Guará 55 anos – Que cidade estamos construindo?

Da origem provinciana, como refúgio de trabalhadores braçais, a uma cidade pulsante e valorizada, que busca ser a primeira cidade inteligente do DF. Que cidade é essa, que completa 55 anos no dia 5 de maio?

De sua criação até hoje, o Guará mudou muito. Em especial, na última década, quando a cidade viu uma melhora significativa na oferta de bens e serviços. É latente o crescimento do setor gastronômico e de lazer. Os bons restaurantes saíram do shopping e chegaram às ruas. Aliás, os guaraenses saíram às ruas. Os eventos de praça e a céu aberto multiplicaram-se e resgataram o sentimento bairrista na comunidade. Especialmente nos meses de seca, são vários eventos abertos por final de semana para curtir de graça. Os restaurantes da cidade mantêm-se lotados, os bares bem frequentados, as quadras, as igrejas, e até mesmo a rua foi apropriada pelos moradores. Novos prédios e novas quadras surgem no Guará, ofertando imóveis cada vez mais valorizados, o que reflete o aumento da qualidade de vida da cidade.
Ainda não conseguimos retomar o uso pleno do Cave, porque, por mais de uma vez, o Estado o deixou de lado. Porém, desta vez, há pelo menos uma esperança de reativar todo o complexo através da parceria com a iniciativa privada, para, enfim, entregar algo à altura da população do Guará.
O Parque Ezechias Herringer, apesar de desocupado, ainda carece de uma estrutura melhor para os frequentadores, assim como os outros dois parques, o Denner, parcialmente estruturado, e o Bosque dos Eucaliptos, que nunca foi implantado e não passa de área verde sem nada a oferecer. A Escola Técnica, orgulho da cidade, foi um avanço na educação da cidade, mas outros são necessários, como a construção do Complexo Educacional do Guará. É preciso universalizar o acesso à educação na cidade, principalmente para as mães que precisam trabalhar, investindo em creches. E é preciso oferecer oportunidades de ensino superior público mais próximo de casa para os guaraenses.
O novo hospital que começa a ser construído e a prometida Unidade de Pronto Atendimento (UPA) serão reforços importantes na saúde pública, mas poucas Unidades Báscias de Saúde (UBSs) e o precário Hospital Regional do Guará não conseguem atender toda a população.

Crescimento

Nas últimas duas décadas as mudanças foram constantes e drásticas. O Guará enfim estabelece-se como núcleo urbano. Em algumas áreas de forma mais radical que outras, como na avenida central e na avenida contorno do Guará II. A partir das distorções do Plano Diretor Local (PDL), que permitiram o avanço vertical dos prédios em frente ao Setor de Oficinas (AE2) e QE 40, e uma nova área residencial no SOF Sul (agora Park Sul), iniciando um longo processo de gentrificação que dura até hoje. A gentrificação é quando, em um processo de revitalização de uma área urbana, uma classe economicamente mais favorecida, passa a ocupar o espaço de uma comunidade ali estabelecida anteriormente. Essa ação é bem clara no Guará, principalmente no embate entre os moradores dos nobres prédios residenciais e os tradicionais ferros-velhos, que ali estão instalados há anos. Quando os prédios foram construídos, as oficinas mecânicas, lojas de eletrônicos e toda sorte de estabelecimento comercial funcionava na AE 2A, QE 40 e SOF Sul, mas agora, gradualmente, são substituídas por padarias, lanchonetes e restaurantes, para atender aos novos moradores. Quem resiste sofre com as constantes reclamações dos novos moradores, que não admitem morar ao lado de carros desmontados para conserto, ainda que sejam anteriores aos elegantes apartamentos.
Situação ainda pior é o do Polo de Moda, hoje um grande setor residencial. Criado para ser um polo comercial e industrial, com vocação para a indústria têxtil, para competir com nossos vizinhos goianos, os longos anos sem infraestrutura básica, incentivos fiscais e sequer transporte público adequado aos trabalhadores inviabilizou a maioria das fábricas de roupas. Com isso, os proprietários acabaram lentamente dividindo seus prédios em pequenos apartamentos de quarto e sala. Ali, nem mesmo o ordenamento de trânsito, que deveria dar sentido único ao tráfego nas ruas internas, para evitar engarrafamentos e confusões, conseguiu ser realizado até hoje.
As invasões de área pública fazem parte da história do Guará. Começaram com o avanço das grades em frente às casas, continuaram com o cercamento dos prédios residenciais, a ocupação dos becos e o fundo das casas viradas para o calçadão. Depois, vieram os quiosques e puxadinhos nos comércios. Muito pouco foi feito para combater essas invasões. Aliás, pelo contrário, em troca de apoio político e vantagens indevidas, representantes do parlamento ao longo dos anos negociaram leis para legalizar essas invasões.

Cidade inteligente

Mas, colocando o Guará na perspectiva das demais cidades do Distrito Federal, somos privilegiados. O projeto urbanístico planejado contribui muito para a qualidade de vida dos moradores. São praças, áreas verdes, vias amplas e comércio próximo que difere o Guará de todas as outras cidades do DF. Ainda que novas projeções cheguem à cidade, como acontece atualmente na QI 33, estes prédios já estavam previstos há muito, e não atrapalham o dia a dia da comunidade. As distorções neste planejamento podem causar muitos transtornos, sendo preciso ficar atendo a como a cidade cresce, para que os que aqui residem, e pretendem ficar, tenham sempre o mesmo Guará para viver.
É preciso investir em iniciativas que façam com que o morador viva plenamente a cidade. Que possa fazer suas compras aqui, fazendo o dinheiro circular pela cidade. Há um movimento crescente para ocupar e ressignificar as áreas públicas da cidade. Bons exemplos são a Rua do Lazer, nascida da Rota 156, e o Festival do Guará, que este ano levou arte para as praças da cidade.
Mas é preciso investir ainda mais em soluções inovadoras para o Guará ser cada mais inteligente, e consequentemente mais agradável, humana e sustentável. Uma das iniciativas que mais discute o futuro da cidade é o Hackacity Guará. Uma reunião de pensadores e líderes comunitários da cidade que busca hackear a cidade, ou seja, encontrar formas novas e mais eficientes de viver plenamente o Guará. Atualmente, o Hackacity tem reunido ideias inovadoras e auxiliado seus criadores a tirá-las do papel, através de uma grande incubadora de projetos. O Hackacity também incentivou a realização do primeiro TEDxGuará, uma iniciativa internacional que discutiu justamente formas de viver plenamente a cidade e mostrou quem são as pessoas que estão construindo o futuro. Guará sai na frente entre todas as cidades do Distrito Federal em discutir como tornar-se mais inteligente e economicamente viável.
Temos visto a comunidade cada vez mais unida em busca de uma cidade melhor. As comemorações do aniversário de 55 anos são um grande exemplo disso. Boa parte das celebrações são comandadas e geridas pela comunidade. Os guaraenses parecem ter entendido que o futuro de nossa cidade depende exclusivamente dos cidadãos que aqui habitam. É preciso fazer muito mais, mas o futuro do Guará promete ser brilhante.