por Vinícius Neves
“Capoeira que é bom, não cai e se um dia ele cai, cai bem” é um trecho da canção “Berimbau” do violonista e compositor Baden Powell com o poetinha Vinícius de Moraes – que é o motivo pelo qual este repórter se chama Vinícius. A canção, fruto de uma parceria iniciada em 1962, fala sobre a arte da doação amorosa e a habilidade de se aprender a cair com as quedas da vida, algo que é aprendido desde cedo nas rodas de capoeira – que não é uma dança nem uma luta, mas um miscingenação cultural de ambos: uma expressão artística com raízes profundas e antigas na cultura afrobrasileira.
A tradição da capoeira se mantém viva no Guará através capoeirista e conselheira de cultura Lígia Vanessa Mariano, a Lola, que mantém no Guará a iniciativa Pratique Capoeira e Mães que Treinam. Desde janeiro de 2023, as tradicionais rodas passam a acontecer na Casa da Cultura – que antes aconteciam na QE 30 do Guará II, onde ela mantinha o Ateliê Lola de Ecodesign.
A capoeira na Casa da Cultura é gratuita para pessoas em situação de vulnerabilidade social, como moradores de rua e também é livre de custos para alunos da rede pública de ensino. Quem não se encaixa nesses recorte também pode participar, ingressando em uma das três categorias do projeto: solidário (R$ 50), sustentável (R$ 80) e abundante (R$ 100), sendo o último pensado para pessoas que, além de poder pagar, também querem ajudar o próximo que não pode arcar com os valores.
Já para quem pode pagar a taxa de participação também há um uniforme pedido para participar das rodas mas, inicialmente, o interessado pode participar trajando uma roupa leve e, caso queira, pode adquirir o uniforme posteriormente – que custa R$ 120 a 130 e consiste em calça, corda e camiseta. Quem nãoo puder pagar pelo traje também podem ter o uniforme custeado, após análise do seu caso avaliado por Lola.
Resgate da história
“A capoeira é uma prática genuinamente brasileira e maior divulgadora do português brasileiro no mundo. Capoeira é renascer”. Apaixonada pelo que faz, Lola diz que a capoeira é um intercâmbio cultural. “Precisamos mostrar às pessoas a cultura do Guará, trazer pessoas de todo o DF para cá. Nós, brasileiros educados eurocentricamente [em torno de valores europeus], não temos acesso às informações que contam a nossa própria história”, diz Lola. “Ainda é feito um apagamento sobre as raízes do povo brasileiro”, conta ela, reforçando a importância da capoeira estar presente também nas grades curriculares das escolas.
E com esse resgate histórico em mente, que Lola também organiza a oficina Cine Capoeira, que exibe, em toda a última sexta-feira do mês, um filme ou documentário sobre a capoeira, cultura africana e as origens dessa tradição artística afrobrasileira.
Mães que Treinam
Lola, que foi apresentada à comunidade da capoeira há mais de dez anos, quando levou a filha pequena para os treinos e se apaixonou pela prática, também destaca o papel da capoeira como uma forma de unir e integrar as famílias em torno de algo positivo: “A gente agregou uma família que está em situação de rua, morando aqui ao lado da Casa da Cultura: vem o pai, a mãe e a filha treinar juntos”. A filha, no caso, é a princesa, apelido carinhoso ganhado pela pequena Alice, de apenas seis anos, que diz ter uma parte favorita: “Fazer a estrelinha!”
Quem tiver interesse em participar das rodas de capoeira pode ir até a Casa da Cultura e procurar a capoeirista Lola. Ao convidar o repórter para participar dos treinos, ela tranquiliza: “Não precisa ter ginga, a sua digital é a sua ginga. Cada um tem a sua”.
Casa da Cultura, CAVE
(61) 9 9323-9897
@atelie_lolaecodesign
Segundas e quartas-19h