A história de vida dela é semelhante à de milhares de migrantes que deixaram sua terra natal, onde viviam com dificuldades, principalmente do Nordeste, e vieram para Brasília em busca do eldorado oferecido pela nova capital. Mas o resultado da saga de Vânia Gurgel é diferente da saga de muitos, que desistiram no meio do caminho ou não conseguiram se sobressair, mesmo na terra das oportunidades. Ela dormiu ao relento quando chegou aqui, trabalhou como empregada doméstica para sobreviver, gerenciou uma grande empresa com 7 mil funcionários, foi gerente de um dos polos do programa DF Presente e administradora regional do Guará e da Estrutural. Enfim, Vânia é um exemplo de que o sol nasce para todos, mas somente brilha para quem tem perseverança.
Nascida em Caraúbas do Apodi, a 200 quilômetros de Natal, mais velha dos dez filhos do pai ferroviário, Vânia teve que começar a trabalhar muito cedo, aos dez anos, na lanchonete de um tio, para ajudar no sustento da casa. Lá em Caraúbas casou-se e em 1995 veio para Brasília com um filho de apenas três meses, numa viagem longa de ônibus, em busca do marido que tinha vindo antes. Ao chegar na antiga rodoferroviária, nem o marido e nem ninguém a esperava. Dormiu ao relento com filho pequeno. Tinha apenas o contato de um parente, mas, para localizá-lo, teve que trocar o relógio por uma ficha de telefone de orelhão. Foi morar no Céu Azul, no entorno de Brasília, de favor. O marido não estava mais aqui e ela não sabia.
Essas primeiras dificuldades foram a senha para começar a luta por uma vida melhor. Como tinha que sobreviver, foi ao Gama procurar um trabalho de doméstica e, para conseguir, teve que esconder que tinha um filho pequeno ainda amamentando.
“Um dia, resolvi que aquela não era a vida que eu queria. E que iria vencer na vida, mesmo sem qualificação para coisa melhor. Mas tinha vontade de trabalhar e de vencer. Era o suficiente”, recorda. Conseguiu um emprego de copeira na Servegel, uma empresa de manutenção e prestação de serviços. Lá, passou por todos os cargos, até chegar a gerente de pessoal. Como demonstrava liderança e gana de vencer na vida, o dono da empresa viu nela potencial político e a convenceu a se candidatar a deputada distrital em 2018, claro, com o apoio financeiro dele. E quase deu certo. Mesmo desconhecida da maioria da população guaraense e de Brasília, ela conseguiu quase 5 mil votos, ficando na terceira suplência do deputado eleito Valdelino Barcelos.
A garra daquela baixinha conversadeira que conheceu na campanha encantou o governador eleito Ibaneis Rocha, que a convidou para participar do seu governo, de preferência numa administração regional. Ela escolheu a do Guará, onde morava, mas faltava o aval do padrinho político da cidade, o deputado distrital reeleito Rodrigo Delmasso, que fazia parte da base do governo no legislativo. “Fui a ele e pedi o apoio. Ele concordou e o governador Ibaneis me nomeou para o cargo”, conta Vânia.
Na Administração Regional do Guará ela ficou apenas seis meses, o suficiente para deixar um legado que marcou sua passagem, de forma positiva, pelo cargo. Por injunções políticas, ela teve que deixar o cargo, mas Ibaneis a nomeou gerente do Polo Central do programa DF Presente, de apoio às administrações regionais e órgãos públicos.