O morador do Guará tem um motivo a mais para torcer pela seleção brasileira de futebol feminino na disputa pela medalha de ouro contra os Estados Unidos neste sábado, às 12h: torcer por Gabi Portilho, que tem sido o grande destaque do time canarinho, depois deter feito o gol da classificação às quartas de final contra a França e o gol da virada da semifinal contra a Espanha, nesta terça-feira, 6 de julho. Além dos gols decisivos, Gabi tem se revelado a principal liderança do time brasileiro na Olimpíada, não apenas pela idade, mas também pelo temperamento agregador e fibrante, que tem contagiado suas companheiras na França. Ela passa a ser a grande esperança do Brasil para a conquista da inédita medalha de ouro das Olimpíadas.
Aos 29 anos, Gabi, que nasceu e morou no Guará até aos 14 anos, quando saiu para buscar o sucesso no futebol, está disputando sua primeira Olimpíada, levada pelo técnico Arthur Elias, que a dirigiu no Corinthians por quatro temporadas, após terem sido bicampeões pela Libertadores da América, tricampeões da Supercopa do Brasil, tetracampeões brasileiros, tricampeões paulista e campeões da Copa Paulista. Antes de chegar ao Corinthians, ela defendeu o 3B da Amazônia, onde também foi campeã estadual, em 2019.
Embora esteja se destacando internacionalmente aos 29 anos, Gabrielle Jordão Portilho tem seguido uma trajetória de sucesso no futebol brasileiro, principalmente nesses últimos quatro anos como principal jogadora do Corinthians, o melhor time do País no futebol feminino atualmente. Esse destaque rendeu a ela a primeira convocação para a seleção brasileira com a ex-técnica Pia Sundhage no passado e depois passou a ser uma das preferidas do novo técnico canarinho Arthur Elias. Mas, a camisa da seleção brasileira não é novidade para a craque guaraense. Ela já defendeu as seleções sub-17, no Mundial do Azerbaijão, em 2012, e sub-20, em 2014. Em 2017, foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira principal, mas foi cortada por causa de uma lesão no joelho.
Gosto pelo futebol desde criança
Filha do “peladeiro” (quem joga futebol apenas por prazer) Sued Portilho, conhecido como “Ratinho” nas peladas de infância e adolescência no Guará, Gabi começou a chamar a atenção pelo amor ao futebol aos sete anos de idade, quando morava com a mãe na QE 34, depois que os pais se separaram. “Ela gostava de jogar na rua com os meninos. E não adiantava tentar fazê-la desistir”, conta a mãe Verônica, que mora na QI 9 do Guará I numa casa presenteada pela filha. “Nos finais de semana, ela vinha pra minha casa, em Vicente Pires, e a diversão dela era jogar futebol com os meninos, no condomínio”, completa o pai, Sued Portilho.
Incentivada pelo pai, que viu potencial nela, Gabi passou a ser convidada para jogar em outros locais do DF. Descoberta por um olheiro que a viu jogar futsal (futebol de salão) no Caic de Ceilândia, ela ganhou uma bolsa de estudos para estudar no Colégio Notre Dame (Asa Sul), e jogar no time da escola. Lá, ela foi descoberta por outro olheiro e levada para jogar em times de futsal de Santa Catarina, onde foi convocada para as seleções Sub 17 e Sub 20 do estado, e em 2013 foi parar no Kindermann, um time empresa da cidade de Caçador (SC), que disputa o Campeonato Brasileiro, série A1, onde foi vice-campeã brasileira em 2014, já no futebol de campo.
Gabi passou ainda pelo São José (SP), Osasco (SP) e 3 B (Amazonas) e jogou no Real Madrid (Espanha) de 2015 a 2017, mas a contusão no joelho a retirou dos campos e da seleção brasileira e provocou seu retorno ao Brasil. Persistente na busca pelo sonho e pelo amor ao futebol, ela passou por um duro tratamento até retornar aos gramados.
Orgulho da família
Grande incentivador da carreira da filha, Sued Portilho é o depositário de todas premiações recebidas por Gabi. “Criei na minha casa (em Vicente Pires) uma sala onde guardo camisas, medalhas e troféus individuais que ela ganha e traz para eu guardar. É um tesouro que mantenho com o maior cuidado e que espero que será enriquecido com a medalha de ouro das Olimpíadas de Paris”, diz o orgulhoso pai.
“Essa final na Olimpíada representa tanto pra ela quanto pra a família. É a realização de um sonho. Ninguém imaginou que aquela menininha que saiu de casa com 15 anos hoje estaria em Paris, na final das Olimpíadas. Isso é demais! Ela é o orgulho da família, ela é muito dedicada, ela representa muita coisa”, diz Grazielli, irmã de Gabi.
Gabi Portílio e família
A mãe, Verônica Jordão, dona de uma loja no Polo de Moda, e as irmãs Grazielle, Mariana, Geovana e Melissa transformam a casa da família no Guará I num mini estádio para assistir com outros familiares e amigos os jogos de Gabi. E a performance da jogadora tem arrancado, claro, gritos e choro de emoção a cada gol e jogada da filha famosa. “Aqui é um desespero, todo mundo em pé, uma sobe na cama, a outra em pé no sofá. Todo mundo chorando por ela”, afirma a advogada e irmã mais velha, Grazielle.
“A gente tinha o sonho de vê-la disputar a medalha. Agora, não esperava que elas iam passar para a semifinal com o placar 1 x 0 e o gol ainda ser dela. Quando aconteceu, todo mundo chorou”, lembra Grazielle.