Assim como aconteceu na China no início da pandemia, o medo do coronavírus começa a mudar os hábitos da população brasiliense, principalmente após as medidas tomadas pelo Governo do Distrito Federal, que fizeram aumentar a sensação de pânico na cidade. O primeiro impacto é no comércio e na prestação de serviços, porque o medo da contaminação provoca duas providências opostas, a de se precaver estocando alimentos e produtos de limpeza, o que provoca uma corrida aos supermercados e farmácias, e a outra é evitar aglomerados e ambientes mais cheios, casos de bares, restaurantes, cinemas e shows.
Quem mais está sofrendo com a crise são os bares e restaurantes, por causa da reclusão de parte dos consumidores e pelas exigências de manter a distância de dois metros entre uma mesa e outra, estipulada no decreto do governador Ibaneis Rocha (ver nas páginas 4 e 5). No Guará, os estabelecimentos mais impactados são os de maior movimento, que tiveram queda de até 50% em uma semana, na opinião de Manoel dos Santos Freire, o Mané das Codornas. “Quem frequenta bar gosta é de movimento, do calor das conversas, da oportunidade de reunir amigos. Por causa do coronavírus, quem vem pede logo a conta, quer mesa mais afastada, não se reúne mais em grupos grandes. E ninguém mais quer ficar para a saideira”, diz ele.
Acostumado a ver o Chalé da Traíra lotado nas noites de quarta e quinta, por causa do futebol, sextas e finais de semana e todos os dias durante o almoço, Rogério Monteiro calcula a queda do movimento em no mínimo 30% com a crise da doença. “Ainda não dá para avaliar o alcance do prejuízo, mas se a crise continuar por mais tempo o nosso segmento terá que reduzir pessoal e tomar outras providências para sobreviver. O pânico está muito forte”, afirma Rogério. Essa é também a opinião de Solânio de Oliveira Souza, o Solano do bar da QI 22 que leva seu nome. “Normalmente, o pós carnaval é um pouco mais fraco porque boa parte da população ainda está individada por causa dos gastos com viagens e a festa. E agora vem o coronavírus para piorar ainda mais. Ainda está recente, mas as perspectivas são preocupantes”, avalia.
Corrida às compras
Mas, enquanto o segmento de alimentação e diversão sofre com a debandada da clientela, os supermercados e farmácias estão vendo o movimento aumentar, em busca da formação de estoque de alimentos e, principalmente, de produtos de higiene, como álcool em gel, máscaras e sabonetes. Entretanto, essa corrida pode ter outro reflexo, a do desabastecimento. “Já estamos tendo problemas com a renovação do estoque, por causa da paralização parcial de produção em indústrias que estão reduzindo jornadas de trabalho para evitar a contaminação, e também por causa da redução da circulação de caminhões, por decisão dos caminhoneiros, também preocupados com a difusão da doença”, explica Adauto Lúcio de Mesquita, do Melhor Atacadista que inaugurou recentemente uma loja na QE 44 do Guará II. Segundo ele, outra tendência é o aumento dos preços, por causa da lei da oferta e da procura, se a crise continuar por mais tempo. Para o diretor de Marketing da rede Dona de Casa, César de Miranda, procura por álcool e gel e produtos de limpeza aumentou bastante nos últimos dias. Para tranquilizar os clientes, o supermercado da QE 30 instalou recipientes de álcool em vários pontos da loja.
Outro efeito está sendo sentido pelos pais dos alunos da rede pública de ensino e também alguns das escolas particulares, porque o governador Ibaneis suspendeu as aulas até a próxima terça-feira, 17 de março, com possibilidade de estender o prazo por mais tempo caso a situação piore na saúde pública. No Guará, são mais de 30 mil alunos da rede pública que estão temporariamente sem aula nas 28 escolas da cidade.