Gerida e mantida unicamente por voluntários, a Horta Comunitária do Guará é um exemplo de que o engajamento comunitário pode ser a solução para o sucesso de alguns projetos criados pelo governo. Implantadas no Governo Arruda em 2010, com o objetivo de incentivar a produção de alimentos saudáveis e baratos, a prática da cidadania e promover a interação entre os moradores, nem todas as 34 hortas comunitárias espalhadas pelo Distrito Federal deram o resultado esperado. Por falta de apoio das administrações regionais e de interesse dos moradores, algumas delas não vingaram ou não produzem como deveriam. Mas, algumas deram certo, e a do Guará é a principal referência de todo o projeto, por causa do engajamento de lideranças comunitárias comprometidas e o interesse cada vez maior de voluntários, principalmente durante a pandemia, quando o plantio, a colheita e a confraternização atraíram quem não tem um pedaço de chão para cultivar e procurava uma forma de sair de casa com menor risco da contaminação pelo vírus. Essas hortas ajudam também no resgate do solo, transformam os locais em práticas terapêuticas e oferecem uma abordagem pedagógica.
A Horta Comunitária do Guará, na QE 38, chegou a ficar abandonada no governo Agnelo Queiroz por falta de incentivo oficial, mas voltou a ser ativada no início do governo Rollemberg pelo então administrador regional André Brandão, e desde então não parou mais de produzir, graças ao interesse de um grupo de voluntários liderado pela engenheira ambiental Dahiana Ribeiro, a Dai.
Além de ser fonte de alimentação saudável, a horta também produz ervas medicinais, promove cursos relacionados ao plantio e aproveitamento total de alimentos, entre outros temas. Mas, para chegar ao estágio atual, o grupo de voluntários teve que implantar regras e dividir tarefas. Para começar, foram criados dez grupos de atividades específicas, cada um liderado por alguém com atividade profissional ligado ao assunto ou que tenha demonstrado interesse por ele. Os grupos foram divididos em Mobilização de Comunidade, Educação Ambiental, Plantio e Colheita, Insumos e Materiais, Ervas Medicinais Lanche Comunitário, Divisão da Colheita, Comunicação e Marketing, Pomar e Compostagem. Por exemplo, a divulgação é feita por uma voluntária jornalista, responsável pela Comunicação e Marketing, e assim por diante.
A cada 15 dias é feita a colheita, sempre nas manhãs de sábado. Em média, cada encontro semanal resulta na entrega de 30 a 40 cestas, compostas de diferentes produtos. São cerca de 200 voluntários, mas a média de presença nos encontros varia de 50 a 60.
O sistema é simples: para colher, é preciso plantar. Por isso, há um cadastro de voluntários responsáveis pelos cuidados com a horta e uma lista de presença. Mas, quem não puder participar da atividade de 9h às 12h ou não é voluntário cadastrado, tem a oportunidade de adquirir os produtos na feira da horta. A diferença das outras feiras de hortigranjeiros é que a da horta do Guará, além de 100% orgânica, o próprio cliente escolhe e colhe os produtos, como se fosse de sua própria horta. O dinheiro arrecadado na feira já consegue manter o adubo consumido nos canteiros.
Instituto Arapoti
Embora o espaço pertença à Administração do Guará, o projeto da Horta Comunitária é mantido pelo Instituto Arapoti, presidido pela própria Dai Ribeiro, que desenvolve outros projetos em outras regiões do Distrito Federal, como “Escola Sustentável”, “Uso da Energia Social”, programas “Condomínio, Escola e Empresa Sustentável”, em que desenvolve estudos de central de resíduos, coleta seletiva, energia solar, captação de água das chuvas, implantação de hortas comunitárias e fossas ecológicas, mediante o pagamento de um valor mensal.
Apoios
Até o ano passado, a horta sobrevivia apenas de doações financeiros ou de mão de obra dos voluntários, mas nesse período conseguiu duas emendas parlamentares, uma do deputado Rodrigo Delmasso para a construção de um pergolado de madeiro e outra do deputado distrital Leandro Grass para implantação do Horto Medicinal. Proprietária do espaço, a Administração Regional do Guará participa com mão de obra da manutenção quando necessária, e a Emater-DF é parceira nas orientações.
Moeda
Outra novidade é a criação da moeda social Ecograna, que é trocada por resíduos recicláveis e vale dinheiro na compra de produtos em comércios parceiros, como padarias, mercadinhos e outros comércios na cidade, principalmente nas quadras próximas da horta. Para ter direito ao vale compras, basta levar garrafas pets, latinhas de alumínio e papelão e fazer a troca.
Plantas medicinais
O Horta Medicinal já conta com 30 espécies de plantas medicinais, mas o projeto está sendo ampliado graças à emenda parlamentar destinada pelo deputado distrital Leandro Grass, e a orientação voluntária de um servidor do Sistema Único de Saúde (SUS), pesquisador e especialista em plantas medicinais. “Queremos ampliar ainda mais o nosso banco de ervas, em quantidade e variedade. A proposta é resgatar o hábito de nossos ancestrais, nossos avós e dos indígenas, de utilizar o uso terapêutico das plantas para tratamento de doenças e dores simples, sem contra indicação e muito mais barato”, explica Simone Vaz, coordenadora do Horto Medicinal e pós graduada em Educação Ambiental.
Para participar do projeto, basta entrar em contato pelo Instagram da horta ou pelo telefone 98568-3562.