Na ausência do estado, a comunidade faz. É o que vem acontecendo com o Bosque dos Eucaliptos (entre as QEs 38, 42, 44 e as novas quadras 48 a 58), um parque que existe oficialmente, mas não recebe qualquer ação por parte do governo, no caso a Administração Regional, para preservá-lo. Embora tenha sido oficializado há 16 anos (ver histórico à frente), o parque é mantido apenas por um grupo de voluntários, que todos os anos, no período das chuvas, promove o plantio de mudas de plantas do cerrado, limpa nascentes e promove conscientização dos moradores para preservá-lo. Enquanto isso, o governo apenas promete e nada faz. Nem o cercamento consegue fazer.
O Bosque dos Eucaliptos foi criado para servir de pulmão verde para a região chamada Guará-Sul, formada pelas QEs 38, 42, 44, as novas quadras 48 a 58 e o Setor Iapi. Com a ocupação das quadras novas, para onde estão chegando cerca de 5 mil novos moradores, o parque já deveria estar implantado, mas nada foi feito até agora. Até mesmo um bosque natural, onde existem cinco nascentes, recebe cuidados do governo e ainda abriga um depósito de material de construção e de máquinas para asfaltamento e terraplenagem, o que ajuda a provocar a degradação do que resta da natureza. Em outra parte da área do parque, uma teimosa vila de carroceiros é responsável pelo acúmulo de lixo e entulho onde deveriam existir trilhas, jardins, parques e plantas, para uso dos moradores.
Voluntários já plantaram mais de 1 mil mudas
Este ano foram 150 mudas, perfazendo o total de mais de 1 mil mudas plantadas nos últimos quatro anos, quando o movimento Guará Tempo de Plantar assumiu extraoficialmente a recuperação da área. Mas, como não é cercado e abriga uma vila de carroceiros, o parque não consegue manter todas as mudas – a perda sobre o plantio de 350 mudas no ano passado foi de cerca de 30%.
A cada ano, a quantidade de voluntários aumenta, mas, curiosamente, a recuperação e preservação do Bosque dos Eucaliptos pouco atrai o interesse dos seus vizinhos mais próximos, das QE 38 e 44. A maioria das pessoas que participou do plantio no domingo era formada por moradores de outras quadras que gostam da natureza e até de outras cidades, como foi o caso de um grupo do Lions Clube de Taguatinga, que tem participado todos os anos da ação, e de um grupo de escoteiros do Grupo João XXIII.
A de domingo foi a quarta ação de plantio no Bosque dos Eucaliptos, promovido pelo movimento. De acordo com Simone Vaz, coordenadora do Guará Tempo de Plantar, a ação deste ano foi voltada principalmente para a manutenção do que foi plantado no ano passado. “Fizemos um consórcio de espécies arbustiva utilizadas como adubação verde e utilizamos as plantas de espécies primárias, as mais recomendadas para esse tipo de manutenção, porque garantem uma espécie de forração do terreno para a sustentação das mudas de árvores de porte maior”, explica.
Simone calcula em cerca de 30% a perda das cerca de 350 mudas plantadas no ano passado no parque. As causas, segundo ela, foram a falta de manutenção, a seca e o serviço de poda da grama realizada pelas equipes da Administração Regional, que, por falta de conhecimento técnico, não sabem diferençar o mato a ser cortado do que deveria ser preservado. “Das mudas de buriti que foram plantadas no ano passado, apenas uma foi salva, mesmo com a umidade do solo nas proximidades das nascentes dentro do parque”, afirma Simone. Além da falta de manutenção e do cuidado na poda do mato, ela reclama também do aumento da área ocupada por uma empresa que usa parte do parque para armazenar areia e guardar máquinas de grande porte usadas em terraplenagem.