A rapidez da Internet e interação das redes sociais evitou que se repetisse aqui, com as devidas proporções, o que aconteceu em São Paulo, quando uma escola infantil foi vítima de fake News e provocou danos irreparáveis à sua reputação por causa da cobertura precipitada da imprensa e da conduta da polícia. Mesmo depois dos proprietários inocentados e provado que era uma mentira, a escola não teve mais condições de ser reaberta. Não tão grave como aconteceu com o caso conhecido como “Escola Base”, uma “denúncia” de uma professora de que a Escola Classe 3, na QE 42, que atende alunos da Estrutural mesmo no Guará, teria montado uma “salinha de emoções” toda vez que uma criança se comportava mal, viralizou em alguns grupos de WhatsApp da cidade em poucas horas da sexta-feira passada, 27 de agosto, mas foi logo estancada depois de provada que era uma mentira e uma vingança de uma professora afastada da escola.
A tal denúncia, que chegou a ser endossada por alguns pais de alunos da escola, foi publicada pelo site Metrópoles um dia depois que o Jornal do Guará publicou uma reportagem mostrando exatamente o contrário, que a sala, descrita pelos denunciantes como “escura e com luz de boate”, é na verdade uma uma sala multissensorial, criada para acolhimento de alunos com espectro autista em momentos de crise, ou “desequilíbrio”.
A circulação da reportagem do site, que ouviu apenas a professora que havia sido dispensada, viralizava com rapidez, até que uma carta assinada por todos os professores da escola, outra da Associação dos Diretores e ex-Diretoras das Escolas Públicas da Secretaria de Educação do DF (ADEEP) e mais uma do Sindicato dos Professores das Escolas Públicas do DF (Sinpro/DF) desmentindo a “denúncia”, obrigou o próprio Metrópoles a publicar outra reportagem com informações verdadeiras e cessando a viralização da mentira. Acionadas pela denunciante, a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal foram à escola e comprovaram que não era nada daquilo que estava sendo denunciado como “grave”.
“Nos espanta e entristece a notícia de que, ao longo de seis meses, estaríamos compactuando com práticas inaceitáveis e de violência contra nossas crianças. Rejeitamos veementemente essa acusação. Somos profissionais capacitados, comprometidos com a formação ética e educacional de nossos alunos, e sempre buscamos as melhores práticas pedagógicas, respaldadas por evidências científicas e alinhadas com as diretrizes educacionais vigentes”, diz um trecho da carta aberta dos professores da Escola Classe 3. “Em um grupo composto por quase 50 profissionais dedicados, fica difícil acreditar que, diante de uma situação tão grave como a descrita na reportagem, nenhum de nós teria levantado a voz ou tomado providências. Essa acusação não só fere nossa honra, mas também desrespeita toda a nossa trajetória como educadores, muitos dos quais têm quase 30 anos de experiência e dedicação à formação de nossos alunos. A reportagem ignora nossa história de compromisso e profissionalismo, e isso é algo que não podemos aceitar passivamente. Em tempos onde a informação circula rapidamente, é fundamental que todos nós tenhamos responsabilidade ao julgar e divulgar qualquer fato. Dizer que uma escola usa uma “salinha de emoções” como forma de castigo para os alunos, uma alegação grave que merece ser tratada com a seriedade que lhe cabe. No entanto, é crucial que tais denúncias sejam apuradas com rigor e imparcialidade antes de serem divulgadas, pois qualquer julgamento precipitado pode prejudicar não apenas a reputação da instituição, mas também a vida de todos os envolvidos”.
Tudo regular
Na sua carta aberta, a associação dos diretores afirma que a salinha das emoções “foi legitimada pela Comunidade Escolar, que aprovou nas últimas eleições o Plano de Ação dessa Gestão, após ter sido observado no ano letivo de 2023 que faltava um espaço adequado para o acolhimento das crianças e funcionários. “Importante ressaltar que a criança com espectro autista no seu momento de desregulação necessita de um espaço que garanta a integridade física da mesma, que seja silencioso, sem estímulos visuais/auditivos para seu reequilíbrio e devendo voltar para as suas atividades em sala com seus colegas assim que possível”, diz a nota da associação.
Em nota, a Secretaria de Educação informou que a sala da EC 3 “faz parte do Projeto Público-Pedagógico da escola e foi projetada especificamente para apoiar alunos, especialmente aqueles com Transtorno de Espectro Autista (TEWA) em momentos de desregulação emocional”.
Na “denúncia” protocolada na 4ª Delegacia de Polícia do Guará, a professora temporária demitida Nazaré Mesquita, que já havia também sido dispensada do Centro de Ensino Especial (QI 20 do Guará I), procurou um advogado para iniciar um processo cível contra a escola e passou a relatar a situação sofrida pelos estudantes. No seu relato à polícia, a professora descreveu a “sala das emoções”. Depois de também comprovar que a sala de emoções era regular, a 4ª DP encerrou o caso, como fez o Ministério Público.
Acionado, o Conselho Tutelar da Estrutural também nada encontrou de irregular. “Expresso meu total apoio à equipe de profissionais da EC 3, frente à injusta e equivocada reportagem publicada pelo site. Por diversas vezes, estive pessoalmente na escola e sou testemunha das inúmeras preocupações da diretora com a segurança das crianças, sempre priorizando um ambiente saudável e acolhedor”, postou a conselheira tutelar Irene da Silva.