Idealizada há 27 anos no governo Cristovam Buarque como Interbairros, transformada em sonho de consumo do inacabado governo Arruda, promessa de campanha dos então candidatos a governador Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg (quando passou a ser chamada de TransBrasília), a via de ligação entre Samambaia e o Plano Piloto fez parte do plano de governo do então candidato ao Buriti, Ibaneis Rocha, na sua primeira eleição, mas, nesses cinco anos o projeto pouco saiu do lugar. O último movimento foi em 2021, quando a Secretaria de Mobilidade (Semob) promoveu uma audiência pública para captar sugestões ao projeto e, depois de compilado o resultado, a bola foi passada para a análise do Tribunal de Contas do DF, que, por seu lado, ainda não fez sua parte.
Entre as sugestões acatadas pelo governo durante o período de consulta pública está o desvio do trajeto da parte que passava dentro do antigo Setor de Oficinas Sul, rebatizado de Park Sul depois que a área foi transformada em residencial. Pelo novo trajeto, quando entrar no Park Sul a avenida deixará de passar ao lado dos prédios residenciais, entre o shopping Casa Park e o Carrefour Sul, e passará entre a Novacap e a Viplan. Neste caso, a via fará uma curva à direita para alcançar a via que liga a Rodoviária Interestadual e a estação Park-Shopping do Metrô até o final da Asa Sul.
O que está sendo analisada pelo TCDF é a proposta da construção da mais importante via do DF, pelo custo e pelas interferências, de ser executada por meio de Parceria Público-Privada (PPP), o quer dizer que não haverá custo para o governo, que cederá terrenos em volta em troca da obra. Quando o projeto foi fechado, há quase três anos, o custo estimado era de R$ 2,9 bilhões, mas pode chegar a R$ 4 bilhões, custo que poderia ser perfeitamente recuperado pelos concessionários dada à quantidade e qualidade do que será oferecido em troca.
Além de movimentar a economia do Distrito Federal com a injeção de tamanhos recursos financeiros, a obra pode gerar cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos e melhorar a infraestrutura de transporte e mobilidade urbana, e ampliar a oferta de serviços públicos ao longo da via. Além da integração e conexão com o sistema viário existente, a Avenida das Cidades contemplará grandes áreas verdes, ciclovias, pontes e viadutos, além da implantação de empreendimentos imobiliários ao longo às suas margens, com oferta significativa de ofertas de imóveis residenciais e comerciais.
Impactos para o Guará
Considerada a maior obra viária da história do Distrito Federal depois da implantação de Brasília, a Avenida das Cidades proporcionará grande impacto na mobilidade para o chamado Eixo Sul, principalmente para o Guará, onde está prevista a implantação do Centro Metropolitano, um conjunto de edifícios destinados a comércio, serviços e moradia, no espaço ocupado atualmente pela rede de alta tensão de Furnas. Aliás, o que seria o grande entrave técnico que poderia impedir ou atrasar a obra também foi superado, com o acordo firmado entre o GDF, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a concessionária Furnas e a Terracap em 2021, para o aterramento da linha de alta tensão de todo o percurso de 26 quilômetros. Também em 2021, foi concedida a licença ambiental pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
No edital de Avaliação e Seleção publicado no mesmo Diário Oficial do DF em maio de 2021, tinha sido autorizada a continuação do processo de estruturação da avenida, apresentada pelo consórcio brasiliense formado por 13 grandes empresas – Base Investimentos e Incorporações, Basevi, Brasal Incorporações, Cobrapar, Artec, Villela e Carvalho, Consterc, JW Participações e Investimentos, Mais Construtora, MM Participações e Soltec Engenharia. Isso quer dizer que já há um grupo formalmente interessado na concessão da via, mas podem surgir outros durante o processo de licitação. De acordo com o projeto, o consórcio vencedor se responsabilizará pela construção de toda a avenida, implantação dos parques e outros equipamentos em volta, em troca dos terrenos lindeiros.
Então, se o projeto está pronto, existem interessados, os impasses técnicos estão superados, o que falta para o projeto da Avenida das Cidades andar? Em princípio, apenas vontade política. No governo, o assunto esfriou ou não consta mais das suas prioridades. A reportagem do Jornal do Guará consultou secretários de governo mais influentes e que tem a ver com assunto e nenhum deles deu informações mais concretas.
Como será a Avenida das Cidades?
A Avenida das Cidades vai ligar o Setor Policial Sul, no Plano Piloto, a Samambaia, num percurso de 26 quilômetros. O objetivo é promover desenvolvimento econômico de todas as regiões incluídas no trajeto e melhorar a mobilidade na região conhecida como Eixo Sul. No primeiro edital de chamamento das empresas interessadas na parceria, lançado em 2017, o governo definiu como contrapartida a criação de lotes com diversidade de atividades ao longo da via, como shoppings e setores habitacionais; ampliação da densidade demográfica, especialmente perto da infraestrutura de transporte de massa; melhoria da relação custo-benefício dos investimentos públicos e privados em infraestrutura urbana; adequação dos espaços para pedestres e ciclistas; criação de faixas verdes; e integração do metrô com outras formas de transporte. De acordo com o projeto, cinco setores habitacionais ocuparão as margens da via: dois no Guará e três em Águas Claras.
A via ligará Samambaia, na altura da estação do metrô, até o Setor Policial Sul, na altura do cemitério Campo da Esperança. Com três faixas em cada sentido, a via comportará cerca de 60 mil carros de uma só vez e ajudará a desafogar o trânsito das outras duas pistas paralelas.
A Avenida das Cidades vai impactar principalmente Guará e Águas Claras, porque vai implicar no aterramento de toda a linha de alta tensão de Furnas e a cessão dos terrenos entre Guará I e II para a iniciativa privada construir lojas e apartamentos, além de equipamentos públicos. O adensamento, entretanto, será compensado com a abertura de uma nova via para os dois lados – Taguatinga, Samambaia, Park Way e Águas Claras e Plano Piloto do outro lado.
Além da melhoria da infraestrutura de transporte, da integração das cidades e da conexão com o sistema viário existente, o complexo urbanístico vai contribuir para a geração de novos centros de negócios, lazer e habitação. De acordo com os cálculos do governo, a Avenida das Cidades vai beneficiar inicialmente cerca de 400 mil motoristas.
O empreendimento incluirá espaços para habitação, comércio e entretenimento. Também serão construídos 200 quilômetros de ciclovias, oito parques e 900 mil metros quadrados de calçadas. Está previsto o plantio de 700 mil árvores.
“A avenida não será um corredor de transporte com uma via expressa; será para pequenos deslocamentos, desafogando o trânsito em vias como a EPNB e a EPTG”, explica o subsecretário de Parcerias e Concessões da Secretaria de Mobilidade, Henrique Oliveira Mendes. “Será também uma via de integração com o metrô, incentivando o transporte público”.