A ideia não é nova e já é praticada em três capitais do Nordeste, em Curitiba e no interior de São Paulo e Minas Gerais, mas chegou ao Guará no final do ano passado. Um grupo de mulheres em situação de vulnerabilidade – desempregadas, vítimas de violência doméstica, mães solteiras, dependentes químicas e solitárias ou mesmo aposentadas ou simplesmente artesãs por profissão – se reúnem em torno do ofício do crochê para trocar experiências, fazer amizades e até produzir para geração de renda e como terapia ocupacional. Para dar visibilidade ao projeto, elas revestem árvores com parte do que produzem, como é o caso da praça da QI/QE 2 do Guará I, por causa da curiosidade que a iniciativa desperta, inclusive de moradores até de outras regiões do DF.
O projeto, que recebeu o nome de “Caminho das Margaridas”, surgiu em Valparaíso de Goiás (GO), e tem, atualmente, cerca de 25 participantes no Guará.
O objetivo das “Margaridas”, de acordo com Eliane Barroso, criadora e coordenadora do grupo, é auxiliar mulheres em vulnerabilidade social, que estejam passando por processo de luto, aposentadas que procuram alguma atividade e até as que buscam apenas amizades ou algum motivo para quebrar a rotina dos afazeres domésticos. “É um acolhimento amoroso e de inclusão dessas mulheres que se sentem sozinhas e desvalorizadas”, define a coordenadora.
Além do crochê, Eliane conta que o grupo também organiza rodas de conversa, piqueniques e outras atividades que ofereçam lazer às participantes. “A cada grupo formado são novas amigas que se formam, seguem juntas e assim uma apoia a outra no seu cotidiano, afastando a solidão”. A funcionária pública Vera Lúcia, conta que os encontros fazem bem a ela. “Tem muita gente que estava dentro de casa, não queria sair, gente que até perdeu parentes para a Covid-19 e agora começou a sair por causa do crochê”, conta. “Eu fico arrasada quando não posso participar porque tenho certeza que só tenho a perder quando não vou”, afirma Joelice Vieira Carneiro.
Produzindo para fazer o bem
As mulheres também produzem enxoval para gestantes ou mães de recém-nascidos que não possuem condições de comprá-los, para carentes hospitalizados e moradores de rua. Quando é vendida uma encomenda confeccionada pelo grupo, a líder do projeto divide o valor entre as que participaram da confecção.
O grupo agora começa uma nova ação solidária, com a confecção de agasalhos para doação no período do frio e continuar atendendo gestantes carentes.
Eliane Barroso conta que o projeto começou na Vila dos Garimpeiros, na Chapada dos Veadeiros, mas tomou corpo em Valparaiso de Goiás, no entorno do DF, no período da pandemia e chegou ao Guará a convite do presidente da Prefeitura Comunitária da QE/QI 2, Francisco Xavier de Castro, o Pequito. “Achei muito interessante como atração para a quadra com o revestimento das árvores da praça e está ajudando também as moradoras no aprendizado da arte e até de uma nova profissão, principalmente para quem fica a maior parte do seu tempo dentro de casa ou que precisam completar a renda familiar”, diz ele.
Em busca de apoio oficial
O projeto não recebe qualquer ajuda do governo ou de qualquer outra instituição e é custeado pelas próprias crocheteiras, mas Eliane Cardoso recebeu uma promessa de apoio por parte da deputada distrital guaraense Dayse Amarílio, durante a visita que a parlamentar fez ao grupo no sábado passado, 12 de fevereiro, na praça da QI/QE 2. “Achei a iniciativa linda e estou colocando o meu gabinete à disposição para ajudar na criação oficial do projeto, para depois ajudar na busca por incentivos públicos e até através de emenda parlamentar”, prometeu a deputada.
Para participar das atividades as interessadas precisam se matricular no curso de crochê ministrado por Eliane na Casa da Cultura, aos sábados. Depois das primeiras aulas, quando adquirem noções do ofício, elas são integradas às rodas de conversa, trocas de experiências e exposições, que acontecem todas as quintas-feiras, a partir das 14h, na praça da QE/QI 2 do Guará.
Para participar, basta entrar em contato pelo Instagram @caminhodasmargaridas e solicitar a inclusão. Os encontros são gratuitos.