FELIPE GUSTAVO – Um guaraense nas Olimpíadas de Tóquio

O morador do Guará te-rá um motivo a mais para acompanhar as Olimpíadas de Tóquio, que começam no próximo 23 de julho, sexta-feira. A cidade será representada por um atleta nascido e criado aqui, embora tenha feito carreira profissional fora do país. Felipe Gustavo Macedo, 30 anos, será um dos três atletas brasileiros a representar o Brasil no skate masculino, esporte incluído nas Olimpíadas pela primeira vez a partir deste ano.
O nome pode não ser muito familiar para a maioria dos guaraenses e dos brasileiros, até porque ele pratica um esporte de pouca visibilidade no Brasil, mas Felipe Gustavo é muito conhecido e reconhecido nos Estados Unidos e nos países onde o skate tem status de esporte internacional. Foi em busca desse reconhecimento que ele deixou o Guará há 15 anos e foi morar em Los Angeles, Califórnia, e é hoje é reconhecido como um dos principais skatistas do mundo a ponto de viver, e bem, exclusivamente do esporte, o que nunca aconteceria se continuasse no Brasil.
Patrocinado por uma das principais marcas de produtos do skate, Felipe ganha a vida entre pontes aéreas e manobras radicais. Na Web tem mais de 300 mil seguidores. É, portanto, uma celebridade, embora não o seja por aqui.

Influenciado pelos irmãos

Entretanto, o skate não era o sonho de consumo esportivo do garoto Felipe Gustavo, que gostava mesmo era de futebol até aos sete anos de idade, mas foi influenciado a mudar pelos irmãos mais velhos, Paulo Henrique e Marcos Vinícius, que eram levados pelo pai Paulo Macedo para praticarem skate no Parque do Cidade. Vendo que Felipe também passou a gostar do esporte, o pai o presenteou com um skate também. “A gente era uma família do skate. Meu pai era o mais empolgado e sempre falava para irmos ao parque. Meus dois irmãos andando e meu pai sempre incentivando fizeram muita diferença na minha escolha”, relembra. “Com dificuldade para se equilibrar nas quatro rodinhas, ele apostava corrida de skate sentado, pegando impulso com as mãos. Depois que aprendeu a ficar de pé na prancha, ninguém mais o segurou”, conta Paulo Macedo.
Ao perceber que o filho tinha potencial para crescer no esporte, depois que Felipe passou a ser uma das atrações do Setor Bancário Sul, onde a galera skatista gosta de praticar, Paulo construiu uma pista na própria casa, na QE 1 do Guará I, para que os filhos pudessem praticar e Felipe se aperfeiçoar.
Aos 15 anos, Felipe já era considerado um dos principais skatistas do país. Colecionando títulos nacionais, ele participou de um campeonato em Minas Gerais, cujo prêmio era uma passagem para competir no campeonato mais tradicional do mundo, em Tampa, nos Estados Unidos, onde conquistou o título da competição, mas não recebeu o prêmio prometido pelos organizadores. A frustração pelo calote quase o fez desistir da carreira. Mas o pai resolveu apostar no potencial do filho e vendeu seu próprio carro para financiar a estadia dele nos Estados Unidos. A decisão foi acertada. Felipe passou a receber propostas para competir no circuito internacional e com novas conquistas foram surgindo os patrocínios. Com o sucesso, o irmão Paulo Henrique, que o incentivou no início da carreira, também foi premiado, ao se tornar o fotógrafo oficial de Felipe e também morar em Los Angeles. “Já estive competindo em todo o mundo e sempre procurando orgulhar meu país e minha família”, conta Felipe.

Visitas à Brasília

Morando em Los Angeles há 15 anos, Felipe Gustavo volta a Brasília apenas para matar a saudade da família, dos amigos e do Setor Bancário Sul, um dos lugares preferidos dele no mundo, ao lado de Barcelona e de cidades da China, para fazer o que mais ama, que é andar de skate. É na capital federal que está a maioria dos amigos que ainda o chamam de Bochecha, apelido que ganhou no esporte. “Sinto-me muito livre, é um pico que o mundo inteiro queria ter. Pode andar de skate que ninguém vai te mandar embora. É coberto, o chão é bom e temos essa liberdade em Brasília”, elogia.
Os reflexos de o skate alcançar o status de modalidade olímpica já são sentidos pelos amantes do esporte. “O skate sempre foi uma parada de rua, que até hoje é muito discriminada. Sendo um esporte olímpico, deve mudar a cabeça de muitas pessoas e gerar novas oportunidades com patrocínios e visibilidade”, prevê o atleta guaraense. A primeira providência no Brasil, que divide protagonismo mundial com os Estados Unidos, foi criar a Seleção Brasileira e um circuito nacional de park e de street. A competição serviu também para compor um ranking do país para a formação da equipe brasileira a partir de 2019.
Mas Felipe quer mais do Brasil em relação ao skate. Até os programas de patrocínio e de ajuda estatal acabaram, como o Bolsa Atleta, criado pela Secretaria de Esporte e Lazar na gestão do secretário Agrício Braga na década de 90, não existe mais. Foi a Bolsa Atleta que o ajudou a deslanchar na carreira, além do “paitrocínio”. “O que me deixa mais indignado em Brasília é que não tem uma pista de skate street”, lamenta. “Eu sempre apelei para o governo fazer um circuito na cidade, mas nunca consegui. Não é possível que, com as Olimpíadas não vamos ganhar uma pista”, alfineta.

 

Convocação para as Olimpíadas

Gustavo será um dos três representantes do Brasil na modalidade – os outros são Kelvin Hoefler e Giovanni Vianna. O trio da Seleção Brasileira de Skate garantiu a vaga matematicamente na semifinal do Mundial de Street, em Roma (ITA), no dia 5 de junho. “Eu nem sabia que o skate ia ser algo olímpico, que ia ser uma profissão. Depois de tanto tempo, 22 anos de skate, o skate entrou nas Olimpíadas, e eu estou fazendo parte da primeira seleção. Nem sei qual vai ser a sensação, mas só de estar lá entre os melhores representando o meu país deve ser um sentimento que só quem está lá sabe como é. Não vejo a hora. Vou fazer de tudo para levar a medalha para o Brasil”, conta, emocionado, Felipe Gustavo.
O skate passou a adotar o formato olímpico em duas voltas de 45 segundos e cinco tentativas de manobra. A pontuação final é formada pela somatória das quatro melhores notas.
Com os resultados da semifinal, o Brasil soma um total de seis skatistas entre os 30 melhores do Mundial no Street masculino, incluindo o guaraense Felipe Gustavo.