Transporte Coletivo – O desafio cotidiano dos moradores do Guará

Alguns locais da cidade são pouco servidos de ônibus coletivo, com duplicidade de trajetos, inconstâncias nos cumprimentos de horários, entre outros perrengues

Por Henrique Machado

Quem mora no Guará sofre, e há muitos anos, com a deficiência do transporte coletivo sem que haja providências por parte do governo para amenizar o problema Setores em rápido desenvolvimento da cidade, como as novas quadras (QEs 48 a 58), além dos setores Lúcio Costa, Bernardo Sayão, de Mansões Iapi e Guará Park, e toda a extensão do Guará I e II, são impactados em sua mobilidade, com prejuízos pessoais, financeiros e desgaste físico dos usuários.
Apesar de contar com duas estações de metrô e 24 linhas de ônibus para outras regiões do DF e uma pesquisa revelar que apenas 16,1% dos habitantes utilizam o transporte público como meio de locomoção, a saga para quem não tem carro próprio é dura e piora a cada dia. A população enfrenta problemas graves como a quantidade insuficiente de veículos, principalmente fora dos horários de pico, nos feriados, finais de semana e nas férias escolares, atrasos constantes e motoristas que não param nos pontos, especialmente à noite. Além disso, a disputa acirrada por passageiros leva empresas diferentes a percorrerem o mesmo trajeto e a passarem coincidentemente no mesmo horário e alternando as paradas nos pontos. Esses problemas têm sido alvo de milhares de reclamações na Ouvidoria Geral do DF e afetam significativamente a vida da população do Guará.
Com cerca de 147 mil habitantes, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), antiga Codeplan, as faixas etárias predominantes na região são de 30 a 39 anos, sendo que apenas 36,5% dos residentes trabalham no próprio Guará, com a maioria se deslocando para o Plano Piloto. Essa disparidade na mobilidade reflete uma desigualdade socioeconômica, como apontado por um estudo da Universidade de Brasília (UnB). O estudo, baseado em dados de pesquisas de opinião pública coletados em setembro de 2022, revelou a Desigualdade da Mobilidade Urbana no Distrito Federal. Cidadãos e cidadãs das regiões administrativas com menor renda, dependentes dos ônibus, têm acesso restrito à cidade devido às superlotações dos transportes, que passam com baixa frequência, ou pela falta de recurso para o uso de aplicativos. Isso evidencia que a mobilidade pela cidade é cerceada para os mais vulneráveis financeiramente, enquanto os moradores de áreas ricas desfrutam de maior mobilidade, principalmente em momentos de lazer.

Locais mais afetados

Além dos desafios enfrentados, a prefeita comunitária do Guará Park, Gleide Soares, destaca a precariedade do transporte público na região. Problemas como ônibus que não seguem horários estabelecidos dificultam o deslocamento dos moradores, especialmente na área das Chácaras 22 até a Chácara 26. Ela ressalta a necessidade de melhorias, como a criação de novos pontos de ônibus e o aumento da frequência dos veículos para atender adequadamente às demandas da população.
“Os moradores precisam utilizar o Circular e não conseguem. Têm que ir até a pista de cima, dar mais de um quilômetro, talvez um pouquinho mais para poder chegar na parada da Avenida Contorno. Então, chuva, risco de assalto, várias coisas, eles estão expostos”, diz ela, enfatizando os desafios enfrentados diariamente pelos moradores que dependem do transporte público.
Cleide Félix, moradora da QE 44, reclama do tempo de espera nos pontos de ônibus e a superlotação dos veículos, principalmente de manhã nos horários de pico. “Muito tempo de espera e quando passa já está lotado, a gente não consegue entrar, e temos que ficar quase meia hora esperando o próximo ônibus passar, chegando sempre atrasada aos compromissos.”
Lindomar Gonçalves de Freitas, morador da QI 03, apesar de se dizer satisfeito com a implementação do Cartão de Integração, ressalta que no Guará, quem não pegar o transporte no horário certo, esperará de 30 a 40 minutos por outro. “Durante as férias, no Natal e no Ano Novo, quando reduzem o transporte coletivo, dobra o tempo de espera que vai para uma hora ou mais, e o pior é se precisar utilizar no feriado você estará enrolado. Melhor ficar em casa ou, se tiver dinheiro, pegue Uber, pois terá que aguardar de duas a três horas o ônibus passar”.
Ronaldo Silvestre, prefeito comunitário da QE 40/Polo de Moda, afirma que os comerciantes e empresários da região trazem sempre a demanda por mais ônibus no horário noturno para que seus colaboradores regressem com segurança para suas casas, principalmente os do ramo da alimentação e entretenimento que ficam até mais tarde trabalhando.

Governo reconhece deficiências

O governador Ibaneis Rocha reconheceu na semana passada que o transporte público é um dos maiores problemas enfrentados pelo Distrito Federal. Em discurso na abertura dos trabalhos legislativos da CLDF, ele mencionou esforços para conter aumentos nas passagens e anunciou melhorias previstas para 2024. “Entretanto, será necessário um esforço conjunto do Executivo e do Legislativo para efetivamente melhorar a qualidade do transporte público, tornando-o mais acessível e eficiente para todos.”