CORONAVÍRUS REDUZ VIOLÊNCIA NO GUARÁ

De acordo com Polícia Civil, a maioria das ocorrências na cidade é de “roubo a transeunte”, principalmente de aparelho celular. Como tem pouca gente na rua...

A cidade está vazia e a maior parte do comércio fechada por causa do coronavírus. O confinamento dos moradores provoca outro fenômeno: nunca houve tão poucas ocorrências policiais na história do Guará. Como a grande maioria das ocorrências é de furto e roubo a pedestres, principalmente de celulares, os ladrões ficaram sem clientela. O índice desse tipo de crime caiu em cerca de 60% se comparados os meses de março de 2019 e o de 2020.
De acordo com o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, João Maciel Claro, o furto e o roubo de aparelhos celulares é o crime mais comum na cidade por causa da facilidade da troca por drogas. “É o produto mais fácil de ser comercializado, de ser escondido e o mais acessível para os ladrões, por culpa da falta de cuidados da própria vítima”, diz ele. Mesmo com as medidas tomadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) através da Lei 9.472/2018, que bloqueia aparelhos celulares adulterados, roubados, extraviados e não certificados, o delegado diz que os marginais conseguem desbloqueá-los antes que as vítimas façam ocorrência, com exceção da marca Apple, que permite desbloqueio apenas pelo proprietário. “Mesmo com essa facilidade, temos reduzido esse tipo de crime com filmagens e fotos dos marginais e quadrilhas atuando em pontos de maior concentração de pessoas e temos feito prisões frequentes”, conta João Maciel.

Tráfico de drogas, origem dos crimes
A venda e o consumo de drogas continua sendo a maior preocupação da equipe da 4ª DP, de acordo com o delegado. “A cidade tem muitas praças e muita área verde, o que facilita a atuação dos traficantes e o consumo”, diz ele, que aponta o Parque do Guará, no local conhecido como “biqueira”, uma nascente que forma um pequeno lago, e a QE 40/Polo de Moda, como as principais “manchas” de uso e tráfico de drogas no Guará. Na última operação da Polícia Civil na biqueira, 28 pessoas foram levadas para a delegacia, dos quais 18 traficantes e 10 consumidores, moradores do Guará. O local facilita a venda e o consumo porque oferece água limpa para beber e tomar banho e fáceis pontos de fuga. Mas o delegado explica que não é possível acabar com o ponto de drogas do parque sem uma atuação conjunta com outros órgãos do governo responsáveis pela área social, principalmente da Secretaria de Desenvolvimento Social, para o encaminhamento dos consumidores que preferem morar nas ruas. “Enquanto isso, vamos continuar fazendo incursões esporádicas lá, para desestimular principalmente os traficantes de drogas”.
O delegado João Maciel aponta também a QE 40/Polo de Moda como outro foco de consumo e tráfico de drogas, por causa da facilidade do aluguel de quitinetes a traficantes e garotas de programa. “Esse comércio é feito dentro das próprias residências e combinado pela internet, o que dificulta a ação da polícia, mas a nossa equipe de inteligência tem filmado e fotografado a ação de traficantes lá e coibido o crime dentro do possível”, informa o titular da 4ª DP.
Pelo menos em ocorrências de homicídio, os índices da cidade não são muito ruins, se comparados às outras regiões do DF. No ano passado foram apenas quatro homicídios e 12 tentativas, e um feminicídio, proporção considerada pequena pela polícia se analisada a da população do Guará, de cerca de 150 mil habitantes. Este ano, de acordo com as ocorrências registradas pela 4ª DP, aconteceu um feminicídio e a morte de um assaltante que abordou um policial civil de Goiás no Polo de Moda.

Ocorrências pela internet
João Maciel lembra que ocorrências de menor potencial ofensivo, como furtos e roubos e agressões, podem ser feitas pela Delegacia Virtual, sem necessidade de ir à delegacia física. O delegado recomenda, entretanto, que a vítima não deixe de registrar a ocorrência, porque a polícia trabalha com estatísticas para a confecção de mapas do crime em cada região, onde a polícia concentra suas ações. Se estão acontecendo mais crimes do que os registrados na delegacia ou comunicados à Polícia Militar, os órgãos de segurança pública não têm como definir suas estratégias para cada quadra ou área. “Por isso, é importante que todos os crimes sejam comunicados pelas vítimas, mesmo que elas não acreditem numa solução para seus casos, e mesmo que sejam simples. Os dados vão servir para as ações policiais no futuro”, explica.
A 4ª Delegacia de Polícia do Guará voltou a trabalhar em regime de plantão permanente, ou seja, está permanentemente aberta para atender a população.