renovamos equipamentos e abastecemos as farmácias. A saúde foi o setor que mais investimos no governo, seja pagando débitos passados ou investindo em melhorias e contratações. Já são quatro mil novos servidores, várias unidades reformadas, centenas de leitos a mais. Mas este é um trabalho permanente, feito pouco a pouco, e que vai merecer ainda mais investimentos, principalmente nas equipes do Saúde da Família e nas Unidades Básicas de Saúde [UBS], para desafogar as emergências de hospitais e UPAs. Ainda há muita gente que tem uma dor de cabeça e não procura uma UBS, vai direto para um hospital. Mas há muito mais a ser feito; eu não vou desistir de oferecer uma saúde pública de qualidade para nosso povo.
Pensando hoje, quais seriam três grandes obras capazes de impulsionar o desenvolvimento da cidade e que o senhor espera deixar como legado desses quatro anos de governo?
Estamos trabalhando em grandes projetos, inclusive em parcerias público-privadas, como a Avenida das Cidades, que vai começar ali na altura do Setor Policial Sul, até Samambaia, passando por várias regiões, aproveitando o leito onde hoje está o linhão de Furnas. Só na obra devemos gerar mais de 80 mil empregos, além de criar um corredor de desenvolvimento extraordinário para o DF. Outro projeto que vai dar frutos rapidamente são as Áreas de Desenvolvimento Econômico [ADE], que estão recebendo investimentos de mais de R$ 200 milhões em obras de infraestrutura para que possam abrigar empresas de grande porte, que mudem a realidade econômica do DF. Muitas empresas já estão chegando, inclusive uma montadora de carros e centros de distribuição de grandes atacadistas. Mais difícil e desafiador será transformar o imenso descampado localizado atrás da Rodoferroviária numa extensão do Eixo Monumental, criando novas áreas para lazer, moradia e comércio e expandindo a cidade de forma organizada. Mas há muito mais a ser feito para melhorar o trânsito, como os viadutos do Sudoeste, de Itapoã-Paranoá, que será uma obra lindíssima, e do Riacho Fundo, melhorar a saúde e a educação, além de investir em uma segurança pública ainda mais inteligente e preventiva, com a instalação de câmeras, formando uma espécie de cerco eletrônico.
Desde os primeiros meses foi possível colher resultados positivos da implementação da gestão compartilhada em escolas públicas. Qual é o balanço que o senhor faz sobre este projeto, que é um dos principais da sua gestão?
O projeto é amplamente vitorioso. Você notou que praticamente não há mais oposição? Em qualquer lugar que eu vá, recebo o pedido de aumentar o número de escolas compartilhadas, que agora serão parte de um projeto nacional. Em todas as escolas que adotaram este regime o índice de violência e instabilidade caiu na mesma proporção em que subiram os índices de aproveitamento escolar. É importante dizer que este é um dos modelos de educação pública, e que sempre haverá opções para quem preferir outro. Não estamos impondo nada, apenas oferecendo uma opção diferente para pais e alunos que procurem um ambiente mais disciplinado.
O senhor conseguiu reduzir em meio ponto percentual as alíquotas do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) no primeiro ano de mandato e quanto ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU), há alguma previsão? Se sim, de quanto será a redução?
Esta foi uma promessa que eu fiz e que estou cumprindo. O objetivo é reduzir ao máximo os impostos para que a gente possa impulsionar a economia, desonerando o cidadão. Já tínhamos reduzido o ITBI e outros impostos num trabalho que não vai parar. Será uma ação permanente de revisão de tributos e nosso próximo alvo é exatamente o IPTU, mas ainda não podemos fazer previsões sobre o total da redução, o que depende dos cálculos que os técnicos da Secretaria de Economia estão fazendo, já que é uma ação que exige muita responsabilidade.
O Distrito Federal tem uma grande força e apoio no funcionalismo público. Por outro lado, são necessárias medidas para diversificar a economia e renda. O Desenvolve-DF e as Áreas de Desenvolvimento Econômico (ADE) são as principais apostas nesse sentido? Como atrair mais empresas e indústrias para o DF. O que será feito nesse sentido no próximo ano?
O DF já é uma região metropolitana, é a terceira maior conurbação do país, ou seja, deixou de ser dependente do funcionalismo há muito tempo e precisa diversificar sua economia, o que não é fácil por causa da pequena extensão territorial. Mas nós temos nossos atrativos e precisamos aproveitá-los. A localização privilegiada nos dá uma grande vantagem na logística de distribuição para a América Latina, temos sede de mais de 100 embaixadas e organismos internacionais que facilitam negócios com o exterior, temos uma qualidade de vida excelente, ou seja, tudo para atrair empresas e empreender. O que estamos fazendo é deixar essas qualidades ainda melhores, oferecendo segurança jurídica aos empresários, mostrando que aqui os contratos são cumpridos, que o governo é um parceiro. Os contatos que fizemos vão gerar frutos a partir de 2020, mas é o início de um trabalho que vai mudar a matriz econômica do DF para sempre.
Como está a questão do reajuste dos servidores para o próximo ano. O que será possível conceder em termos de benefício?
Primeiro, eu gostaria de agradecer aos servidores públicos por todo o trabalho que estamos desenvolvendo. Sem o empenho do servidor, nada do que está sendo feito seria possível. Todos estão acompanhando de perto o esforço que está sendo feito para melhorar o caixa do GDF e vamos negociar com as categorias com as cartas abertas. Temos que resolver a questão da terceira parcela, é uma responsabilidade que assumimos, mas tudo será feito com transparência e responsabilidade.
O GDF Presente é o governo em sua essência, resolvendo demandas emergenciais da comunidade como pintura de meio-fio, tapa-buraco e poda de árvores. Nesse sentido, de proximidade do cidadão, o que o governo espera para 2020. Ampliar o programa? Interligar as regiões administrativas? O que terá de novidade?
O programa ainda é recente, mas os resultados podem ser sentidos, principalmente nessa época de temporais e ventos fortes. Com a instalação de oito polos avançados de serviços, o atendimento é muito mais rápido. Num dos primeiros temporais, por exemplo, a W3 Norte ficou cheia de água na altura da 10/11 e, logo em seguida, a equipe da Novacap foi para o local e limpou tudo teve dezenas de árvores arrancadas, que ficaram caídas sobre as ruas, mas prontamente as equipes foram acionadas e resolveram o problema de forma emergencial. Também fomos bem com a operação tapa-buracos, que atende muito mais prontamente ao cidadão. O próximo passo é deixar o GDF Presente nas mãos do cidadão; por meio de um aplicativo de celular será ele a pedir o reparo ou uma poda, de forma direta. Vai tirar uma foto, que será georreferenciada, e enviar para uma central, para que o serviço seja feito o mais rapidamente possível. No final do processo, o cidadão recebe uma foto de volta mostrando o serviço feito.
O governo tem investido em parcerias público-privadas para gerenciar espaços públicos da capital. Quais são as prioridades de PPP para 2020? Financeiramente, quais os impactos de priorizar as parcerias aos cofres públicos?
Nós temos pelo menos sete grandes projetos de parcerias público-privadas prontos para serem implementados a partir de 2020. São investimentos vultosos que certamente vão impulsionar a economia como um todo, a partir das obras de implantação do grande boulevard da Arena. O estado não tem dinheiro para investir em obras como uma Avenida das Cidades, por exemplo, que deve custar em torno de R$ 8 bilhões; daí, a necessidade de buscar financiamento de grandes investidores, deixando os cofres do GDF para pagar as prioridades, que são saúde, educação e segurança.
Os índices criminais, de modo geral, tiveram redução significativa neste ano. A exceção é em relação ao feminicídio. De que forma o governo pensa em combater esse tipo de crime?
– O trabalho da Secretaria de Segurança merece toda nossa admiração. O secretário Anderson Torres conseguiu colocar todas as forças no combate à criminalidade e os resultados foram espetaculares. Isso vai melhorar ainda mais com os investimentos que estamos fazendo em inteligência, instalando e interligando câmeras, reforçando o policiamento em áreas vulneráveis e iluminando melhor os pontos mais perigosos. Quanto ao feminicídio, é o tipo de delito que exige a participação de toda a sociedade, porque normalmente é um crime que acontece dentro dos lares. Fizemos campanhas incentivando delações dos amigos e vizinhos que vêm alguma coisa de errado com algum casal, mostrando a covardia das situações; neste caso a polícia precisa de ajuda para prevenir. Para 2020 queremos ter funcionando o botão do pânico, para que as mulheres tenham uma proteção mais efetiva no caso de agressão.