O rescaldo da dengue na cidade foi mais trágico do que poderia se imaginar. Dos 24.531 casos identificados este ano na Região Centro-Sul (Guará, Candangolândia, Estrutural, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, Núcleo Bandeirante, SIA e Park Way), 8.018 foram aqui, ou seja, um terço do total. Foram 18 mortes confirmadas, o dobro das nove de Riacho Fundo II (4.474 casos) e Estrutural (5.464 casos), regiões bem menos contempladas com saneamento básico.
O inexplicável para essa tamanha incidência é o poder socio-econômico da população do Guará, que na teoria deveria ser mais consciente no combate ao mosquito transmissor do que as outras regiões vizinhas, principalmente a Estrutural. Nem a proporção da população entre as cidades explica essa discrepância.
Não se pode também culpar o governo por eventual falta de providências, porque elas aconteceram com a intensidade que os momentos exigiam, através de ações e operações de combate ao mosquito transmissor e conscientização dos moradores. Talvez o que tenha demorado um pouco tenha sido a instalação da tenda de atendimento aos pacientes com sintomas de dengue, mas isso aconteceu em todo o DF por culpa da burocracia na contratação dos serviços, que são terceirizados.
Em janeiro foram 1.511 casos confirmados e fevereiro foi o pior mês da dengue no Guará, com 2.645 casos. Março também foi crítico, com 2.450, mas em abril, quando a tenda começou a atender, a incidência caiu pela metade, 1.074 casos. Em maio, quando as chuvas pararam de vez, e conforme estava previsto pelas autoridades sanitárias, a queda foi brusca, com apenas 338 casos confirmados. Ainda a titulo de comparação, na Região da Estrutural foram 65 casos e no Riacho Fundo II, que completam as três regiões de maior incidência da dengue na Região Centro-Sul, foram 157 casos confirmados. Candagolândia, com 34, ParkWay, com 47, e Núcleo Bandeirante, com 64, foram as que menos tiveram moradores diagnosticados com dengue em maio. Sia teve apenas 4 casos, mas é proporcional à quantidade de moradores da região, formada na sua maioria absoluta por empresas.
Ação intensa de combate ao mosquito
Para a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, Herica Cristina Marques, a situação poderia ter sido pior se o governo não tivesse atuado com rigor nas ações de combate ao mosquito transmissor, que incluíram operações de recolhimento de lixo e entulho, multa a moradores que descartavam lixo em locais impróprios, multa a proprietários de terrenos com mato e entulho, conscientização dos moradores e oferta de vacinas em todas as unidades de saúde da cidade.
“Mesmo com todas as campanhas de conscientização, muita gente que não entendeu a gravidade da doença e continuou relaxando nas medidas de saneamento do seu ambiente. O morador não pode ficar esperando apenas o governo agir e precisa fazer sua parte”, cobra. De acordo com Hérica, outro fato que agravou a incidência na dengue no Guará é que a maioria dos casos foi do Sorotipo 2, a mais agressiva e de maior risco de agravamento e morte.
“O que pudemos fazer, enquanto governo, foi oferecer condições para identificar a doença, oferecer o tratamento adequado e tomar medidas para reduzir a proliferação do mosquito em áreas públicas. O restante cabia ao o próprio morador”, afirma o superintendente da Região Centro-Sul da Saúde, Ronan Batista Garcia. Segundo ele, no caso da dengue (da zika e chikungunhya, também transmitidas pelo mosquito), a reação é de maior responsabilidade da população porque a maioria absoluta dos focos foi identificada dentro das casas.
Tenda desmontada
Com a redução drástica dos casos de dengue no DF, o governo está desativando as tendas de acolhimento e hidratação, entre elas a do Guará, que estava instalada no estacionamento na UBS 1, ao lado do Hospital Regional. A partir de agora, quem apresentar sintomas de dengue – como febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores no corpo e nas articulações, náuseas, vômitos e manchas vermelhas na pele – deve procurar Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima caso sintomas de dengue apareçam.
As 11 tendas instaladas em abril em várias regiões do DF realizaram mais de 50 mil atendimentos, de acordo com a Secretaria de Saúde. Elas tiverem como objetivo aumentar o acesso da população ao atendimento médico durante a epidemia de dengue e aliviar a demanda de outras unidades da rede de saúde. Além disso, elas foram posicionadas próximas a hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), como uma estratégia para garantir um atendimento mais rápido e eficiente aos pacientes sintomáticos da dengue.