Vítima de um câncer, que o debilitou nos últimos dois anos, o artista plástico Paulo Ataíde Cavalcante, o Mestre Ataíde, faleceu hoje, 28 de outubro, no Hospital de Alexânia, em Goiás.
Mestre Ataíde era um dos mais influentes artistas do Guará. Aglutinador, seu ateliê era ponto de encontro da militância cultural e ele próprio era um importante mediador da classe.
Ataíde veio para o DF com 10 anos de idade, juntamente com seus pais e seis irmãos. Cresceu brincando no cerrado, desfrutando deste bioma tão rico e diversificado, e naturalmente um laço foi criado entre o garoto aventureiro e o meio ambiente que ele amorosamente chama de “velho amigo”. Aos 12 anos foi convidado por um professor da UnB para frequentar aulas na universidade, onde os desenhos do garoto na calçada chamaram a atenção do professor, mas Ataíde não levou a sério o seu talento e não prosseguiu nos estudos. Considerado um autodidata ele pintava, desenhava, escrevia e esculpia, mas nada profissional, mas apenas um hobby.
Ao longo da vida adulta trabalhou em diversas áreas, morou em muitas regiões do país, e aos 50 anos se descobriu enfim, mestre artesão e ecoartista. Inventou uma técnica a partir de matérias-primas encontradas no cerrado, e a denominou ecoarte.
Sementes, folhas, frutos secos, flores, cascas de árvores, “é tudo encontrado no chão, nada é arrancado da natureza e ao manuseá-los cada item é conservado como foi encontrado, não furo as sementes, não corto, procuro manter o mais original possível”, afirma o mestre artesão. A ecoarte é também um elemento para inclusão social, educação e conscientização ambiental, e que pode ser geradora de renda através da produção autossustentável.
Despretensiosamente também foi a forma como ele produziu uma série de quadros que pintou e intitulou “Pensando Oscarmente”. As telas ecologicamente corretas utilizam o papelão (como tela), e as molduras são feitas de talos de buriti, madeira típica do cerrado, que são retiradas sem agredir o meio ambiente. Os quadros homenageiam o arquiteto Oscar Niemeyer – seus traços e suas colunas – e os pioneiros que idealizaram e construíram a capital federal. As obras retratam também o cenário político pelos olhos do mestre artesão, e, claro, não podia faltar uma pitada de ironia em meio a tanta autenticidade.
Paulo Ataíde Cavalcante por muitos anos morou na cidade, viu boa parte de sua construção e crescimento nos anos 70 e garante que, para ele, “é a melhor cidade no DF para se morar, porque é perto de tudo, tem uma feira que é referencial, um complexo cultural (Cave) incrível, apesar de estar sendo mal utilizado, e é a cidade com maior número de praças no mundo. 99% dos meus amigos de verdade são do Guará”.