O Parque Vivencial Denner, localizado na QE 40, entre o Polo de Moda e o Bernardo Sayão, é um lembrete de que o Cerrado continua existindo em um Guará cada vez mais urbanizado. Criado para preservar uma antiga nascente, das muitas que existiam na região, e equilibrar o meio ambiente adensado com mais de 800 edifícios residenciais e comerciais da QE 40/Polo de Moda e mais de 400 casas do setor Bernardo Sayão, o parque está abandonado e cada vez mais subutilizado por causa dos riscos que oferece à segurança e à saúde dos frequentadores. Até os animais que frequentavam o espaço estão indo embora, como é o caso dos saruês, que antes apareciam com frequência e até comiam frutas na mão dos visitantes e que hoje em dia raramente são vistos no local.
Aliás, essa importante reserva que sobreviveu à especulação imobiliária que transformou a região em um polo de quitinetes, somente não está pior graças a um abnegado morador e amante da natureza, que praticamente sozinho consegue manter o parque limpo e afugentar consumidores de drogas e vândalos que gostam de frequentá-lo. Como gestora da área, a Administração Regional do Guará de vez em quando aparece para cortar o mato e recolher o lixo. E, de vez em quando, algumas instituições, como o Rotary Club do Guará e Lions Club guará Governador Almir e o jornalista Amarildo de Castro, do jornal Guará Hoje, promovem campanhas de plantios de mudas do cerrado. Por sinal, os voluntários são os principais responsáveis pela maior quantidade de árvores que compõem o parque.
Administração promete investimentos
Mas, por causa do abandono, da falta de atrações e dos riscos à segurança, o Parque Denner, que recebeu o nome em homenagem inexplicável – por não ter qualquer relação com a preservação do meio ambienta – ao estilista Denner Pamplona de Abreu, morto em 1978, um dos pioneiros da moda no Brasil e que rivalizava com Clodovil Hernandes, ex-deputado federal, morto em 2009.
Entretanto, esse abandono pode ser revertido, de acordo com o administrador regional do Guará, Artur Nogueira, que informa ter conseguido uma emenda parlamentar do deputado distrital Martins Machado (Republicanos), no valor de R$ 700 mil, que será utilizado na construção de uma pista de caminhada ao redor da parte interna do parque. “Além da pista, pretendemos construir uma sede para servir de apoio a vigilantes e auxiliares de serviços gerais, que estamos solicitando ao governo”, explica o administrador. Artur informa que também deve contar com outra emenda parlamentar, do deputado federal Gilvan Máximo (Republicanos), que prometeu destinar recursos a quem tem direito no Orçamento da União para mais investimentos no parque, já no segundo semestre. “Vamos transformar o Parque Denner num local aprazível e seguro, para realmente ser usado pelos moradores”, garante.
Voluntários guardiões
Considerado o guardião do parque, o aposentado Valcir Peixoto, conhecido como Edir, pode ser considerado o principal responsável pelo fato do Parque Denner não estar em pior situação. De forma voluntária, há mais de dez anos ele luta pela preservação da natureza que ainda existe, consegue ajuda para plantar mudas do cerrado e até enfrenta vândalos e consumidores e vendedores de droga, atraídos pela oportunidade de circularem num espaço amplo e de localização estratégica. “Tenho lutado pela preservação do Denner, mas, infelizmente com pouca ajuda dos empresários e dos frequentadores, que não se conscientizaram da importância da área para todos em volta, como pulmão verde e opção de lazer”, lamenta Edir, que está buscando a ajuda da Vigilância Ambiental de Zoonoses para combater a proliferação de ratos, que tem se multiplicado com a oferta de lixo orgânico despejado de forma inadequada e irresponsável pelos moradores e empresários em volta.
Embora tenham uma boa parcela de responsabilidade, os frequentadores não são os únicos culpados pela atual situação do Parque Denner. Edir aproveita para pedir um olhar mais atento por parte do governo: “Precisamos de mais roçagem (corte de grama e mato), que está invadindo a pista de caminhada, e também poda das árvores. Mas é para podar os galhos, não é para tirar as árvores daqui”, reforça, e reclama das podas radicais que a Novacap e a Administração do Guará tem feito no parque.
A gestora ambiental Alessandra Carvalho é uma das moradoras empenhadas na missão de preservar o Denner e também critica o abandono por parte do governo e a falta de conscientização dos frequentadores. “O parque é descuidado por quem vem visitar. A nossa parte é ajudar e aconselhar as pessoas a não pescar aqui – que é uma reserva ambiental. Tentamos sempre conversar com as pessoas e fazer programas de conscientização”, explica a ambientalista. Ela diz que está preparando o lançamento de uma página do Parque Denner na rede social Instagram para promover eventos temáticos e informações sobre o parque.
Outra queixa de Alessandra é o local que os condomínios próximos decidiram instalar os containers de lixo, do lado de fora do parque, e não perto dos próprios prédios residenciais responsáveis por produzir seu lixo doméstico. “O pessoal deixa acumular muito lixo ao redor do parque. Abandonam sofás velhos, sacolas e lixo solto, que atraem ratos”. Já no lago do parque que brota de uma nascente, chama a atenção a redução da quantidade de peixes, vítima da pesca predatória com vara de pescar e até arpão e rede, como se fosse um pesque-pague mas gratuito.
O parque também é dos animais
Para a moradora do Guará, bióloga e professora de biologia Eloisa do Vale Nogueira é comum a presença de roedores em espaços urbanos: “Especialmente os saruês e os roedores, que são, inclusive, chamados de animais sinantrópicos, justamente por essa fácil capacidade de se aclimatar ao meio urbano”. Segundo ela, “é importante pontuar que nós, seres humanos, que invadimos as áreas naturais e deixamos esses animais sem espaço. Além disso, a biodiversidade presta serviços ambientais importantes e devem ser entendidos pela população”. Ela fornece ainda outros exemplos: “Se pensarmos nos morcegos, que a população em geral tem medo, são importantes polinizadores e controladores de pragas. Entretanto, o problema é que muitas vezes esses animais podem causar danos ambientais, ou mesmo problemas sanitários ou até mesmo econômicos. Então é necessário que haja medidas preventivas e de controle desses animais a fim de minimizar os riscos de ocorrência desses prejuízos”.
Na beira da lagoa há uma placa que pede à população que não alimente os animais silvestres. A bióloga Eloisa explica que, “embora possa parecer uma atitude inofensiva e generosa alimentar esses animais, na realidade isso pode gerar alguns problemas. Dentre vários fatores, ao serem alimentados, estão favorecendo o crescimento populacional desordenado da espécie, causando certo desequilíbrio local, além de se tornar um momento oportuno para transmissão de doenças”.