Caps do Guará atende mais de 400 pacientes

Os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps AD) oferecem acolhimento e tratamento para pessoas a partir de 16 anos com transtornos mentais graves causados pelo uso de álcool e outras drogas

Mais de 370 mil pessoas foram atendidas nos centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Distrito Federal nos últimos dois anos: 180 mil em 2022 e 190 mil em 2021. No Guará, são atendidas atualmente mais de 400 pessoas em tratamento de sofrimentos mentais graves e persistentes, decorrentes ou não do abuso de álcool e drogas, com foco nos processos de reinserção e reabilitação psicossocial.
A assistência ocorre por demanda espontânea ou via encaminhamento de outros setores da rede de saúde ou da rede intersetorial. Interessados podem ir por conta própria a alguma das 18 unidades da instituição portando documento oficial de identificação com foto, cartão do SUS e, se possível, comprovante de residência. Pessoas em situação de rua não precisam mostrar nenhum tipo de documentação.
A psicóloga da Diretoria de Atenção à Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Priscila Estrela, ressalta que, devido ao caráter comunitário, os centros são abertos para toda a população. “Qualquer um com necessidade de atendimento é recebido, acolhido e tem sua demanda avaliada, mas, não necessariamente seguirão com o tratamento na unidade”, explica.
Segundo ela, o espaço para compartilhar angústias contribui com a saúde mental da população e ajuda a desmistificar preconceitos. “Muitas vezes, a pessoa só tem aquela oportunidade de falar sobre o que está passando e precisa do acolhimento. Devemos entender que depressão, ansiedade ou outro distúrbio são quadros psiquiátricos e têm tratamento”, diz Estrela.
Pessoas com quadros leves são assistidas nas unidades básicas de saúde e os moderados são encaminhados, via regulação, para os ambulatórios. Já casos considerados graves permanecem sob a tutela dos Caps, para acompanhamento por equipe multiprofissional.

Equipe multidisciplinar
Os atendimentos são promovidos por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos psiquiatras, clínicos e pediatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, equipe de enfermagem e farmacêuticos. Ocorre ainda articulação intersetorial para abarcar todas as demandas dos pacientes. “Os usuários chegam com múltiplas questões e precisam de suporte intersetorial, em que há articulação com outras secretarias, como de Assistência Social, Educação e Justiça, e até com outros setores dentro da Secretaria de Saúde”, afirma Estrela.
Os atendimentos são promovidos por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos psiquiatras, clínicos e pediatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, equipe de enfermagem e farmacêuticos.

 

“Álcool e cigarro são drogas que pagam imposto”

ANA LUIZA ROSA LEITE, Terapeuta Ocupacional do Caps Guará

Coordenadora do atendimento terapêutico e ex-gerente do Caps/Guará, Ana Luiza Rosa Leite explica como funciona o atendimento e quem pode participar do tratamento.

Essa quantidade de 400 pacientes atendidos pelo Caps/Guará é muito ou pouco na proporção da população da cidade?
Não temos como mensurar isso, mas poderia ser mais porque sabemos que boa parte da população não conhece os serviços oferecidos pelos Caps.

Quais os critérios para o Caps aceitar o paciente?
No nosso caso, a pessoa tem que comprovar, através de comprovante, que mora no Guará. De início, ela passa por uma triagem, que nós chamamos de “acolhimento”, para avaliarmos a gravidade da sua situação. Consideramos os prejuízos para a família, o trabalho e a sociedade. São casos de abandono de emprego, situação de rua, encaminhamos pela Justiça por lei Maria da Penha…

Como é esse tratamento?
Todos os Caps atendem da mesma forma. Aqui, priorizamos os grupos terapêuticos, porque a troca de experiências dá melhor resultado. Mas eles passam também por atendimentos individuais com profissionais específicos daquela necessidade. É um tratamento continuado, em que o paciente participa de duas a três reuniões por semana dos grupos, conforme sua disponibilidade. Além disso, fazemos visitas domiciliares e acompanhamos os pacientes atendidos pelos postos de saúde que apresentam dependência química mais leve. E temos o plantão para atender quem não está agendado.

Qual a capacidade de atendimento do Caps/Guará?
Não temos fila de espera. Não deixamos de acolher ninguém que nos procura, desde que tenha 16 anos ou mais e que seja dependente num grau mais grave.

Que droga é a maior proporção nos atendimentos do Caps/Guará?
Álcool em maior quantidade e cigarro. Que são drogas iguais às outras, mas legalizadas. Ou seja, são drogas que pagam impostos. No caso do álcool, o uso contínuo e sem controle pode começar aos poucos e tomar proporções incontroláveis. A família, por exemplo, acha normal o adolescente chegar bêbado em caso, mas não aceita que ele fume maconha. São drogas do mesmo jeito.

Qual o perfil do dependente de drogas no Guará?
O perfil depende do poder aquisitivo. O morador de rua e as camadas mais pobres consomem crack e maconha, que são mais baratas. Quem tem mais condições, consome cocaína, que é bem mais cara. E os jovens consomem mais drogas sintéticas, principalmente em raves.