Circo Vitória tá indo embora. Por falta de público

Para viabilizar a continuação na cidade, espetáculos precisariam de no mínimo 10% do público anterior à pandemia, mas não conseguiram

Circo, cinema e teatro estão entre as atividades que mais sofreram com a pandemia, por dependerem da presença de público. E continuam sofrendo. O Circo Vitória, por exemplo, ficou um ano e quatro meses parado no quadradão entre as QEs 15 e 26 do Guará II por causa da proibição de oferecer espetáculos, mas o fechamento prolongado não despertou o público no retorno das atividades. De 200 a 300 pessoas em média por espetáculo antes da pandemia, a presença não alcançou 10% após a liberação, o que fez o circo desistir de continuar na cidade e ir para Samambaia a partir da próxima semana. Domingo, dia 1º de agosto, será o último espetáculo no Guará.
A expectativa da família Mocelin, que fundou e continua administrando o circo há 28 anos, seria um retorno gradual do público, a partir de menos 10% da presença antes da pandemia, ou seja, entre 15 e 20 pessoas, o mínimo suficiente para cobrir os custos e estimular os artistas. Mas não foi o que aconteceu. Nos últimos dias, alguns espetáculos tiveram que ser cancelados quando a venda alcançou bem menos que isso. De acordo com Michele Mocelin, porta-voz da família, apenas as matinês estavam atingindo o público mínimo, mas não o suficiente para garantir a permanência do circo na cidade. “Está sendo uma grande frustração pra nós, porque gostaríamos de continuar mais tempo no Guará, para retribuir a acolhida que recebemos da comunidade na crise da pandemia. Mas não dá mais, até por uma questão de sobrevivência nossa e do circo”, lamenta.
Para Michele, duas são as causas apontadas pela baixa frequência pós-pandemia: o receio de contaminação em aglomerações e o frio em Brasília nesta época do ano.
No período em que se viu obrigado a ficar parado, o grupo de artistas e de direção até pensou em motivar o retorno do público, ao criar novas atrações, para atrair inclusive quem já tinha ido antes. A principal das novidades foram os trapezistas voadores, que se juntaram ao globo da morte, malabaristas, mágicos, bambolê, lira e tecido acrobático. Foram criadas também atrações para as crianças que acompanham os pais, como shows com os personagens Mickey, Minie e Pateta. Outra novidade é a única mulher do país como forte aparadora, a que apara os malabaristas quando eles retornam ao solo. São 18 pessoas envolvidas diretamente e indiretamente nos espetáculos, e a exceção do grupo que acompanha o circo são as cinco crianças abaixo de 14 anos. Mas nem as novidades atraíram o público.


Solidariedade na sobrevivência

Acostumado a aportar aonde é bem recebido pelo público e escolher para onde ir, o Circo Vitória se viu diante de uma realidade única e dura nos seus 28 anos de existência, ao ser pego de surpresa pela pandemia do coronavírus quando se apresentava no Guará desde o final de 2019 e se ver obrigado a não deixar a cidade e, pior, suspender seus espetáculos.
Essa parada forçada, poderia provocar desespero nas 20 pessoas (agora são 23, incluindo um que nasceu há seis meses aqui) que dependem da arrecadação dos espetáculos do Circo Vitória para continuar sobrevivendo. Mas não provocou. Embora preocupados com o futuro, as 16 pessoas da família Mocelim – menos uma idosa de 80 anos foi para a casa de uma das filhas por segurança – e quatro ajudantes resolveram enfrentar a realidade sem lamentações e aproveitar a proximidade com o guaraense para fazer e reforçar amizades – é a terceira vez que o circo aporta no Guará. É dessa relação que os membros do circo receberam exemplos de solidariedade através de doações. A situação mobilizou campanhas nas redes sociais da cidade para arrecadar gêneros alimentícios que pudessem reforçar e melhorar a alimentação dos integrantes do circo. “Foi lindo o carinho que recebemos da comunidade. Os moradores não nos deixaram passar necessidades”, diz Loiri Mocelin, a primeira dama do Circo Vitória. “Guará passou a ser nossa segunda casa. Pretendemos retornar outras vezes, numa situação melhor, para retribuir o que recebemos da comunidade guaraense”, espera Michele.

Circo Vitória

Últimos espetáculos
Dia 31 (sábado) e 1º de agosto (domingo), Às 16h30, 18h30 e 20h30.

Ingresso a R$ 20