Afonso da Silva – Uma vida para servir

Conselheiro tutelar e vicentino cuida de centenas de famílias guaraenses

A família chegou no início da construção do Guará II, em 1973. A mãe, Rita Ferreira, é figura conhecida na cidade, assim como parte dos seus 12 filhos, entre eles o conselheiro tutelar Afonso da Aparecida Alves da Silva. Viúvo (perdeu a esposa Francisca Gomes para o câncer de mama há três anos), cuida de sua filha de 16 anos e de centenas de outros filhos do Guará.
Afonso trabalhou no serviço público, em empresas privadas e trabalhou na construção civil, fazendo reformas e reparos em casas do Guará, e a ampla vivência social o faz conhecer a região como ninguém. Inspirado na mãe, começou a trabalhar voluntariamente no Movimento Vicentino com apenas 12 anos. Através do movimento envolveu-se ainda mais nas causas sociais e conheceu bem os problemas da população guaraense.

Conselheiro Tutelar

Afonso é conselheiro tutelar do Guará, eleito pelo segundo mandato consecutivo. Seu mandato vai até 2023. A experiência no movimento social o levou a interessar-se pela causa da preservação dos direitos das crianças e dos adolescentes.
“Há muito descaso com nossas crianças. Tanto das famílias quanto do poder público. É preciso cobrar para garantir esses direitos”, desabafa. Afonso lembra que é impossível que o Conselho Tutelar tenha olhos e ouvidos em todos os lugares. “A população precisa nos ajudar. Vizinhos, professores, parentes, precisam procurar o Conselho Tutelar quando presenciarem ou mesmo desconfiarem de que alguma criança ou adolescente tem sofrido maus-tratos, ainda que psicológicos”. Para o conselheiro, cabe aos profissionais do Conselho Tutelar avaliar a denúncia, ouvir a família e determinar se as crianças tiveram ou não seus direitos violados, por isso é importante que a população o mantenha informado.
Durante a pandemia, o drama das famílias com crianças aumentou por conta das aulas online. Em casa, as crianças precisam de um computador ou celular, de internet e, principalmente da atenção de um adulto para estudar diariamente. Isso nem sempre é possível, principalmente para os pais que trabalham fora de casa ou para quem tem muitos filhos. Os casos de crianças que não têm feito suas atividades, e, portanto, não confirmam a presença nas aulas, aumentou consideravelmente. As escolas encaminham ao Conselho Tutelar periodicamente uma relação destes alunos e os conselheiros os visitam para checar os motivos da ausência nas aulas. Outro tipo de denúncia que tem ocupado o conselheiro Afonso é a de trabalho infantil. “Nos sinaleiros, na feira, em atividade de mendicância, há muitas crianças”.
“Há dias que eu sonho com os casos que chegam aqui. Com as pastas sobre a mesa, com a dor do outro. Eu tento fazer o máximo de mim, mas é muito difícil dar conta de tudo que nos chega ao Conselho Tutelar. Somos conselheiros acima de tudo, logo, além de encaminhar cada caso para onde pode ser solucionado, aconselhamos muito as famílias”. Ele lembra que o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente determina que é dever não apenas da família e do poder público o zelo com os menores, mas também da comunidade.


Movimento Vicentino

A Sociedade de São Vicente de Paulo é um movimento católico que se dedica à realização de iniciativas destinadas a aliviar o sofrimento do próximo, em particular dos social e economicamente mais desfavorecidos, mediante o trabalho coordenado de seus membros.
Foi criada em 1833, em Paris, por um grupo de seis jovens universitários católicos e um senhor mais velho, com o objetivo de aliviar o sofrimento das pessoas vulneráveis e fortalecer a fé de seus membros. Rapidamente, a instituição espalhou-se pelo mundo e já está presente em 154 países. Em seu trabalho caritativo auxilia diariamente cerca de 30 milhões de pessoas, por meio da dedicação dos cerca de 800 mil voluntários que formam a SSVP.
No Guará são dez conferências, ou núcleos, com sete a dez voluntários em cada, que atendem semanalmente 75 famílias, e outras quase 200 quando é preciso. Quando identificam uma família em necessidade, fazem uma análise daquele núcleo familiar. “Procuramos saber qual a real situação da família, tanto financeira quanto afetivamente. Se as crianças estão frequentando a escola, se os adultos estão trabalhando… A partir disso, passamos a oferecer suporte a estas famílias, como cestas básicas, móveis, material escolar, remédio. Checamos se estão inseridas nos benefícios sociais que o governo oferece, e encaminhamos, caso não estejam. Mas, o principal é conseguirmos promover a independência destas famílias”, conta Afonso.
Os voluntários procuram conseguir emprego, capacitação e meios para que as famílias possam garantir a própria subsistência com dignidade. “Há muitas crianças em situação de vulnerabilidade no Guará, assim como em todo o DF. O governo tem vários programas de benefício para famílias, mas não é suficiente. O Guará tem muitas famílias em situação de pobreza. É uma pobreza invisível, pois as pessoas não estão na rua, estão dentro das casas e apartamentos. Mas, em todas as quadras do Guará há pessoas necessitadas”, complementa o conselheiro. “A pandemia piorou muito a situação das famílias. E nosso trabalho é também de dar dignidade, de mostrar que as pessoas têm um papel produtivo na sociedade e podem se levantar. Às vezes, é mais um trabalho de aconselhamento ou de acolhimento espiritual”.