Com a promessa de ser um movimento apartidário e sem contaminação política, começou sexta-feira, 3 de janeiro, na praça da QE 32, uma séria de reuniões em praças da cidade, chamada de “Assembleia Popular”, convocada por algumas lideranças comunitárias que se dizem descontentes com “as ingerências políticas e a falta de gestão na Administração Regional do Guará”. Entretanto, a tônica das falas foi de crítica ao deputado distrital Rodrigo Delmasso, padrinho político da cidade, e à administradora regional Luciane Quintana, indicada por ele. Mesmo com a mobilização em grupos de WhatsApp e Facebook, cerca de 40 pessoas participaram da primeira reunião na praça da QE 32 e apenas 30 na segunda reunião, dia 8 de janeiro, na praça da QI 11. Entretanto, o baixo quórum não desanimou os organizadores, que prometem reuniões em todas as quadras da cidade e depois tirado um relatório das demandas para ser encaminhado diretamente ao governador Ibaneis Rocha, sem a intermediação de parlamentares.
“Guará não pode continuar sendo uma filial de uma igreja evangélica e propriedade de um parlamentar, que indica o administrador e os assessores sem ouvir a comunidade. A população guaraense precisa se organizar para defender suas reivindicações e falar diretamente com o governador e secretários sem ter que se submeter a um determinado deputador”, atacou o primeiro orador da noite, José Augusto, que se apresentou como consultor. Para a prefeita comunitária do Guará Park, Tânia Coelho, pelo modelo institucionalizado no Distrito Federal não há como se prescindir dos padrinhos políticos, a quem cabem a destinação de recursos através de emendas parlamentares. “Talvez o que esteja faltando no Guará seja uma maior aproximação entre a Administração Regional e os moradores. Não podemos tentar dividir ainda mais e sim nos juntarmos em defesa da cidade”, afirmou a prefeita.
Inverter o processo
“Precisamos inverter o processo, que deveria ser o parlamento ouvir a comunidade e junto com os moradores levar as demandas ao governo. O administrador regional não se reporta mais ao governo, mas ao seu padrinho. É por isso é esse descontentamento dos moradores com o abandono do Guará”, criticou Raimundo Formiga, líder comunitário da QE 32. O jornalista Henrique Machado sugeriu que o próprio governador seja o padrinho político do Guará, “como é em Ceilândia e em Águas Claras, onde não há ingerência de deputado distrital. No nosso caso, a administradora regional não conhece a cidade e não sai de seu gabinete para conhecê-la”. O radialista Alexandre Torres criticou a dificuldade, segundo ele, de agendar audiências com a administradora regional Luciane Quintana para discutir demandas.
Presidente do Conselho Comunitário do Guará Sul, que representa as QEs 38, 42, 44 e 46, Carlos Roberto Gomes preferiu lembrar da época em que as lideranças comunitárias eram prestigiadas pelos administradores regionais. “Nós éramos ouvidos, consultados e atendidos, mas hoje não mais. São os líderes comunitários que conhecem os reais problemas de suas quadras e mesmo assim são ignorados”. Luis Carlos Torres, presidente da Federação dos Trabalhadores em Telecomunicação e morador da QE 32, lembrou que o próprio governador Ibaneis Rocha foi morador do Guará e por isso deveria se interessar mais pela cidade. Lula Torres, como é conhecido, criticou a intenção de se privatizar o Cave e outras áreas da cidade sem ouvir os moradores.
O agitador cultural Miguel Edgar Alves elogiou a iniciativa da mobilização e também criticou o apadrinhamento político da cidade. “Enquanto não pudermos ter o direito de escolher o administrador regional através do voto, que pelo menos sejamos consultados como lideranças sobre os candidatos ao cargo. Não pode continuar sendo uma deferência de apenas uma pessoa, como é hoje”. Um dos organizadores da “Assembleia Popular”, Anderson Fabrício Gomes, do Movimento Comunitário Guará Independente, também a gestão da cidade. “Ele, como, os outros deputados, é um servidor do povo e por esse povo deve ser ouvido. Está na hora da comunidade se mobilizar para reverter esse processo”.
Discurso repetido na segunda reunião
Cerca de 30 pessoas – dez a menos do que na primeira reunião – se reuniram na praça da QE 11 na quarta-feira, 8 de janeiro, para a segunda rodada da “Assembleia Popular”. Ataques à Administração e ao deputado distrital Delmasso voltaram a dominar as falas dos presentes,
Com atraso de mais de 40 minutos, a reunião foi iniciada com a fala do empresário José Augusto, que foi escolhido para presidir a reunião. “Como empresário tenho sempre procurado a Administração do Guará e não sou atendido, por conta disso, e principalmente pelo apadrinhamento político da administradora, iniciamos este movimento”, disse ele. “A Administração Regional hoje está aparelhada por uma igreja evangélica, todos os principais cargos são ocupados por membros desta igreja, mas o Estado é laico e isso não poderia acontecer”, completou.
José Augusto afirmou que as demandas apresentadas na reunião serão levadas a um parlamentar que preferiu ainda não participar dos encontros, sem especificar qual seria este deputado, e posteriormente levadas diretamente ao governador Ibaneis Rocha.
Líderes discordam do “viés político”
O líder comunitário das quadras ímpares do Guará I, José Maria de Castro, foi convidado para compor a mesa e destoou da fala dos outros oradores. “A Administração do Guará sempre me atendeu muito bem e tem dado todo o apoio à quadra. Ainda assim, acredito que todo movimento de moradores seja benéfico. Temos que nos reunir mais para lutar pela cidade. Infelizmente tem sido muito difícil mobilizar a população, as pessoas estão desanimadas”. O radialista Alexandre Trovão manteve o tom, levantando a importância de mobilizar a comunidade. “Precisamos não só de poda e limpeza, mas também de segurança, saúde pública e educação. É preciso estarmos atentos para conseguir um Guará melhor”. Um dos organizadores da “Assembleia Popular”, Raimundo Formiga, ameaçou deixar o movimento se as discussões não deixarem de focar apenas o deputado Rodrigo Delmasso e a administradora Luciane Quintana. “O objetivo era discutir as demandas da cidade e encaminhá-las ao governo e não transformar essas reuniões em palco político contra duas pessoas”, afirmou.
A reunião contou com a participação de moradores locais, que reivindicaram ações pontuais, como a poda de árvores e o excesso que ambulantes que tem prejudicado o comércio local.
O movimento prometeu uma nova reunião, ainda sem local ou data definidos.