Além de atrair ratos, baratas, escorpiões e as doenças que eles transmitem, o lixo e o entulho acumulados irregularmente em áreas públicas podem também ser causadores do aumento dos casos da dengue, ao oferecer as condições para a proliferação do mosquito transmissor. E, a exemplo do que acontece com a água parada dentro de casa, o principal culpado também é o morador, ao descartar o lixo em área pública em embalagens inadequadas, fora dos horários estipulados pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). E por mais que o governo e a imprensa procurem conscientizar, a situação não melhora, como é o caso do Guará, onde ainda persistem depósitos de entulho, principalmente móveis velhos e restos de construção, e lixo orgânico (restos de comida e outros perecíveis).
E não era mais para ser assim, pelo menos em relação ao entulho, porque a cidade possui dois papa-entulhos e foi a primeira cidade a receber o serviço de recolhimento motorizado através dos tuk tuk elétricos, que estão substituindo as carroças com tração animal, ao custo de apenas R$ 30 por viagem – mas caso o morador queira levar por conta própria não há custo para o recebimento. Já o descarte de móveis, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos, o recolhimento é gratuito, desde que seja agendado na Administração Regional.
Os papa-entulho recebem restos de construção civil, móveis e outros volumosos (exceto eletrônicos), resíduos de podas e galhadas, materiais recicláveis e óleo de cozinha usado (acondicionado em garrafas PET). Cada pessoa pode descartar até 1 m³ de entulho por dia, o equivalente a uma caixa d’água de 1.000 l.
Entretanto, em uma rápida circulada pela cidade percebe-se uma grande quantidade de lixo e entulho acumulada em áreas públicas, principalmente na QE40/Polo de Moda, nas proximidades da QE 18 (abaixo da linha do metrô) e entre a QE 38 e as quadras novas (QEs 48 a 58).
O SLU recomenda que o morador consulte os horários de coleta do lixo na sua quadra, para evitar que cães, gatos e até mesmo os catadores de produtos recicláveis danifiquem as embalagens e o lixo espalhado atraia moscas, mosquitos, baratas e ratos, além de animais predadores entre si.
Polo de Moda, mais crítico
O ponto mais crítico do mal descarte do lixo e do entulho no Guará é a região da QE 40/Polo de Moda, por causa da alta concentração de moradores nas quitinetes, a dificuldade de circulação dos caminhões de coleta de lixo em ruas estreitas e claro, a falta de conscientização dos próprios moradores. É comum ver móveis e objetos jogados nas ruas e grande quantidade de lixo descartada de forma inadequada e fora do horário de recolhimento, que é das 19h às 3h da manhã, às segundas, quintas e sábados. Sofás velhos são os mais comuns dos objetos jogados nas ruas.
Além do lixo descartado de forma inadequada, conteineres de construção acabam sendo usados para jogar lixo, atrapalhando as obras e dificultando a coleta. A limpeza das ruas é de responsabilidade do SLU, mas a falta de consciência dos moradores impede que elas sejam mantidas limpas
Lixo e entulho aumentam inundações
Um estudo publicado no periódico Nature Climate Change revelou que as mudanças climáticas também intensificam a ocorrência inundações e chuvas intensas, e apontou que, no Brasil, o principal efeito do aumento da temperatura será o crescimento do risco de enchentes até o final do século. Apesar da influência do aquecimento global na intensificação de eventos extremos, o despejo e acúmulo de lixo em áreas impróprias são os principais responsáveis pelas inundações em áreas urbanas. Os materiais despejados em vias públicas são arrastados pela força das águas da chuva, causando o entupimento de bueiros e galerias, impedindo o escoamento da água.
Além de contribuir diretamente com as enchentes, o lixo descartado nas ruas também potencializa os impactos deste problema à população. Os resíduos contaminam a água e servem de abrigo e alimento para animais e insetos que são vetores de doenças, como a peste bubônica, leptospirose, cólera, febre-amarela, dengue, entre outras. São, desta forma, responsáveis pelo aumento da incidência de doenças infectocontagiosas, registrado após a ocorrência de enchentes.
Governo está multando os sujões
Multas podem chegar a R$28 mil. Fiscalização está percorrendo todo o DF
Como parte das ações de controle da dengue, o GDF está acionando seus órgãos de fiscalização para identificar e multar quem estiver descartando materiais volumosos, como móveis velhos e restos de construção civil em áreas públicas. “É uma ação de conscientização feita em regiões com um alto índice de casos da doença”, explica o diretor de Fiscalização de Resíduos da DF Legal, Antônio Silva de Lima. Segundo ele, foram mobilizados 80 agentes para fiscalizar todas as regiões do DF.
Quando encontram resíduos em lotes vazios, os agentes da DF Legal localizam o dono com a ajuda do Sistema de Dados do Governo do Distrito Federal (GDF) e emitem notificação para que o espaço seja limpo em até 15 dias.
O descumprimento acarreta multas que variam de R$ 2.799 até R$ 27.999, dependendo da quantidade de entulho. Vale lembrar que é obrigação dos proprietários manter os terrenos limpos, cercados ou murados, bem como construir calçadas ao redor deles.
“Se os resíduos estiverem na calçada de uma residência, o responsável pelo imóvel recebe uma notificação para que a área seja limpa em cinco dias”, informa Antônio.“O morador é orientado a fazer o descarte no papa-entulho mais próximo de sua casa.”
Ajude o governo no combate à dengue
Encontrou resíduos descartados em áreas públicas próximas à sua casa? Você pode fazer uma denúncia pela Ouvidoria do GDF. Basta registrar a ocorrência no Disque 162 ou pelo site ParticipaDF. Não se esqueça de incluir o endereço completo e, se possível, anexar fotos do local.