Em meio à polêmica da Parceria Público Privada do Cave, na qual o Teatro de Arena é o pivô da contenda, espaço ganha visibilidade com a quantidade de eventos realizados e programados para 2023. Em disputa entre o governo, que quer incluí-lo na concessão do Cave, e a comunidade cultural, que exige que o espaço se mantenha público, o Teatro de Arena continua a ser procurado por produtores de todo o Distrito Federal em busca do local ideal para realizar grandes eventos.
Construído justamente para esse fim, a localização privilegiada e a receptividade do público do Guará ajudam a atrair novas iniciativas. Em 2023 já aconteceu de tudo ali. Além das tradicionais Feira das Flores e Feira de Orquídeas, até grande eventos de samba, como a Sambadeiras, com as sambistas Martinha do Coco, Renata Jambeiro, Rose Maria, Kiki Oliveira, Cris Pereira, o coletivo Sambadeiras de Roda e Dani Ribeiro; o Maloca Urbana, reunindo artistas do rap, do samba e de outras expressões da cultura urbana, periférica e negra do Distrito Federal; o Ragga Brasil, o primeiro festival de Ragga do país, o carnaval fora de época As Leis de Gaga; o festival Fora do Beco, versão do Tradicional Beco Elétrico, fora do Setor Comercial Sul.
“O Teatro de Arena está tendo tantos shows neste ano devido a uma série de fatores que contribuíram para o aumento da demanda e a realização de diversos eventos. Um dos principais é nosso trabalho de promoção de cursos de elaboração de projetos, especialmente para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Esses cursos têm capacitado artistas e produtores a desenvolverem projetos de qualidade e acessarem recursos para viabilizar suas produções”, explica o gerente de Cultura do Guará, Julimar dos Santos.
PPP no caminho
Se depender da vontade do governo, a concessão do Complexo do Cave à iniciativa privada, a chamada PPP (parceria público-privada), não tem mais volta e deve ser concluída ainda este ano. Depois de adiada em mais um ano – a primeira licitação deveria ser aberta em 29 de janeiro de 2022, mas foi adiada por recomendação do Tribunal de Contas do Distrito Federal depois de receber contestação do Conselho de Cultura do Guará – a privatização, que o governo prefere chamar apenas de “parceria” ou “concessão”, está quase pronta para ser novamente licitada. Depois que o processo foi liberado pelo TCDF após mais de um ano de análise pelos conselheiros, a Secretaria de Projetos Especiais (Sepe) providencia os últimos ajustes no projeto com as alterações propostas pelo tribunal, para ser encaminhado à Secretaria de Esporte e Lazer, que será a responsável pelo lançamento do novo edital.
Mas a determinação do governo pode esbarrar numa pedra no caminho, aliás, a segunda, depois da suspenção da primeira licitação que iria escolher os concessionários do complexo. O Conselho de Cultura do Guará bate o pé e protesta contra a inclusão do Teatro de Arena no projeto da concessão, por entender que ele é um equipamento cultural público e, de acordo com o Artigo 250 da Lei Orgânica do Distrito Federal e a Lei Orgânica da Cultura do DF, somente pode ser extinto ou privatizado se for providenciado outro no mínimo do mesmo tamanho e para atender a mesma comunidade.
“Tenho ouvido críticas de setores da comunidade pelo fato do governo não investir na recuperação do Cave em vez de promover a concessão à iniciativa privada. A questão não é essa, porque o governo até teria recursos para a reforma, mas o problema maior é a manutenção. O governo, principalmente a Administração Regional, não teria estrutura para manter um espaço daquele tamanho em condições de uso. Sem manutenção adequada, qualquer reforma iria ser inócua em pouco tempo, por causa da deterioração dos equipamentos”, afirma o secretário de Projetos Especiais, Roberto Aguiar. “A Administração Regional do Guará tem dificuldades de manter o restante da cidade, porque tem uma estrutura pequena, de pessoal e equipamentos, imagine ter que cuidar de todo o Cave”, completa o administrador regional Artur Nogueira.
Para o presidente do Conselho de Cultura do Guará, Rênio Quintas, incluir o Teatro de Arena na PP do Cave é inegociável para o movimento cultural. “O teatro é um ícone da cultura e da cidade. É o maior do gênero na América Latina, tem um DNA e não pode simplesmente ser transformado num ringue de patinação, numa arena para cavalgada ou num rodeio. Nada, que não seja cultura”, critica.
Ele não acredita que, se transferido à inciativa privada, o teatro não tenha suas características alteradas. “Essa sede em incluir o teatro na PPP não é à toa. Claro que há interesses comerciais em transformá-lo numa fonte de renda importante para o concessionário”, acrescenta. Nem a proposta de ceder três a quatro dias por mês gratuitamente à comunidade conforta o presidente do Conselho. “O que eles vão fazer com os restantes 26 ou 27 dias?”, pergunta. “Não vamos desistir do Teatro de Arena e vamos às últimas consequências, com o apoio principalmente do Ministério Público. Ele é do povo, é nosso, é do Guará”, diz ele, em tom inflamado.