A pintura de uma fênix, ave da mitologia grega que representa a superação e o recomeço, no muro externo não é um acaso. Foi grafitada de propósito para mostrar que o Centro de Ensino Fundamental 10 (QE 46 do Guará II) já passou por uma maré de turbulências que a deixou com má fama de ambiente violento e por isso mesmo rejeitada por parte da própria comunidade. Por causa dessa má reputação, a escola chegou a ter metade de alunos matriculados em relação à quantidade atual, porque pais e alunos não queriam frequentá-la. Mas isso é um passado distante. Hoje, o CEF 10 é uma das escolas públicas mais respeitadas do Guará, a mais bem avaliada da cidade pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, e considerada uma escola modelo pela Secretaria de Educação.
A virada começou há pelo menos oito anos, quando a escola recebeu uma nova direção, disposta a escrever a nova história, reiniciada com rigor na disciplina, pontualidade nos horários, controle de frequência, uso obrigatório do uniforme, interação com os pais e introdução de atividades culturais e esportivas estracurriculares.
De acordo com diretora Elizabeth Caetano Neves, no cargo desde 2017, o processo de recuperação começou quando a escola resolveu dividir a busca das soluções com toda a comunidade escolar, incluindo pais, professores, supervisores, diretoria e os próprios alunos. “Fizemos ver a eles que a responsabilidade pela melhoria da qualidade do ensino e do ambiente era de todos os atores, cada um com sua parcela. Enquanto fazemos a nossa parte, de oferecer uma estrutura melhor, tanto física como pedagógica, cobramos deles a parte que lhes cabem. Deu certo”, avalia. Como resultado, ela mostra na estante atrás da sua mesa de trabalho uma quantidade de troféus esportivos e certificados que a escola recebeu nos últimos anos.
Teve que fechar um turno no passado
Mas, o principal resultado é a quantidade de alunos e a presença deles na escola. “Há mais de dez anos, o CEF 10 chegou a ter apenas 290 alunos e cancelar o turno da tarde por causa da ociosidade. Hoje, temos quase 700 alunos frequentes e felizes, mas não foi por acaso. Tivemos que trabalhar muito para chegar a esse ponto”, completa a vice-diretora Michele Evangelista de Barros dos Santos. Ela garante que um dos principais problemas do passado, o consumo de drogas entre os alunos, origem das brigas e rixas internas, já não existe mais. Coincidiu também com a saída dos alunos da Estrutural, que passaram a frequentar a escola construída na própria cidade vizinha. Com alunos somente do Guará, ficou mais fácil fechar o cerco contra a venda de drogas nas proximidades e dentro da própria escola, tarefa que teve o auxílio do Batalhão Escolar. “Fazemos um monitoramento rigoroso de todo o ambiente escolar e, quando percebemos algum desvio, chamamos os pais para resolvermos juntos. Se for o caso, encaminhamos para outros órgãos do governo que oferecem assistência específica. E os próprios alunos que não participam do vício e do consumo nos ajudam nesse monitoramento”, completa.
Nos dois turnos, a escola recebe alunos de 10 a 17 anos, do 6º ao 9º ano de manhã e do 6º a 7º ano à tarde. Dos 700 alunos, 41 são especiais, já que o CEF 10 é uma escola inclusiva e recebe também as crianças e jovens com algum tipo de deficiência, com o apoio de educadores sociais especializados para esse tipo de atendimento.
Atividades extracurriculares
Mas, para melhorar a frequência e a confiança, a escola não se limitou a oferecer apenas o currículo pedagógico, comum a todas as escolas da rede. São oferecidas várias atividades extracurriculares, de forma a manter os alunos motivados e presentes. Neste mês de novembro, por exemplo, o principal projeto é o da discussão da consciência negra, através de palestras, faixas, cartazes, oficinas de artesanato e pintura, de aproveitamento de recicláves, todos voltados para a igualdade racial. A escola oferece ainda atividades musicais, palestras para alunos e professores sobre diferentes assuntos. Mas, a atividade que mais envolve os alunos é a desportiva, que foi ampliada após a cobertura da quadra de esportes, com recursos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF), custeado com emendas parlamentares destinadas por deputados distritais. Através do PDAF, além da cobertura da quadra, a escola instalou monitoramento com câmeras, refez as instalações elétrica e hidráulica e instalou Internet.
Na quadra coberta, os alunos praticam capoeira, vôlei e futebol. A quadra recebe até um time de queimada, esporte muito praticado nos anos 60 e 70, que participa dos campeonatos em Brasília e no país. Lá, o grupo, apadrinhado pelo deputado distrital Martins Machado (Republicanos), treina às segundas, quartas e sextas, à noite. Aos sábados, a escola é a sede do grupo de escoteiros Hokma, que já perambulou pelo Clube de Vizinhança II, ao lado do ginásio coberto do Cave, e o 4º Batalhão da Polícia Militar.
Para o professor de Educação Física e treinador de vôlei, Glauber Batista de Barros, há sete anos no CEF 10, o esporte é o principal fator de aproximação entre os jovens, além de oferecer saúde e ocupação. “Estamos com a quadra sempre cheia, em qualquer horário, porque estimulamos a competição através de jogos e torneios interclasses, quando ensinamos noções de respeito ao adversário, aceitação de resultados adversos, além de aperfeiçoar as qualidades técnicas de quem pretende ser um atleta ou queira melhorar sua performance”, explica. Esse esforço já rendeu 11 troféus à escola nos Jogos Interescolares do Guará em diversas modalidades.
Por conta dessa nova fase, o CEF10 foi a única escola pública do Guará escolhida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios para desenvolver o projeto Na Moral, para estimular princípios de cidadania aos jovens.
Além do ensino regular, o CEF 10 promove vários projetos extracurriculares. Na matéria de História, por exemplo, eles podem aprender mais no projeto Jogos da História, através dos jogos de tabuleiros, dominó e dardos, sempre remetendo a temas antigos. Em Educação Física, a abordagem é em torno da nutrição e melhor qualidade de vida, onde os alunos são acompanhados pelo professor, aprendem como se alimentar melhor, e são medidos e pesados periodicamente, ganhando pontos quem seguir a orientação (de perder ou ganhar peso, dependendo da necessidade de cada aluno).
De acordo com as diretoras, os professores estão mais comprometidos e motivados a participar de projetos que estimulam o desenvolvimento dos alunos, e não ficam presos ao ensino tradicional, e, com isso, as aulas ficaram mais dinâmicas. Um sistema de palestras foi implantado com temas que abordam a valorização da vida, o malefício das drogas, esclarecimentos sobre sexualidade, abuso sexual, entre outros assuntos sensíveis aos jovens.