Cada vez mais, os governos brasileiros se tornam reféns dos seus parlamentos, através do institucionalizado toma-lá-dá-cá para garantir a governabilidade. Em troca do apoio nas assembleias legislativas e no Congresso, loteia-se cargos, espaços e verbas, como moeda de troca pela aprovação de projetos, indicações, orçamentos e outras coisas de interesse do governo.
Um exemplo dessa ingerência foi o que aconteceu hoje na Administração Regional do Guará. Sem consultar o novo administrador regional Artur Nogueira, o naco do partido Republicanos que ficou com o recém-empossado deputado federal Gilvan Máximo, que passa a ser oficialmente o novo padrinho político da cidade, encaminhou uma relação de apadrinhados para serem nomeados na Administração Regional.
Mesmo estando prevista a troca dos apadrinhados da Sara Nossa Terra, indicados pelo ex-deputado distrital Rodrigo Delmasso, pelos indicados do grupo de Gilvan Máximo, da Igreja Universal, causou surpresa, no próprio administrador, a exoneração de assessores diretos e de confiança dele, como o chefe da Assessoria de Comunicação, sua secretária executiva, que haviam sido nomeados na semana passada, além de outras pessoas indicados por ele e que deveriam permanecer por causa da experiência em outros cargos do governo, principalmente nas administrações regionais do Riacho Fundo I e do Paranoá, por onde ele passou.
A maior surpresa da relação de exonerações e nomeações publicada no Diário Oficial do DF de hoje, sexta-feira, foi a troca do diretor de Cultura, Julimar dos Santos.
Assim que o DODF foi publicado na Internet, o segmento cultural do Guará entrou em ebulição. A revolta se espalhou pelos grupos de WhatsApp da cidade, porque a medida, além de desrespeitosa com o segmento e com a própria cidade, porque a indicada sequer mora no Guará, poderia ser considerada ilegal, porque a Lei Orgânica da Cultura do DF prevê que a nomeação do diretor de Cultura de cada administração regional deve ser pinçada de uma lista tríplice votada pelos conselheiros de cultura locais. No máximo, o administrador, ou o governo, pode escolher um dos três mais votados, o que não aconteceu.
Assim que foi informado da publicação, o administrador regional Artur Nogueira foi reclamar no governo, especialmente na Casa Civil, responsável pela negociação com os parlamentares e encaminhamento das nomeações, até conseguir reverter as exonerações de quem já estava previsto para continuar na Administração do Guará, entre elas a de Julimar dos Santos. Gilvan Máximo e a Igreja Universal ficaram com o restante, que passa a substituir o grupo de Delmasso e da Sara Nossa Terra.
Resolvido o imbróglio, Artur reafirma o compromisso de indicar o nome mais votado da lista tríplice votada pelo Conselho de Cultura do Guará para o cargo de diretor de Cultura. A eleição, entretanto, que deveria ter acontecido em setembro do ano passado, ainda não aconteceu, porque o administrador regional anterior, Roberto Nobre, não publicou o edital de convocação e nem as regras da eleição.