Por Vinicius Neves
As duas principais atividades preferidas de quem chega a uma certa idade é viajar e dançar, principalmente para quem já está aposentado. Alguns gostam de fazer as duas coisas, mas outros preferem só as viagens ou somente a dança, por opção física, emocional ou financeira. Então, para quem mora no Guará e gosta de dançar, são duas as opções em espaços públicos, em dois grupos tradicionais que se reúnem às quartas-feiras e aos domingos.
O Baile dos Idosos no Guará, ou “baile da Socorro”, que acontece todas às quartas-feiras, no Centro de Convivência do Idoso (CCI), que fica ao lado da Casa da Cultura, é o mais antigo e surgiu há 33 anos, e aos domingos à tarde a opção é o Baile do Lúcio Costa, ou “baile da Jane”, que existe há quase 30 anos.
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A aposentada Maria do Socorro Rodrigues, 78 anos, que coordena e preside Associação dos Idosos do Guará, que organiza o baile das quartas-feiras, conta que conheceu o grupo em seu início, em 1990 (a associação foi a segunda do tipo criada no Distrito Federal, depois da cidade do Cruzeiro), quando procurou um grupo antecessor similar para buscar ajuda contra a depressão que enfrentou ao perder a mãe, em 1987. “Quando a gente veio para este espaço, tinha música ao vivo, uma radiola. Fiz um curso de bijuteria, trouxe uma máquina de costura e tinha brincadeiras também, além de muitos passeios”, relembra Socorro. “Eu amo isso aqui, me curou da depressão”, diz com orgulho. “Em 1994 me colocaram como presidente e eu encontrei tantas pessoas boas que me ajudaram”. A popularidade e carisma de dona Socorro são notáveis: foi reeleita todas as vezes que disputou a presidência da associação.
Pandemia reduziu a participação
Durante o período de isolamento social demandado pela pandemia de Covid-19, o baile teve que fazer uma pausa e só retornou as atividades em 21 de abril de 2022. No entanto, a participação e adesão ao grupo já não era a mesma, já que surgiram, neste período, outros eventos similares privados, alguns até com venda de bebida alcoólica, que não é permitida no Baile dos Idosos do Guará do CCI. “Aqui é um evento saudável. A única coisa que vendemos é um bingo para custear o músico, copos e lanches”, afirma a coordenadora.
Maria do Socorro, moradora do Guará há 48 anos no Guará, está em campanha para aumentar o grupo. “Os idosos, que vivem em casa, que venham para cá. Aqui é uma terapia, um ponto de encontro, a gente troca energias, é só amor e alegria”, diz ela. “Tem muito idoso que fica em casa e não é tratado com paciência e que aqui estaria se divertindo. Damos carinho e abraços”, completa, ao ressaltar que tem adeptos que saem de outras regiões do DF para vir ao baile aqui no Guará. Segundo ela, cada baile reúne em média 70 pessoas.
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Um desses idosos assíduos é Pedro Xavier de Andrade, que completará 100 anos de idade em dezembro deste ano (nasceu em 1923) e é praticamente um dos fundadores do baile. “Aqui, para mim, foi uma nova vida, eu descobri esse grupo e passei a viver novamente. Eu estava desiludido e consegui até uma namorada – que me animou de novo e me deu vida”. garante.
Domingo, é dia do Baile do Lúcio Costa
A dona de casa Divina Genesy Telles Barra, conhecida apenas como Jane Telles, 72 anos, é a presidente da Associação dos Idosos do Lúcio Costa e coordena o evento da quadra, que pertence à Região do Guará. Lá ela conheceu o marido, Jesuíno Barra, juntos há 29 anos, no evento que hoje organiza. “Por volta de 1998, eu comecei um ‘forrózinho’ para idosos em um galpão pequeno e depois o governo nos cedeu esse espaço maior”, conta Jane. “Aqui oferecemos lanche, café, chá, água, sopão”, completa a organizadora. Assim como no Guará, o evento do Lúcio Costa também não comercializa bebidas alcoólicas: “Esse evento é vida, saúde, felicidade; um cantinho para os idosos terem liberdade de curtir e serem felizes”, reforça.
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A reportagem visitou o baile no domingo e presenciou o evento lotado, mas Jane disse que tem sempre espaço para mais gente: “Aqui é igual coração de mãe, sempre cabe mais um”. Às 17h, a música ao vivo, as danças em dupla e as partidas de dominó fazem uma pausa para uma oração e para os participantes matarem a fome com o lanche, que é servido, de forma gratuita. “A única coisa que pedimos é que, quem puder pagar, colabore com R$ 15 para ajudar no pagamento do músico e dos lanches”, explica, e acrescenta que “antes da pandemia tinha mais gente, uns 200 idosos, e hoje a gente pede que as pessoas voltem e que tragam também seus filhos e a família”.
Só alegria e animação
Uma das participantes mais populares do evento é a aposentada Esmeraldina Cordeiro Souza, de 84 anos, que calcula participar do evento – que conheceu após ficar viúva – há pelo menos 26 anos. Ela já foi Rainha do Carnaval três vezes no Distrito Federal, Rainha da Terceira Idade do Lúcio Costa e Miss Simpatia. “Esse baile é tudo de bom! Levanta o astral da gente, ficamos mais felizes, encontramos amigos e até arrumei namorado”. Ela reforça que o amor está sempre no ar nos forrós da terceira idade: “É difícil um casal que se conhece aqui não fique junto, porque aqui é uma alegria sem fim”, garante.
Baile dos Idosos do Guará
Centro de Convivência dos Idosos (ao lado da Casa da Cultura)
Quartas-feiras de 14h às 18h
Baile dos Idosos no Lúcio Costa
Quadra 04, Área Especial número 01, Lucio Costa (atrás do supermercado Êta)
Domingos, das 14h às 18h