Seu Pedro – 100 anos de perseverança e vitalidade

Pioneiro do Guará II ainda está lúcido e forte e vai comemorar o centenário numa festa com família e amigos

Qual o segredo para se viver 100 anos, com saúde e lucidez? Com certeza, não existe uma receita pronta, o que, aliás, é o sonho da ciência, mas, além da genética, algumas coisas podem contribuir. Para o morador e pioneiro do Guará II, Pedro Xavier, pode ter sido a perseverança para vencer na vida, formar uma família grande e harmoniosa, dançar muito, ser independente financeiramente e tomar uma taça de vinho todos os dias na hora do almoço e, sobretudo, bom humor.
Conhecido por ser assíduo participante dos grupos de terceira idade do Guará, principalmente o coordenado pela sua companheira e amiga de 30 anos, Maria do Socorro Rodrigues, promotora do Baile dos Idosos no Centro de Convivência dos Idosos (CCI), Pedro Xavier é um exemplo dessa longevidade sonhado por muitos. Completamente lúcido e ainda esguio, apenas com uma ligeira deficiência de audição, esse mineiro de Abaeté e morador do Guará desde 1975 desafiou até a ciência ao praticamente se curar da Doença de Chagas (provocada pela parasita Trypanosoma cruzi, conhecida como barbeito) – letal em mais de 90% dos casos -, descoberta quando tinha 37 anos de idade.
No dia 5 de dezembro, seu Pedro completa 100 anos de idade, que vão ser comemorados com os 10 filhos, 21 netos e 21 bisnetos, parentes e amigos numa grande festa no dia 9 de dezembro, numa chácara no Lago Oeste. Vão faltar apenas a falecida esposa Maria Madalena que o acompanhou nessa saga, e dois dos 12 filhos, que morreram ainda crianças.

Pedro com filhos (acima)) e com netos, bisnetos, genros e noras quando completou 99 anos

Perseverança

A saga de seu Pedro começou quando criança ao ficar órfão de pais e ser criado pelo fazendeiro Geraldo Mendes Morato, amigo da família. Até aos 21 anos de idade viveu e trabalhou na fazenda do pai adotivo, sem receber salário. “O lado bom foi que aprendi a gastar com parcimônia e responsabilidade”, conta, rindo. De lá, saiu para servir ao Exército em Belo Horizonte. Um ano depois, concluído o serviço militar obrigatório, voltou a morar com a família que o acolheu, quando recebeu a oferta de constituir uma sociedade capital e trabalho com seu pai adotivo, uma loja de Secos e Molhados no distrito de Junco, município de Abaeté, em que ficou com 30% do negócio.
Insatisfeito com a “sociedade” e com vontade de ter sua independência financeira, Pedro, aos 23 anos, resolveu empreender por conta própria, ao montar seu próprio negócio, também no ramo de secos e molhados, aqueles armazéns característicos de cidade do interior onde se vendia de quase tudo. Casou-se e o negócio ia muito bem, tinha construído a casa sonhada, quando as águas da barragem da hidrelétrica de Santa Maria expulsou a família de onde estava. O enorme prejuízo financeiro e sentimental não o fez desistir. Só não queria, por motivos óbvios, continuar no distrito do Junco ou na região de Abaeté. Depois de procurar por um lugar onde pudesse recomeçar a vida e criar os filhos, Pedro optou por Unaí, onde também montou um negócio parecido, que também prosperou. Mas, a cidade interiorana ainda era pequena para o sonho de dar estudo e uma vida melhor para os filhos. Brasília era a oportunidade mais próxima para o que precisava. Mas, ao visitar uma prima de sua mulher em Taguatinga, ele assustou-se com que viu. “Enquanto muitos viviam em barracos de madeira, outros moravam em apartamentos e casas bonitas. Concluí que Brasília era para rico ou pobre. Não havia meio termo. Como eu não era nenhum dos dois, não dava pra mim”, conta.
Em 1975, Pedro teve a oportunidade de adquirir uma casa da antiga SHIS (atual Codhab) na QE 32, quando o Guará II estava sendo construído, e onde acabou de criar os filhos e continua morando. Primeiro, ele mandou a mulher e os filhos, até que resolveu aposentar-se de vez em 1982 e mudar-se definitivamente para o Guará. Aqui, assim que chegou passou a frequentar o Grupo de Hipertensos, do Centro de Saúde, que depois se transformou no grupo de idosos, onde conheceu Socorro, passou a dançar com frequência, atividade somente interrompida este ano, por recomendação médica. Mesmo assim, quase todas as quartas-feiras vai ao CCI rever os muitos amigos que deixou por lá.
Ah, além do vinho e da dança, Pedro faz parte da metade dos mineiros que torce para o Cruzeiro.