Após um ano e quatro meses fechado por causa das restrições impostas pela pandemia do coronavírus, finalmente o Circo Vitória, acampado no quadradão entre às QEs 15, 23 e 26, reabre suas portas ao público a partir desta sexta-feira, 28 de maio, com novidades. A autorização para a retomada dos espetáculos foi concedida pela Secretaria de Saúde após vistoria e imposição de um protocolo a seguir por artistas e público, como o uso de máscara, medição de temperatura, de álcool em gel e distanciamento na arquibancada. A capacidade foi reduzida de 200 para 100 pessoas por espetáculo durante a pandemia.
No período em que se viu obrigado a ficar parado, o grupo de artistas e de direção criou novas atrações, para atrair inclusive quem já tinha ido antes. A principal das novidades são os trapezistas voadores, que se juntam ao globo da morte, malabaristas, mágicos, bambolê, lira e tecido acrobático. Há também atrações para as crianças que acompanham os pais, como shows com os personagens Mickey, Minie e Pateta. Outra novidade é a única mulher do país como forte aparadora, a que apara os malabaristas quando eles retornam ao solo. São 18 pessoas envolvidas diretamente e indiretamente nos espetáculos, e a exceção do grupo que acompanha o circo são as cinco crianças abaixo de 14 anos.
Como são apenas 100 ingressos por espetáculo, recomenda-se a quem pretende assistir, passar antes e adquirir o seu ingresso. Por enquanto, a venda é apenas na bilheteria, enquanto é providenciado um aplicativo para venda online. Os ingressos têm preço único (sem meia entrada), de R$ 20 adulto e R$ 10 criança.
Solidariedade na sobrevivência
Acostumado a aportar aonde é bem recebido pelo público e escolher para onde ir, o Circo Vitória se viu diante de uma realidade única e dura nos seus 28 anos de existência, ao ser pego de surpresa pela pandemia do coronavírus quando se apresentava no Guará desde o final de 2019 e se ver obrigado a não deixar a cidade e, pior, suspender seus espetáculos.
Essa parada forçada, poderia provocar desespero nas 20 pessoas (agora são 23) que dependem da arrecadação dos espetáculos do Circo Vitória para continuar sobrevivendo. Mas não provocou. Embora preocupados com o futuro, as 16 pessoas da família Mocelim – menos uma idosa de 80 anos foi para a casa de uma das filhas por segurança – e quatro ajudantes resolveram enfrentar a realidade sem lamentações e aproveitar a proximidade com o guaraense para fazer e reforçar amizades – é a terceira vez que o circo aporta no Guará. É dessa relação que os membros do circo receberam exemplos de solidariedade através de doações. A situação mobilizou campanhas nas redes sociais da cidade para arrecadar gêneros alimentícios que pudessem reforçar e melhorar a alimentação dos integrantes do circo. “Foi lindo o carinho que recebemos da comunidade. Os moradores não nos deixaram passar necessidades. Agora, queremos retribuir esse carinho através dos nossos espetáculos”, diz Loiri Mocelin, a primeira dama do Circo Vitória.
Amor pelo circo
Criado há 28 anos em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, o Circo Vitória foi a afirmação do empreendedorismo de Antenor de Almeida, 83 anos, seu filho Wilson de Almeida, 62 anos, e a nora Loiri Mocelim, 60. Antenor trabalhava num circo, onde nasceu Wilson. A gaúcha Loiri era uma apaixonada pela atividade circense e após conhecer e se apaixonar por Wilson resolveu segui-lo. Dessa união, vieram três filhos e quatro netos, que teve a adesão na atividade de noras e genros. Todos são crias do Circo Vitória e até hoje continuam a acompanhá-lo.
Porta voz da família, Michelle Mocelin de Almeida, 38 anos, define o que para o público externo pode parecer de difícil compreensão essa paixão por uma vida mambembe, em que se vive apenas o dia a dia. “É um sentimento inexplicável. Só quem vive no circo sabe o que representa esse mundo, que nos dá oportunidade de conhecer tantos lugares, culturas e pessoas diferentes. O trabalho se confunde com o divertimento. Não há rotina”, diz ela. Com efeito, o Circo Vitória somente não passou ainda por Amazonas, Acre e Rondônia no Brasil, mas já perambulou por Uruguai, Paraguai, Chile e Peru.
Até para as crianças a vida circense é divertida, porque a cada porto elas tem a oportunidade de estudar numa escola diferente e conhecer novos colegas – uma lei federal garante vagas em escolas públicas aos filhos de profissionais de circo em qualquer época e local, até o Ensino Médio. Até curso superior é possível fazer, como foi o caso da própria Michele, que concluiu Artes Cênicas nos quatro anos em que o circo ficou em Ribeirão Preto.
Loiri Mocelim, mãe de Michele, transformou a admiração adolescente pela paixão ao circo. “Depois de 40 anos em que estou no Vitória, acho que não saberia viver fora desse mundo, que ensina uma coisa nova a cada dia”, garante a ex-trapezista e domadora de cavalos que agora cuida da parte administrativa e da cozinha e dá suporte à toda a família.