Por Vinicius Neves
Com a prisão do ex-ministro da Justiça Anderson Torres aqui no Batalhão de Aviação Operacional, que funciona no terrano do 4º Batalhão de Polícia Militar do Guará (4º BPM), o projeto social Prevenindo com Arte, que atende quase 2 mil moradores, teve as atividades interrompidas novamente – a primeira vez foi durante o ápice da pandemia de Covid-19. A interrupção ocorre porque o projeto acontecia nas instalações do batalhão que agora encarcera Torres e que passou a ter protocolos mais rigorosos de visitas à unidade. Além de ter sido ministro da pasta no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres também exerceu o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, até ser exonerado do cargo e ter a prisão decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, no dia 8 de janeiro de 2023, após os atos antidemocráticos em Brasília – em que foi acusado de omissão e negligência durante os atos que causaram vandalismo ao patrimônio público e depredação de itens e prédios dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios.
Para o retorno do projeto, que ainda não tem data certa para acontecer, serão oferecidas as modalidades de ginástica para a melhor idade, escolinha de futebol, judô, karatê, muay thai, treino funcional, taekwondo, defesa pessoal, ritmos, ritmos latino, treinamento para goleiro, jiu-jitsu e uma novidade: MMA. Em 2019, o projeto chegou a beneficiar 1.984 alunos, que abrange de crianças de 4 anos a idosos. Atualmente, o projeto aproveita o hiato para executar fase de recadastramento de alunos.
O comandante do 4º BPM do Guará, tenente-coronel Adauton Santana da Conceição, diz que o projeto é uma forma de incentivar a prática de atividades físicas, trabalhar a parte psicológica e promover a socialização. “Para a Polícia Militar do Distrito Federal é uma ferramenta para a gente afastar os jovens – sobretudo as crianças – da marginalidade, das ruas. A gente tá aproximando a Polícia Militar da comunidade como um todo”, avalia. O comandante descarta a possibilidade de realizar o projeto em outro local: “Estamos na expectativa de que, a qualquer momento, a situação evolua e possamos retomar por completo a atividade desempenhada no quartel”. Para o coronel Adauton, “por ser um projeto que vincula comunidade à Polícia Militar, trabalhar fora da unidade policial seria desvirtuar o projeto”. Ele garante que no Guará não há outro espaço policial para realocar o Prevenindo com Arte, mesmo que temporariamente. “Em outras regiões administrativas, as unidades operacionais já tem alguma forma de projetos sociais”, registra. “Estamos ansiosos para receber de volta os nossos alunos”.
Atividades gratuitas
Uma das alunas mais engajadas pelo retorno do projeto Prevenindo com Arte é a servidora pública Patrícia Calazans Oliveira, que participa de aulas de defesa pessoal no batalhão, há 5 anos, junto com a filha, Gabriella Calazans Oliveira, que foi diagnosticada com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e muito se beneficiou com a inserção das aulas em seus dias de sábado, uma indicação médica para ajudar no tratamento da doença, que não tem cura. Nessa meia década de participação nas aulas, Patrícia fez amizades nas aulas, incluindo o mestre, que ensina as técnicas de autodefesa para participantes (em sua maioria, mulheres): “Minha filha simpatizou muito com ele e o mestre Rodrigo [Lelis] foi se apegando às pessoas que foram chegando e foi se tornando uma grande família e uma grande amizade”. Segundo ela, “a convivência social com o mestre e pessoas do projeto representa uma rotina, um fluxo, que foi interrompido”. “Eu tenho testemunhos dos resultados dessas aulas, mais de 4 alunas que se valeram daqueles conhecimentos para se livrarem de abordagens criminosas na rua”, destaca a servidora pública, que também é faixa preta em karatê-do tradicional e tal habilidade sempre foi admirada pela filha.
Patrícia Calazans foi uma das alunas que ajudou a organizar um abaixo-assinado popular que busca viabilizar a volta do projeto Prevenindo com Arte no 4º BPM. No texto do documento, os apoiadores pedem às autoridades competentes o retorno do projeto, alegando que “a suspensão das aulas tem causado um prejuízo incalculável na saúde física, mental e na qualidade de vida dos alunos, além dos transtornos pela ausência de interação social, que pode ocasionar estresse e ansiedade, agravando o estado de saúde dos que se apoiam nas atividades do Projeto, de forma terapêutica”. Segundo Patrícia, o documento já reúne mais de 280 assinaturas.
Outro aluno que mal pode esperar para voltar às aulas é o profissional do marketing médico Luan Cesar Correia Mello, que procurou o projeto em 2016 para perder peso e buscar ajuda no tratamento da depressão que adquiriu após um acidente de carro. No entanto, ele não quis ficar parado enquanto o projeto não é retomado: “Enquanto não volta eu estou jogando futevôlei, ainda não decidi com qual esporte vou ficar quando o Prevenindo com Arte voltar, pois fiz amigos nos nas duas modalidades”.
Os interessados em participar do projeto, quando a retomada acontecer, podem procurar no Instagram @prevenindocomarte ou pelo e-mail projeto4bpm@gmail.com. Caso o interessado seja menor de idade, será necessário comparecer presencialmente ao 4º BPM para o responsável assinar e preencha algumas informações na ficha de inscrição. É aconselhável entrar em contato pela internet antes de ir até o local e marcar um horário, uma vez que a entrada no batalhão se tornou mais rigorosa com o cárcere do ex-ministro Anderson Torres na unidade.