Guaraense não está respeitando o isolamento

Uma média de 50,4% das pessoas da área central de Brasília se mantiveram em quarentena. Na outra ponta, está o Riacho Fundo 2, com 79,1%

Quase a metade (43,5%) da população guaraense não está respeitando o isolamento social, recomendado pelo Ministério da Saúde como prevenção contra a pandemia do coronavírus. A insubordinação local só é menor do que a do Plano Piloto, com 49,6%, e de Águas Claras, com 45,2%. Na outra ponta, Riacho Fundo 2 (79,1%), Sobradinho 2 (75%) e Varjão (75%) são as regiões que mais respeitam a quarentena. O levantamento foi pela Inloco, empresa de tecnologia especializada em geolocalização.
O mapeamento está sendo feito desde o dia 12 de março, quando começaram as medidas restritivas impostas e recomendadas pelo Governo do Distrito Federal e Ministério da Saúde.

Mesmo sendo a mais insubordinada, a população da região central de Brasília tem melhorado o índice de isolamento médio. Entre 12 e 18 do mês passado, uma média de 50,4% das pessoas estavam de quarentena na área central da cidade, e o número aumentou para 55,7% na semana de 6 a 12 de abril, a última com dados disponíveis. O crescimento de 5,3 pontos percentuais foi o terceiro maior entre todas as regiões administrativas, mas não o suficiente para tirar a região da última posição e nem aumentar a sua média geral.
Segundo o médico Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do DF, ainda é cedo para entender esses dados. “Todas as análises neste momento são especulativas, ainda estamos tentando mapear como a sociedade está se comportando em meio à pandemia, mas tudo muda de forma muito rápida”, avalia.
O especialista acrescenta, entretanto, que o Plano Piloto é o polo econômico do Distrito Federal, por isso existe uma movimentação mais intensa em suas ruas. “As pessoas saem das outras regiões para trabalhar na área central, provavelmente é por isso que as cidades satélites aparentam estar mais quietas”, explica.
O infectologista destaca a importância de manter o isolamento social. “Essa é a única certeza no momento. Os países que flexibilizaram muito cedo ou demoraram para impor a quarentena estão pagando por essa decisão, como Estados Unidos, Espanha e Itália. Portugal, por outro lado, atuou cedo e está com o número de casos controlados e o sistema de saúde funcionando dentro da sua capacidade”, recomenda.
Durante a Semana Santa, 26 das 29 das regiões administrativas aumentaram o isolamento social. Segundo as informações coletadas pela Inloco, apenas Brazlândia, Jardim Botânico e Planaltina tiveram média menor durante o feriado. No Jardim Botânico, a média ficou 5,7 pontos percentuais menor durante o feriado. Seguido de Brazlândia (2,1) e Planaltina (1,4).
No caso do Guará, os índices foram aumentados principalmente pelas longas filas para a compra de gás e nas agências bancárias em busca do auxílio emergencial oferecido pelo governo. As peixarias da Feira do Guará nos dias que antecederam a Páscoa também contribuíram para o aumento do índice de insubordinação ao isolamento social.

Correlação entre casos e isolamento
O isolamento social é a principal recomendação dos especialistas, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para diminuir os efeitos negativos da pandemia de coronavírus. Ao inibir o contato social, ameniza-se o contágio da doença e dilui-se no tempo a quantidade de casos graves, o que evita o colapso do sistema médico.
Quando o índice de isolamento social médio é cruzado com a quantidade de casos apurados em cada uma das regiões administrativas, o que ocorreu no dia 12 de abril, a correlação entre os dois é significativa. Quanto maior o índice médio de quarentena, menor a quantidade casos. O cálculo de correlação vai de -1 a 1. Quanto mais perto das pontas, maior a correlação. Quanto mais perto do meio da escala – o número 0 –, menor a correlação. Nesse caso, a correlação é de -0,68.
É importante ressaltar que correlações não são causalidades. Para se chegar à causa, é necessária uma investigação aprofundada que leva em conta todos os elementos que podem influenciar na situação. No caso da doença, outra correlação existente é entre a renda média da Região Administrativa e o número de casos.
(Com informações de Lucas Marchesini e Olívia Meireles, do Metrópoles)