Uma semana após a publicação de reportagem do Jornal do Guará sobre o aumento de furtos de tampas de bueiros e fios de rede de telefonia e dados na cidade, a polícia fez o primeiro flagrante dos receptadores desse tipo de material. Nesta terça-feira, 8 de fevereiro, foi presa em flagrante a proprietária do ferro velho Três Irmãs, localizado na QE 40 do Guará II, Daniela do Carmo Oliveira, 22 anos, com uma quantidade de fios de cobre furtada da rede de alta tensão da Neoenergia Distribuição. Enquadrada pelo crime de receptação, a empresária não teve direito à fiança e foi encaminhada à prisão. Daniela é filha de Vilmar Lima de Oliveira, o gerente do ferro-velho, foragido da polícia por ter sido acusado de matar um morador de rua que teria furtado material em dezembro passado da sua loja.
A polícia já estava monitorando os ferros velhos na região do Guará por causa do aumento de denúncias de furtos de grelhas de bueiros e fios de cobre na cidade, mas não havia ainda conseguido flagrar a receptação do material. O furto é mais difícil de ser flagrado porque é praticado geralmente de madrugada no caso das tampas de bueiros e nas redes subterrâneos nos casos de furtos de cabos. Mas, um vídeo de um homem furtando grelhas de bueiros na QE 34 em plena luz do dia no 2 de fevereiro, que circula nas redes sociais e divulgado por emissoras de TV, mostra que os criminosos nem se preocupam mais em escolher a hora dos furtos. A reportagem do Jornal do Guará sobre o assunto provocou muita indignação nas redes sociais da cidade.
Demanda incentiva furto
O furto de grelhas e fios não provoca prejuízo somente às concessionárias de serviços ou ao governo. Os apagões provocados por corte de fios deixam a população sem energia por horas, porque a reparação do serviço às vezes é complexo dependendo da quantidade de fios que é cortada. O prejuízo maior é do comércio que depende da energia para refrigeração dos seus produtos e nem sempre dispõe de geradores próprios.
Os fios de cobre são os mais cobiçados desse mercado paralelo, pelo seu alto valor de demanda e facilidade de transporte. De acordo com levantamento da Neoenergia, o furto de cabos de energia quase dobrou me 2021 se comparado a 2020 – foram 444 ocorrências no ano passado, contra 229 no ano anterior. Em 2020, 27.759 metros lineares foram levados pelos ladrões, mas em 2021 foram 81.090. O prejuízo, segundo a empresa, chega a R$ 3,6 milhões. Nos trechos de responsabilidade da Ceb Iluminação Pública e Serviços (Ceb Ipes), referente à iluminação pública, o prejuízo foi de R$ 300 mil no ano passado, que representou um aumento de 330% em relação a 2020.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, 290 pessoas foram presas por furto de cabos em todo o DF em 2021, boa parte de reincidentes, alguns com até quatro passagens pela polícia pelo mesmo crime. Ainda de acordo com a Secretaria, foram registrados no ano passado 1.541 ocorrências de furtos de cabo de transmissão de dados, de telefonia e de energia em todo o DF.
Diferente do furto de grelhas, que geralmente é praticado por moradores de rua e carroceiros, a maior parte dos furtos de cabos é praticada por funcionários de prestadores de serviços às concessionários, porque são os que melhor conhecem as redes, podem se disfarçar como reparadores de um problema, e tem conhecimento técnico para cortar fios sem risco de choque.
Furto de grelhas aumenta no Guará
A polícia e a Novacap tem recebido cada vez mais denúncias de furtos de tampas de bocas de lobo na cidade. Em algumas quadras, a quantidade furtada chega a ser maior do que a que sobrou. A reposição é feita pela Novacap, conforme demanda das administrações regionais, ao custo de R$ 960 por cada grelha, que são revendidas pelos ladrões aos ferros velhos por cerca de R$ 50.
A retirada das tampas dos bueiros pode causar inúmeros prejuízos à comunidade, como entupimento de galerias pluviais, por causa do lixo, terra e entulhos que entram nas redes. Também pode haver acidentes com ciclistas, motoristas, pedestres e animais.
O delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia do Guará, Anderson Espín-dola, acredita que a prisão da proprietária do ferro velho da QE 40 pode inibir o furto de grelhas e fios na cidade, porque os outros receptadores devem evitar a compra desse tipo de material e os ladrões não terão a quem vendê-lo.
Dono do ferro velho é acusado de matar morador de rua
O proprietário do ferro velho Três Irmãs, flagrado receptando fios de cobre, é acusado também de homicídio praticado em dezembro, mas está foragido. Vilmar de Lima Oliveira, 48 anos, e seus amigos Luis Fernando Rodrigues Silva, 24 anos, Erico Adann Cardoso, 23 anos, teriam agredido Jocimar Bento de Sousa, 48 anos, com socos, pontapés e barra de ferro até a morte.
As agressões a Jocimar, que trabalhava com recolhimento de material reciclado nas ruas do Guará, acusado pelos agressores de ter furtado fios de dentro do ferro velho, aconteceram no início da manhã, mas ele foi levado ao Hospital de Base somente à noite e não resistiu aos ferimentos.