Ricardo Retz faleceu

Figura folclórica, produtor cultural, colecionador de discos e qualquer objeto relacionado a música, era um ávido defensor da cultura da cidade

O produtor cultural, conselheiro de Cultura do Guará, estudioso de música e um dos maiores colecionadores de discos do país, Ricardo Retz, faleceu hoje, 22 de abril, de parada cardiorrespiratória. Retz, de 48 anos, era cadeirante e teve infecções intestinais e urinárias por conta de uma grave constipação. Depois de mais de um mês internado, período em que foi contaminado com a Covid-19, chegou a recuperar-se de uma pneumonia e realizar hemodiálise.

História

Ricardo Retz é um dos mais emblemáticos personagens do Guará e da música brasiliense.  Começou sua trajetória em cima dos palcos, na banca Canela de Cachorro, mas logo voltou-se à produção de eventos alternativos. Um colecionador nato, passou a juntar lembranças de cada show que ia ou organizava. Eram panfletos, cartazes, palhetas, o setlist das bancas (lista de músicas que seriam executadas naquele dia), camisetas, ingressos credenciais, fotos e fitas cassete. Aliás, ele mesmo produzia as fitas, com seu gravador na beira do palco. Incentivador, escritor e distribuidor de fanzines, foi um dos expoentes dos jornaizinhos alternativos.

Com milhares de discos guardados, Retz reuniu uma das maiores coleções de vinil do país. No início ele passava de rua em rua do Guará com um carrinho de supermercado pedindo doação de discos. Os anos 90 marcaram a transição entre os aparelhos de som a vinil nas casas pelos CD players e, empolgados com a nova tecnologia, muitos estavam afoitos para se livrarem dos antigos discos. Retz coletava, limpava, separava por gênero e catalogava. Montando um acervo admirado por muitos. A ponto do músico Ed Motta, também colecionador de discos raros, visitar o Guará apenas para conhecer o Museu da Música. Chegou a reunir mais de 7 mil vinis, 2 mil fitas cassetes, 1,5 mil compactos, 500 VHS, figurinhas e recortes de publicações relacionadas à música.

 

Legado

Retz foi responsável por mudar a cara de muitos espaços tradicionais da música alternativa do Guará. Na QE 6, que chamava de Praça do Xinxa, realizou centenas de eventos e viu nascerem as principais bandas do Guará. No antigo Bar da Onda, onde decorou as paredes e discotecava, nos inúmeros festivais em que levou sua vitrola para tocar, Retz era figura fácil na cena roqueira da capital.

Em 2018 foi responsável, junto com vários produtores do Guará, organizou a exposição Temos Nosso Próprio, com a abertura de seu acervo. A exposição foi um retrato da história do rock de Brasília, através das experiências e do acervo coletado ao longo de mais vinte anos por Ricardo Retz. O público pode ver seus flyers, cartazes de show, fitas piratas, demos, Lps, Cds, Set lists e fanzines a coleção faz um resgate da memória musical do rock de Brasília.