O anúncio do fechamento do comércio e serviços por 24 horas durante 15 dias no Distrito Federal, como medida de contenção do coronavírus, vai impactar com mais força as atividades ligadas à gastronomia. Os empresários reclamam que a medida foi tomada num momento de recuperação, embora lenta, do segmento, que chegou a ficar quatro meses fechado no ano passado. Eles contestam também os argumentos para o fechamento de bares e restaurantes, que, segundo eles, são os que mais tomam medidas de segurança para evitar a contaminação e poderiam ser incluídos na relação das atividades essenciais.
De acordo com o governo, o lockdown foi necessário por causa do aumento da curva de infectados no Distrito Federal e a redução frequente da disponibilidade de leitos para internação da rede pública e da privada de saúde. Segundo a Secretaria de Saúde, 98% das UTIs estavam ocupadas no DF nesta sexta-feira, 26 de fevereiro.
Empresários preocupados
A reação dos empresários do segmento mais afetado foi imediata. Para o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), Jael Antônio da Silva, a medida é a pá de cal no fim de muitas empresas do ramo de gastronomia. “Tentamos negociar uma solução menos drástica com o governador Ibaneis, mas não fomos ouvidos. Concordamos que existem excessos nas aglomerações em alguns estabelecimentos, como existem também nos supermercados, mas o nosso segmento não é o responsável pela pandemia” afirma. “O governador está preocupado com a saúde, até porque todos os nossos colaboradores também podem ser infectados. Mas, talvez, um horário mais flexível não seria tão prejudicial”, argumenta. Pelos levantamentos do Sindhobar, desde o começo da pandemia, o setor promoveu 19 mil demissões e teve mais de três mil empresas fechadas.
A preocupação do segmento não é apenas com os 15 dias de fechamento, mas com a possibilidade desse prazo ser estendido depois, o que certamente vai provocar muita falência e desemprego. “Acabamos de ampliar a nossa casa, alugando a loja ao lado. Se tivermos que parar por mais tempo, não vamos aguentar”, reclama Alessandra Lima, do Flor de Lys, na QE 17. Para Maurício Valim, do restaurante Sauz, na QE 17, mesmo quem funciona em imóvel próprio, como é o seu caso, uma parada mais longa do que os 15 dias inicialmente estipulados, vai ficar difícil de suportar. “Por mais que tivermos boa vontade, ficaria difícil segurar os empregos de todos os funcionários sem atividade. Todos perderiam, como vão perder nesses 15 dias”, avalia.
Os bares mais tradicionais do Guará serão os mais impactados com a medida, segundo Rogério Monteiro, do Chalé da Traíra, na QE 42. “Já tivemos um enorme prejuízo no ano passado e nem sei como vamos suportar com o lockdown”, lamenta. “O governo poderia estipular um limite, principalmente nos horários onde há maior concentração, mas o fechamento total será o caos pra todos nós e logo agora que estamos começando a recuperar dos prejuízos provocados pela pandemia”. Para Manoel dos Santos Freire, o Mané das Codornas, a medida é radical e não se justifica porque, segundo ele, “a maioria dos bares e restaurante é a que mais se preocupa com as medidas de segurança sanitária e distanciamento”.
De acordo com Rosana Braga, do restaurante Nonna Augusta, na QI 27, o segmento está sendo usado como bode expiatório da pandemia. “Em vez do governo fiscalizar quem não está cumprindo as normas, está penalizando também quem está tomando todas as medidas. Os justos estão pagando pelos pecadores. Somos os vilões da crise”. O Nonna Augusta, na QE 17, é o único restaurante do Guará que está participando da campanha Restaurante Week, que oferece um menu completo a preço único.