Eles formam, talvez, o casal mais conhecido da música candanga e do cenário cultural brasiliense. Não há, entre os brasilienses que goste da Música Popular Brasileira que não conheça o maestro Rênio Quintas e sua companheira Célia Porto. Ele, além de renomado maestro, instrumentista e arranjador, passou a ser conhecido também como um bravo ativista cultural, não apenas como promotor de eventos, mas também como lutador pelas causas da cultura brasiliense, e guaraense em particular. É um dos mais ferrenhos críticos da privatização do Complexo do Cave – pelo menos é o mais articulado e mais respeitado – e defensor da liberação de recursos financeiros para a classe artística brasiliense, inclusive com livre acesso ao secretário de Cultura do DF.
Ela, Célia Porto, é reconhecida como uma das mais renomadas intérpretes da capital do país, com mais de 30 anos de carreira, e viveu de perto a explosão do rock brasiliense nas décadas de 80 e 90. É requisitada para apresentações em festivais e eventos em outros estados, principalmente Rio e São Paulo, e para abertura de shows de cantores famosos da MPB que se apresentam em Brasília. É conhecida também por produzir e cantar em produções voltadas para o Natal.
Comum entre os dois, além do casamento, o fato de morarem no Guará, cidade que adotaram e de onde nunca mais saíram. Carioca, Rênio mora na cidade há 24 anos, mas veio para Brasília com apenas cinco anos, acompanhando a família, para trabalhar na nova capital. Embora tenha nascido em Dores do Indaiá (MG), Célia veio para Brasília ainda criança, também com a família. Primeiro, morou na Vila Planalto, mas quando o pai se aposentou e resolveu morar numa chácara com a mãe, ela veio morar no Guará com a irmã Doralice Porto, na QE 34, aos 16 anos, para poder continuar os estudos.
Consolidação no Guará
Apaixonados depois de uma excursão à Inglaterra com o grupo Friends (ele era o tecladista), cover do Beatles, os dois resolveram morar juntos no edifício Monalisa, na QI 23 do Guará II, onde estão até hoje, depois de dois casamentos dele e um dela. A parceria entre os dois começou em 1994, quando Rênio passou a ser o diretor musical da carreira de Célia, que na época era uma das cantoras mais conhecidas de Brasília, com direito ao Prêmio Sharp em 94 e 95 como cantora revelação do pop rock do DF.
Com formação acadêmica em Música pela UnB, com especialização em Composição e Regência, cadeira dirigida pelo maestro Cláudio Santoro, e da Escola de Música de Brasília, Rênio já acompanhou Zélia Duncan, Cássia Eller, Adriano Faquini e hoje se dedica à carreira da própria mulher, de quem foi o produtor do disco Célia Porto Canta Legião Urbana em 1997, Palhaço Bonito em 2000, Disco Infantil em 2002. “Todas as músicas tiveram arranjo meu”, conta. Tocou em grupos de jazz e, para sobreviver, integrou o grupo de animação de baile Os Matuskelas, um dos ícones desse segmento no DF nas décadas de 70/80.
Ligação dos dois com a música
A ligação de Rênio com a música foi herdada dos pais – os dois eram pianistas – o pai, jornalista Expedito Quintas costumava acordar os filhos ao som de música clássica ao piano e a mãe continuava a animar o dia em casa, também ao piano. Célia entrou no mundo da música ao acompanhar e cantar nas icônicas “ruas de lazer”, que faziam a festa dos adolescentes nas praças do Guará nos anos 80 e 90, no período antes da Internet. Por se sobressair com a bela voz e o repertório de bom gosto, ela passou a se apresentar em festivais no DF, enquanto também compunha parte das músicas que interpretava. Quando estudava na Escola Parque (307/308 Sul) aperfeiçoou seus conhecimentos musicais e passou a organizar musicais de Natal e coral infantil. “Fechava a rua onde morava, na QE 34, e promovia festivais infantis com a garotada”, conta.
O amor por Brasília fez com ela dispensasse convites para alavancar a carreira em São Paulo e no Rio de Janeiro, inclusive de uma gravadora que a queria transformar na “nova Marina Lima”.
Rênio teve iniciação musical ao participar de festivais, entre eles o promovido pelo Ceub, em 1972, vencido por Raimundo Fagner com a música “Mucuripe”.
Rênio fez incursões por trilhas musicais de cinema, ao produzir a trilha sonora do filme Guarda Linhas, da diretora Loloye Boile e estrelado por Gianfrancesco Guarnieri, e do filme Araguaia, a Conspiração do Silêncio, do diretor Ronaldo Diegues e estrelado por Norton Nascimento. Além do Friends, que deixou logo após se juntar a Célia, montou o Rênio Quintas Trio, que se apresenta por toda a cidade e no Clube do Choro. Integrou também o grupo instrumental Artimanha na década de 80.
Ativismo cultural de Rênio
O ativismo começou quando era proprietário do Bar Cafofo, na 407 Norte, muito conhecido por reunir a nata cultural de Brasília, e embrião de movimentos da cena brasiliense, e famoso por ter sido onde Renato Manfredini, o Renato Russo, começou a sua carreia com a banda Aborto Elétrico. Lá, foi criado o Movimento Candango pela Dinamização Cultural (Cuca), que promoveu vários eventos de música, poesia, de comunicação em geral e se destacou pela resistência aos ataques ao segmento cultural, como a defesa da Rádio Cultura, que pertence ao GDF, entregue pelo governo Joaquim Roriz em 1999 a um grupo ligado a um estilo musical bem diferente do que eram seus objetivos iniciais. Criou o grupo instrumental Naipe com o violonista Fernando Corbal com quem ganharam vários prêmios nacionais.
O Fórum de Cultura do DF, tendo Rênio como um dos coordenadores, foi responsável pela inclusão do percentual de 0,03% do Orçamento do DF para a cultura na Lei Orgânica do DF, o que representa cerca de R$ 60 milhões por ano ao segmento. Como presidente do Conselho de Cultura do Guará, Rênio é a voz mais contundente contra a privatização do Complexo do Cave, que ameaça retirar do controle dos artistas o Teatro de Arena.
Os dois se dedicam no momento ao projeto Festival Em Cantos, com a participação dos filhos, dois de Rênio do primeiro casamento – Rafael, bailarino e coreógrafo, Ana Luiza, produtora e diretora -, e o filho dos dois, Rafael, fotógrafo.