ALÍRIO NETO – Renascido de cinco AVCs e um câncer raro

Para quem sofreu cinco AVCs (Acidente Vascular Cerebral), ficar quase cego e ser diagnosticado com um câncer raro de pulmão que chegou à metástase, e estar hoje cerca de 80% curado de tudo três anos depois, pode se dizer que praticamente nasceu de novo. Esse é o sentimento do ex-administrador regional do Guará, ex-deputado distrital, ex-deputado federal suplente, ex-secretário de Justiça e Cidadania, Alírio Neto, morador do Guará desde os 14 anos de idade.
Ainda com algumas sequelas do bombardeio que sofreu no organismo, Alírio é um exemplo de força de vontade de viver e de luta contra as adversidades, por mais que elas que te desafiem. E um desses desafios que ele teve que superar foi evitar a contaminação pela Covid no período mais vital de sua recuperação, por causa das comorbidades que ainda sofria. Quem o vê hoje andando, dirigindo e praticando esportes depois de tudo o que aconteceu quase não acredita que ele esteja tão bem.
Mas determinação sempre foi a marca desse piauiense de Piripiri, 61 anos, formado em Direito, que chegou em Brasília aos 13 anos acompanhando o pai, que iria administrar um restaurante na Câmara dos Deputados na época da ditadura militar. Como o deputado que apadrinhava o pai foi cassado pelo regime imposto, a família ficou sem teto – morava num apartamento funcional na 108 Sul e foi despejada – e sem a renda. Foi quando surgiu a oportunidade da família receber uma casa na QE 32, através da Sociedade Habitacional de Interesse Social (SHIS), atual Codhab. “Era o início do Guará, e só havia lama e mato, nada de asfalto. Mas foi uma época de muita felicidade”, relembra Alírio.


Músico e agitador cultural

Alírio começou a participar mais intensamente da vida do Guará quando o grupo de amigos de adolescência que integrava, formado ainda por Joel Alves (ex-administrador regional do Guará e colunista do Jornal do Guará), Cléber Monteiro (ex-diretor geral da Polícia Civil), José Cícero da Silva, o Siri (professor de karatê) e Carlos Energia, criaram a banda “Cães e Gatos” – Alírio era o baterista. Como não tinham onde tocar, resolveram se apresentar nas praças do Guará, com patrocínio dos comerciantes locais. Foi o embrião do projeto Ruas de Lazer, que durante muitos anos fez sucesso na cidade.
A vida pública de Alírio começou aos 19 anos, quando passou no concurso da Polícia Civil para Agente de Polícia e três anos depois foi um dos mentores da criação do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), que elegeu Cláudio Monteiro seu primeiro presidente. Eleito deputado distrital na primeira eleição da Câmara Legislativa em 1990, Cláudio Monteiro o convidou para ser chefe de Gabinete. Reeleito em 1994, Cláudio o indicou para assumir a Administração do Guará em 1995, no Governo Cristovam. Mas, num filme que se repete até hoje, a popularidade de Alírio como administrador regional incomodou seu padrinho, que resolveu pedir sua cabeça ao Governador Cristovam, com receio da criatura ficar maior que o criador.
Esse reconhecimento da população veio em 1998, quando ele foi eleito deputado distrital – por ironia, seu padrinho político não se reelegeu – com a maior votação de um deputado distrital no Guará na história das eleições do DF. Mesmo sendo bem votado em 2002, não conseguiu se reeleger por causa do quociente eleitoral, mas voltou a ser eleito em 2006, quando assumiu a presidência da Câmara Legislativa com o apoio do governador eleito José Roberto Arruda. Após dois anos no cargo, quando conseguiu construir a atual sede da Câmara, Alírio foi convidado por Arruda para assumir a Secretaria de Justiça e Cidade, quando criou programas lembrados até hoje pela população, como o Pro Vítima, de apoio às famílias de vítimas de crime, campanha de enfrentamento às drogas na adolescência, e o Casamento Comunitário, além de ter transformado o Na Hora no órgão público do DF mais bem avaliado pela população brasiliense. Em 2014, recebeu mais de 79 mil votos para deputado federal, e mesmo sendo o 5º mais votado, não conseguiu se eleger por causa do quociente eleitoral. Em 2018, resolveu tentar um voo mais alto, ao se candidatar a vice-governador do DF na chapa encabeçada por Eliana Pedrosa, mas perderam para a frente de Ibaneis Rocha, que o convidou para ser o diretor-geral do Detran. Mas, cinco meses depois, em junho de 2019, ele sofreu os AVCs e teve o câncer diagnosticado.
Aposentado como delegado de Polícia Civil, Alírio tem dividido seu tempo às causas do autismo – seu terceiro filho, Enzo, 11 anos é portador do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) – com a esposa Sandra, ao refúgio que construiu às margens do Lago Corumbá, e agora inicia uma nova caminhada política como pré-candidato a deputado federal. E, como atleta que sempre foi, é frequentador assíduo de academias onde pratica musculação e onde grava podcast de entrevista com personalidades do DF.