O fato de o autor ter sido identificado não encerra o processo do atropelamento e morte do jovem Matheus Menezes Assunção, 25 anos, no 16 de janeiro, às 23h30, na via contorno do Guará II, na altura da QE 30. A polícia tenta desvendar como o atropelamento aconteceu, se houve avanço de sinal por parte do motorista atropelador ou por parte do pedestre, no caso o jovem morto. A partir dessa identificação de como o atropelamento aconteceu é que o processo será encerrado pela 4ª Delegacia de Polícia do Guará para ser encaminhado à Justiça.
De acordo com o delegado titular da 4ª DP, Anderson Espíndola, se ouve avanço de sinal fechado por parte do motorista do CW New Beatle (Novo Fusca) Vinicius Couto Farago, 30 anos, ele pode responder por homicídio culposo por assumir o risco de matar alguém, com emissão de socorro por ter fugido do local sem prestar socorro à vítima. Se o sinal estava aberto e o pedestre invadiu a faixa, o crime pode ser amenizado e a pena reduzida. “Estamos ouvindo todas as testemunhas do atropelamento para entender exatamente o que aconteceu. O que sabemos até agora é que os carros em volta reduziram a velocidade quando Matheus atravessava a faixa, menos o carro de Viniícius, que estava na faixa do meio. Ele alega que o sinal estava aberto e não viu quando Mateus apareceu repentinamente à sua frente. Somente a partir dessa definição é que vamos encerrar o processo por aqui”, explica o delegado.
A polícia tenta descobrir também se Vinicius ingeriu bebida alcoólica antes do acidente, através de provas paralelas, porque ele se apresentou dois dias depois à 4ª. DP, o que não seria mais possível fazer a medição do teor alcoólico no sangue. Vinicius negou à policia que tenha consumido bebida alcoólica antes do atropelamento, mas fotos recebidas pelos parentes de Matheus mostram o atropelador com uma garrafa de cerveja na mão durante a gravação de um clipe de música sertaneja no mesmo dia do acidente. “Pelas fotos da gravação do clipe, vê-se que ele estava com a mesma roupa do momento do atropelamento, conforme mostra o vídeo em que ele deixa o local e caminha em direção à QE 28, inclusive com uma garrafa de cerveja na mão. O carro dele também está nas fotos do clipe”, conta Iasmim Assunção, prima de Matheus, que coordena um grupo de parentes e amigos no Instagram e no WhatsApp em busca de provas que incriminem o atropelador.
A polícia e a família também buscam provas da passagem de Vinicius no bar Santo Botequim, na ADE do Núcleo Bandeirante durante à noite, onde teria consumido mais bebida alcoólica antes do atropelamento. Em entrevista concedida ao jornal Correio Braziliense, Vinícius Farago, que é morador do Guará e gerente de uma distribuidora de gás na QE 38, contou que se apresentou na delegacia e tentou buscar informações sobre a vítima. “Me coloquei à disposição tanto da DP, quanto do hospital para qualquer coisa”, disse. Questionado sobre o motivo de ter fugido do local do acidente, o gerente afirmou que sentiu medo. “No momento, fiquei assustado, com medo de ser linchado porque veio um pessoal correndo em minha direção, por isso, fugi”.
Três dias internado
Mateus chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) e chegou a ficar três dias internado no Hospital de Base até não resistir aos ferimentos. Nesse período, a família fez ocorrência do desaparecimento dele e divulgou as fotos nas redes socias da cidade em busca de informações. A descoberta de que Matheus havia morrido somente veio uma semana depois, no sábado, dia 22 de fevereiro, quando os familiares foram até o Instituto Médico Legal (IML) e reconheceram o corpo. Como não portava documentos durante o acidente, nem o hospital e nem a polícia não conseguiram a identidificação de Matheus e avisar à família.
Vinicius Farago, o atropelador, é integrante de um grupo de carros rebaixados no Instagram com 1,3 milhão de seguidores e tinha duas ocorrências graves de trânsito, uma em 2017, quando foi abordado pela Polícia Militar por conduzir em alta velocidade e desacatado os policiais e a segunda no ano passado, quando foi notificado por som automotivo com volume alto e dirigir sem cinto de segurança.
Atropelado quando voltava para casa
Imagens de câmeras de monitoramento da via contorno e depois do acidente feitas por uma moradora da QE 40 quando o Samu fazia o atendimento à vítima, mostram que o atropelamento teria acontecido às 23h30 do domingo, quando Matheus se dirigia à casa do irmão na QE 40.
Matheus tinha deixado a casa da namorada em Águas Claras no final da tarde de domingo e pegado um aplicativo Uber para ir ao Guará, mas não foi mais visto e nem deu mais notícias. Como não conseguia informações sobre o paradeiro de Matheus, Simone Assunção, a mãe, registrou um boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia do Guará pelo desaparecimento e passou percorrer hospitais na tentativo de encontrar Matheus internado. Em vão. Mas, depois que recebeu informações que duas pessoas teriam informado à polícia que teria havido um atropelamento na via contorno do Guará II no mesmo dia do desaparecimento, a família procurou o Instituto Médico Legal, onde encontrou o corpo do jovem. Simone diz que quer apenas justiça pelo filho. “O atropelador não tirou só uma vida, mas arruinou uma família inteira”, diz ela.