Mesmo sem poder receber as 350 crianças e adolescentes que assiste, o Centro Socieducativo Santo Aníbal Maria, no Polo de Moda, não parou durante a pandemia. Aliás, de alguma forma, a parada forçada desde fevereiro, quando o coronavírus começou a provocar o isolamento social, ajudou no andamento das obras de ampliação da sede da instituição, que está sendo preparada para atender até 500 crianças e jovens carentes, de longe a maior do gênero no Guará.
Por outro lado, enquanto ajudou no andamento das obras com o afastamento das crianças e jovens, a pandemia prejudicou em parte a principal fonte de arrecadação da instituição, que são as doações. Mas, para a determinação da missionária Diane Galdino, fundadora e diretora da Santo Aníbal, os desafios nunca a impediram de conseguir o que sempre planejou e sonhou para a missão de ajudar as crianças e jovens carentes. Mesmo na crise, a creche, como é conhecida, está recebendo oito novas salas de atividades, novos banheiros, pátio e espaço para convivência. As antigas instalações de madeirite estão sendo todas substituídas por um moderno e seguro prédio em alvenaria, o que vai permitir aumentar em cerca de 70% a capacidade de atendimento.
Mas, quem já tocou uma obra sabe que o orçamento nunca bate com a realidade e que o aconselhável é ter o dinheiro suficiente para todo o serviço para não correr o risco de interrupção. Diane, entretanto, não tem. “Começamos a construção sem um centavo sequer. Só com a fé. Estou devendo até minha alma ao pessoal da mão de obra e às lojas de material de construção. Mas acredito que vou conseguir concluir tudo e pagar a todos”, acredita Diane. A principal fonte dos recursos para a obra e a manutenção do Centro Socioeducativo são as doações em conta corrente (ver no final), contribuições de outras instituições e arrecadação em eventos.
Matando um leão por dia
Mas não é somente a obra física que precisa de recursos financeiros. Mesmo sem a presença dos 350 jovens de 4 a 14 anos que atende, a Santo Aníbal continua funcionando de segunda a sábado, com o fornecimento de cestas básicas, material de higiene e limpeza às famílias dos atendidos e da demanda espontânea. “Nessa parada forçada, estamos trabalhando o fortalecimento dos vínculos nossos com as crianças e adolescentes e com as famílias deles, com atividades socioeducativas entregues semanalmente”, explica a diretora. Cada atividade é preparada de acordo com a idade e nível escolar de cada jovem atendido.
Mesmo sendo a maior instituição socioeducativa do Guará, um misto de creche, atividades complementares e reforço escolar, a Santo Aníbal não recebe recursos públicos, como a maioria das creches recebe, porque somente agora a instituição conseguiu as certificações exigidas para o repasse do governo, mas depende da abertura de novos editais.
Para se ter ideia das dificuldades enfrentadas pela instituição, cada criança ou jovem atendido custa cerca de R$ 520,00 por mês, que é a média do gasto com estrutura, manutenção (funcionários, encargos sociais energia, água e outros custos), alimentação, material pedagógico e material esportivo e para atividades lúdicas.
Dos 350 atendidos diretamente, cerca de 100 crianças ficam o dia todo no atendimento em parceria com o Colégio Rogacionista. Além de toda a assistência que requerem, recebem quatro refeições diárias. Os outros, recebem atividades no contra turno da escola, como aulas esportivas, de música e dança, além de palestras e reforço escolar se necessário.
Ajuda às famílias
Além do atendimento presencial às 350 crianças e adolescentes, o centro ainda ajuda as famílias deles, a maioria de empregados domésticos, diaristas trabalhadores informais, de baixa renda e de risco social, que precisam deixar os filhos enquanto trabalham, e também de alguma ajuda para complementar o sustento da casa. E não são famílias somente do Guará, mas também de outras regiões, como Estrutural, Ceilândia, Recanto das Emas e, de cidades do Entorno, como Céu Azul, Santo Antonio do Descoberto, Águas Lindas, de onde as mães e pais vem todos os dias para trabalhar por aqui e não tem onde e com quem deixar seus filhos durante o dia.
Por isso, além das doações em dinheiro, são benvindas as doações de alimentos, roupas, agasalhos ou qualquer coisa que possa ser aproveitada por essas famílias carentes. Quem puder, pode ajudar também no pagamento de contas de água e energia, doando roupas e objetos para os bazares. “Qualquer tipo de ajuda é sempre bem vinda”, pede Diane.
Doações para
INSTITUTO SOCIAL DE EDUCAÇÃO E CULTURAL
QE 40 (Polo de Moda), Rua 20, lote 2 – Guará II
Fone 98251.7888
Contas:
Banco do Brasil: agência 29122 conta 126481-8
Caixa Econômica Federal: agência 1041 Op.03 conta 2245-5
Itaú: agência 6244 conta 09204-2
Cnpj 05508980/0001-51
DIANE GALDINO
Uma missionária que nasceu para ajudar o próximo
Para quem a conhece, ou conhece sua obra, ela é uma iluminada. Não há outra forma de definir a missionária Diane Galdino, 49 anos, que abdicou de viver sua própria vida para dedicar-se ao próximo. Bonita, inteligente, articulada, ela teria tudo para constituir uma família e ser bem sucedida na vida. Mas, nada além do que faz traria tanta felicidade a ela, como se doar ao próximo e ajudar crianças carentes. Nada. Nem a própria saúde importa tanto – já pegou dengue e foi internada, fez algumas cirurgias, além de outras complicações provocadas pelo estresse e pelo excesso de trabalho e pouco cuidado com o próprio organismo. Ela vive para o Centro Socioeducativo Santo Aníbal, que idealizou e criou há 11 anos, aproveitando o terreno no Polo de Moda que foi destinado pelo governo à Mitra Diocesana de Brasília para a construção de uma creche. O nome do centro é uma homenagem ao padre italiano Aníbal Maria Difrancia, canonizado como Santo Aníbal, fundador da congregação Rogacionista, que administra no Guará a Paróquia Divino Espírito Santo, entre as QEs 32 e 34, e a escola infantil Padre Difrancia, na QE 42.
Como missionária rogacionista, Diane é consagrada secularmente, ou seja, quando é consagrada na pobreza, na castidade, na obediência e no carisma do Rogate. “Uma vida de plena doação”, simplifica a própria missionária. “Nossa vida deve ser como uma vela, ela só tem sentido se estiver acesa, iluminando a escuridão e, consequentemente, se gastando aos poucos. A vida de um missionário deve ser da mesma forma, se gastando pelo próximo e por uma sociedade fraterna, mais justa e sustentável”, completa.
Nascida em Brasília, ela veio para o Guará aos quatro anos. De família simples, tradicionalmente católica e sobrinha de padre, desde a adolescência mostrava compaixão pelos menos favorecidos. Fazia parte de projetos na igreja e também da Pastoral da Criança, onde convivia com famílias mais carentes e pôde exercitar seu dom da compaixão, o que mais tarde descobriu ser sua missão.
Enquanto a maioria das garotas de sua idade estava curtindo as bandas famosas do momento ou envolvidas com namoricos e moda, Diane sentia que era diferente. Procurava doações de legumes e verduras no comércio do Guará para, junto com as famílias carentes, fazer refeições saudáveis para eles. Também ensinava pintura em tecido, bordado e crochê para as mulheres das famílias carentes, incentivando-as a produzir panos de prato para geração de renda.
Influência
Envolvida em diversas causas sociais onde quer que fosse, ainda na adolescência Diane foi muito influenciada por Dom Hélder Câmara e Dom Pedro Casaldáliga, líderes de destaque na igreja católica, que a motivaram através de suas mensagens a prosseguir em defesa de um mundo justo e de igualdade para todos. Quando a família e os amigos notaram que a garota não seguia o fluxo de uma vida comum – namorar, casar, ter filhos -, estranharam, mas logo que entenderam a responsabilidade e a compaixão que ela trazia dentro de si, acolheram seus ideais e até hoje apoiam suas decisões, mesmo as mais radicais para eles.
Na faculdade de Filosofia, a jovem visionária se envolveu com programas sociais e com a alfabetização de jovens e adultos. Depois da faculdade, cursou pós-graduação em Política e Gestão no terceiro setor, Psicopedagogia e Administração Escolar, temas relevantes para a construção do conhecimento que ela almejava seguir na vida.
De repente, Diane se viu totalmente envolvida com projetos que abrangiam crianças em situação de risco, e consequentemente também suas famílias. Viajou por um período em uma missão para dar assistência às comunidades ribeirinhas do Amazonas, e também em áreas rurais no interior da Bahia e do Maranhão, ensinando e orientando as comunidades mais distantes e muitas vezes carentes, da importância do empoderamento – participação de cada indivíduo obre os direitos sociais e civis – e também colaborando na formação de lideranças comunitárias. “É importante despertar nas pessoas a ideia da dignidade humana e a não dependerem do assistencialismo para sempre”, destaca. “Essa dinâmica de pessoas dependentes não é saudável, elas precisam ter conhecimento dos seus direitos. Saúde e educação é para todos, não é favor”, completa.
Despojamento
A missionária segue em sua vida simples, em todos os sentidos, especialmente no quesito dinheiro e luxo. O pouco que tinha – um carro popular – ela doou para quitar despesas do Centro Socioeducativo no qual é a responsável legal. “Para mim, basta estar vestida e com um calçado nos pés, ter um local para dormir, não me importo com quantidade de bens, me importo como ser humano, com meu próximo. Do que adianta ter 40 pares de sapatos no meu armário se não consigo usá-los todos de uma vez?”, pergunta. O lado ambicioso ela prefere focar em projetos sociais.
Quanto não está no Centro Socioeducativo, a missionária auxilia outros projetos fora do Distrito Federal. “Minha casa é o mundo”, garante. Ela vai onde é chamada, e de vez em quando viaja a outros estados para ajudar na missão de ajudar ao próximo.