Grande operação vai amenizar problema antigo

Programa de governo aplica 100 toneladas de massa asfáltica na cidade. Mas é uma solução paliativa, porque as causas não estão sendo combatidas como deveriam

A promessa é antiga e renovada a cada período chuvoso, mas desta parece é que mais consistente. O governo está anunciando uma grande operação tapa-buracos no Guará, com o objetivo de transformar o verdadeiro queijo suíço pelo menos numa muçarela. A cidade está recebendo cerca de 100 toneladas de massa asfáltica, através do programa Mão na Massa, criado pela Novacap para garantir mais qualidade e eficiência nos serviços de tapa-buracos no Distrito Federal. A ação começou pelo Polo de Moda/QE 40 seguiu para a QI 7 e QE 17, Avenida Contorno do Guará II até chegar em todas as quadras e tapar todos os buracos mapeados pela Administração Regional.


De acordo com a Novacap, o programa Mão na Massa foi criado para proporcionar mais segurança aos motoristas que trafegam nas vias do Distrito Federal com orientações sobre a importância da sinalização e demarcação da área preparada para receber o reparo, entre outras orientações técnicas. A iniciativa, lançada em 2022 pela Novacap, fornece maquinário, massa asfáltica e treinamento técnico da Divisão de Manutenção e Conservação de Vias (Dimav).
A chefe da Dimav e responsável pelo treinamento da Novacap, Walquiria Marra Rodrigues, explica que o cronograma do programa Mão na Massa é estabelecido conforme a quantidade de solicitações nas regiões administrativas. “O Guará é uma cidade que tem um número alto de demandas. A gente trouxe a capacitação para uma melhor entrega à população pelo Governo do Distrito Federal”, ressalta Walquiria.

Como é feito o mapeamento

Desde 2019, um aplicativo criado pelo GDF, fotografa e cataloga cada buraco nas pistas do Distrito Federal. Por meio de um sistema de GPS e mapas georreferenciados, servidores das 33 administrações regionais cadastram com foto o ponto exato que necessita de reparos. O sistema permite ainda que, após a conclusão dos serviços, os dados sejam atualizados. “Temos um banco de dados enorme. Serão mapeados todos os buracos tapados e os não tapados. Saberemos ainda há quantos dias o registro foi feito e quando ele foi atendido”, detalha o secretário de Governo, José Humberto Pires.

Cidades inteligentes

A Secretaria de Governo garante que a iniciativa ajuda a transformar a cultura organizacional das administrações regionais. A ideia é oferecer ferramentas tecnológicas para facilitar a visualização das necessidades das cidades e dar agilidade no atendimento às demandas da população.
“Nosso objetivo é acabar de vez com o papel e não deixar nada esquecido. O sistema vai dar rapidez na visualização do que é preciso ser feito”, explica um dos coordenadores do GDF Presente, Marco Aurélio Demes. De acordo com ele, a expectativa é de que, com mais agilidade, o volume de reclamações via Ouvidoria vá diminuindo à medida em que as demandas sejam atendidas. “Queremos antecipar os serviços. Antes mesmo de o cidadão registrar na ouvidoria a reclamação, já estaremos cientes do fato, programado o reparo ou até mesmo finalizado todos os serviços”, afirma.
Como a maioria dos buracos aparece repentinamente, a Administração do Guará e os outros órgãos do governo que tratam do assunto precisam contar com a ajuda da população para fazer seu planejamento. É justamente através das denúncias na Ouvidoria desses órgãos que as prioridades são definidas. As reclamações pela Ouvidoria são a única maneira de avisar e cobrar o governo para fazer a manutenção de locais específicos.

Causas de tantos buracos

A operação desta semana, entretanto, não vai solucionar de vez o problema dos buracos no Guará, porque existem outras causas que precisam resolvidas de forma definitiva, sob risco da situação se repetir a cada período chuvosos. O ideal seria fazer todo o recapeamento do asfalto da cidade, com exceção das vias principais e de algumas quadras, que foram recapeadas nos últimos anos, como as QEs 13 e 15, que receberam asfalto novo através de emendas parlamentares destinadas pelo ex-deputado distrital Rodrigo Delmasso.
A maior parte do piso das vias públicas do Guará tem a idade da cidade, 54 anos, e não foi originalmente executada para receber tamanha sobrecarga como a atual, sem contar o escoamento ruim nas ruas, impermeabilização do solo por invasões e demora na manutenção.
Para o administrador regional Artur Nogueira, o ideal é que todo o asfalto fosse recapeado, mas os custos são muito altos e dependeriam da destinação de novas emendas parlamentares. “Vou buscar esses recursos com deputados distritais amigos e sensibilizar o governo que essa obra é muito necessária. Sem recapear o asfalto antigo, vamos continuar enxugando gelo a cada período chuvoso”, prevê. Por enquanto, resta à Administração correr para tapar os buracos à medida que eles aparecem, quando não conta com a parceria da Novacap e do programa GDF Presente.
Para tapar os buracos das ruas, a Administração Regional conta com apenas uma equipe, composta por 30 trabalhadores que cumprem pena (reeducandos da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap-DF)os funapeiros), conhecidos como “funapeiros”, servidores da própria Administração, um caminhão, uma carretinha e um rolo compactador.
O asfalto é produzido pela Novacap e entregue às administrações regionais sob demanda. Diariamente, a Administração do Guará solicita apenas três toneladas de massa asfáltica, a capacidade de seu caminhão. Como esse material deve ser usado ainda quente em até três horas após a produção, não pode ser estocado. Essa quantidade pode tapar no máximo 10 buracos nas vias, dependendo do tamanho, profundidade e das condições climáticas.
Segundo a Novacap, não há falta de massa asfáltica para as operações tapa-buracos. Todo o material solicitado é entregue às administrações regionais e o serviço precisa ser devidamente comprovado e os locais vistoriados, para que não haja desperdício, de acordo com a assessoria de imprensa da empresa.
A Administração do Guará tem os caminhões e os trabalhadores. Atualmente são 27 detentos que prestam serviços ao órgão em troca da redução da pena e um auxílio financeiro para suas famílias. Com o aumento do orçamento, este número pode chegar a 30 em 2022. A única coisa que falta para se montar uma nova equipe de tapa-buracos é um rolinho compactador. Comprar ou alugar um equipamento simples poderia dobrar a velocidade com que os buracos das vias do Guará são consertados.