Estacionamento da Feira do Guará -Mais uma obra goela abaixo do guaraense

Readequação das calçadas no entorno da Feira do Guará suprimiu vagas e criou espaços que podem ser ocupados por ambulantes. Administração Regional fala em 99 vagas a menos, mas segundo feirantes o número pode chegar a 300 vagas

Mais uma obra nas calçadas e ruas do Guará desagrada os moradores. A primeira, a readequação do trânsito da QI 23, gerou grande repercussão entre a comunidade. Vários encontros foram realizados entre técnicos do governo e a população durante todo o segundo semestre de 2022. Os moradores argumentam que o alargamento das calçadas e a mudança no desenho da pista a tornaram insegura, muito estreita para um local de grande circulação. Apesar dos apelos, e dos compromissos firmados pelos representantes do governo, a obra foi finalizada e não há indício que será refeita. Agora, outra obra parecida tira o sono dos empresários da Feira do Guará.

Naná, ou Nausir Rodrigues Oliveira, vende acessórios na Feira do Guará há mais de uma década. “A situação já não estava boa para a gente. Os clientes estavam sumindo, agora pode piorar muito. Quem vai querer vir pra feira se não tem onde parar?”

Todo o estacionamento em frente à estação do metrô foi remodelado, assim como o estacionamento em frente à Administração Regional. Calçadas mais largas, faixas de pedestre e áreas para bicicletários estão previstas. O problema é que a obra reduziu consideravelmente o estacionamento. Alana Noronha, uma das feirantes mais participativas, observa que apesar das aparentes melhorias para pedestres, o prejuízo para os comerciantes pode ser grande. “Nos explicaram que as calçadas largas são para os cadeirantes e para uma ciclovia, assim como as elevações vão receber bicicletários e marcar as faixas de pedestre. Mas, quem conhece a realidade da feira sabe que em pouco tempo essas calçadas estarão ocupadas por ambulantes. Eles já estão no estacionamento, concorrendo de forma injusta com os feirantes. Agora, terão mais espaço, e trarão apenas prejuízo para quem está aqui trabalhando há mais de 10 anos”.

Oscar Oliveira, o Raul, tem uma banca de bolsas na ala nova da Feira do Guará. “O que estão fazendo aqui não faz sentido Olha a quantidade de vagas que foram retiradas. E essas elevações vão reunir muitos ambulantes, que vão concorrer com os feirantes sem pagar nada”.

Responsável pelo projeto, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) informa que “a obra está sendo executada pela Novacap, com base em projeto de requalificação elaborado pela Seduh, com o objetivo de promover a melhoria de calçadas e da acessibilidade nas proximidades de equipamentos públicos e estações do metrô. Quanto às obras nos bolsões de estacionamento, eles estão sendo readequados de acordo com a legislação vigente, com a demarcação de vagas específicas para pessoas com deficiência, idosos, motocicletas, além de garantir a acessibilidade com a implantação de rampas junto às essas vagas”.
Já a Novacap, responsável pela execução da obra de R$ 1,5 milhão, informa que se trata da implantação do projeto de mobilidade ativa, no entorno da estação de metrô feira do Guará, com a execução de obras de urbanização, como pavimento em concreto rígido e asfáltico, calçadas de concreto, rampas de acessibilidade, meios-fios, sinalização viária e mobiliário urbano. A própria Novacap afirma que “o item principal da obra é a acessibilidade e não o estacionamento”.

“A obra no estacionamento na estação do metrô já tinha atrapalhado muito a gente, agora começaram essa aí do lado da feira. O movimento da feira não para de cair, a falta de lugar para estacionar vai afastar a clientela que ainda temos”, reclama a feirante de bijuterias, Sandra da Silva.

A obra está em andamento, apesar dos apelos dos feirantes ao administrador do Guará que negociou sem sucesso a interrupção da obra com outros órgãos do governo. “Tentamos de tudo. Mas a obra já estava muito avançada e não poderia mais ser alterada. O que vamos fazer é construir mais 100 vagas de estacionamento na área verde em frente, para compensar as 88 vagas perdidas e assim diminuir os impactos negativos da obra atual”, explica o administrador do Guará, Artur Nogueira. O novo estacionamento seria construído ao lado do Fórum do Guará, próximo ao local que receberá em breve um prédio do Ministério Público. Segundo o administrador, a Novacap começou o processo para construção do estacionamento, de asfalto, em regime de urgência.

“Se pelo menos usassem o espaço da área verde, atrás dos quiosques, para a criação de um novo estacionamento, melhoraria o acesso a feira. A tendência hoje é que cada vez mais carros estejam nas ruas, principalmente com o crescimento de Brasília. Reduzir o número de vagas não é a solução”, conta o feirante Luan Torres.

Porém a conta dos feirantes é muito maior. Para eles, cerca 330 vagas podem desaparecer ao término da obra. “Não recebemos quase nenhuma informação sobre a obra no estacionamento. Os feirantes têm reclamado muito da obra por conta da redução do estacionamento. Nem a Seduh e nem ninguém do governo ouviu os feirantes, agora a obra parece ser irreversível e trará muito prejuízo aos feirantes”, lamenta o presidente da associação de feirantes, Cristiano Jales. O próprio Cristiano será afetado diretamente pela obra. Uma distribuidora de bebidas, aberta recentemente por ele, está justamente no caminho da chamada adequação, paralela à linha do metrô. Ali alguns restaurantes usam parte da área ao redor da feira para atender seus clientes. Essa ocupação acontece há muitos anos, e possibilita um espaço maior para as mesas, sendo a uma importante área de alimentação da feira durante o horário de almoço. Mas, como uma nova calçada está planejada para o local, o alambrado deverá ser remanejado e parte do piso dos restaurantes será demolido.

Ambulantes

Outra preocupação dos feirantes é com os ambulantes. Hoje, o estacionamento da Feira do Guará já é ocupado por vendedores que concorrem diretamente com os empresários regularizados. Pode-se encontrar de tudo no estacionamento da feira: frutas, roupas, eletrônicos, castanhas e até camarão. Todos produtos que são vendidos no interior da feira. A nova obra cria espaços amplos sobre as calçadas, dando mais espaço para que os ambulantes se instalem ali. A falta de fiscalização também preocupa os feirantes. Os ambulantes estão dentro da feira e trabalham com tranquilidade, sem serem incomodados. Além do surgimento de novas bancas que não estão no desenho oficial da feira. Até uma nova peixaria foi instalada na entrada da Feira do Guará utilizando até a estrutura de um antigo caixa eletrônico do BRB.

No outro lado da Feira do Guará, paralelo à linha do metrô, a nova calçada vai exigir que o alambrado seja afastado e que alguns estabelecimentos reduzam a área que ocupam, como esta recém-inaugurada distribuidora de bebidas

A concorrência desleal e a estrutura precária têm afastado os consumidores. “Depois da pandemia, a feira do Guará nunca conseguiu se recuperar. As goteiras, a energia elétrica que sempre falha, a falta de conforto para os clientes, tudo isso atrapalha. Agora, sem estacionamento, as coisas podem piorar”, reclama Maria Silveira, vendedora da Feira do Guará. Pelo menos o telhado e os alambrados estão sendo reformados. Uma obra de R$ 1,8 milhão está em curso e deve ser entregue até o dia 12 de fevereiro. Além dos reparos nos telhados e no cercamento da feira, a obra está reformando parte dos banheiros e do prédio administrativo do local.

Logo na entrada da feira sugiram bancas novas, fora do planejamento original, reduzindo ainda mais o espaço dos feirantes tradicionais. Segundo a associação de feirantes, novas ocupações foram autorizadas pela Secretaria de Cidades